quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

PRORROGAÇÃO DE 2009

Estou me sentindo aos 44 do segundo tempo de uma partida de futebol. Alguns já estão nos pênaltis. Ofegante, 2009 está nos últimos suspiros e eu fazendo figa para a nova década chegar com um leque de possibilidades. Planejei muitas coisas para 2010, mas sinto que esqueci de lembrar que 2009 ainda não acabou, pode ser vivido até a 31 de Dezembro, às 23h59. O presente não é o ensaio do amanhã.

Parece que temos mania de estabelecer alguns marcos, tipo: “Na semana que vem eu entro na academia”. E porque não hoje? “No próximo final de semana vou fazer aquela reciclagem no meu guarda-roupa”. E porque não agora? “No meu próximo relacionamento serei menos exigente”. E porque não nesse?

Passamos o mês inteiro em contagem regressiva para recebermos logo o salário e resolvermos algumas questões. Dormimos tarde para aproveitar um pouco mais do tempo, temos insônia, comemos por ansiedade, sonhamos com o trabalho do dia seguinte, insistimos em correr contra o relógio, só sorrimos depois de um objetivo alcançado e empurramos a parte boa da vida para depois.

Quem disse que a parte gostosa da vida só pode ser saboreada ao amadurecer da idade? Muitos que deixaram a parte principal da refeição para comer por último tiveram o prato levado pelo garçom e não acharam o caminho da cozinha. Podemos inverter a ordem estabelecida. Afinal, quem disse que tinha que ser assim?

Acorde para a vida antes de dormir. Descanse a mente antes de acordar. Se delicie com a sobremesa e depois engula com feijão e arroz. Seja feliz agora, porque o amanhã não precisa ser triste. Não existe ensaio para viver, cada minuto é a sua apresentação no palco principal da vida.

E a platéia? Se as verdadeiras obras de arte precisassem de alguém para existir, em todo raiar do dia o mundo estaria de pé e não dormindo. Não fique aí parado esperando 2009 acabar para você ser feliz. Seja agora. Olhe ao seu redor e veja quantas pessoas estão à espera de um sorriso seu. Feliz e próspero 2010.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

HO HO HO

Não lembro de uma época da vida em que gostei do Natal. Sempre achei uma hipocrisia as pessoas trocarem farpas por 12 meses e no final do ano uma bolha de sentimentalismo explode e contamina repentinamente todos os corações. É como um vírus que se espalha no piscar de olhos. Olhou, pegou. Onde está a OMS nessas horas?

Meu vizinho abaixa a cabeça ou demora mais tempo fechando a porta para não me desejar bom dia. Aquele colega de trabalho vive buscando um deslize seu para aplicar a rasteira e sentar na sua cadeira. A “amiga” que só te liga quando precisa, deixa um recado enorme no orkut com todos dizeres clichês possíveis. No dia 25, várias pessoas que não dão tchau para não abrirem as mãos saem às ruas para distribuir agasalho e sopa aos menos providos de bens materiais.

Como num ritual coletivo e permitido de magia vermelha – a cor do amor - o tal do espírito natalino toma conta das pessoas sem pedir licença. É uma pandemia que se espalha em escala geométrica, todos ficam bons, sorridentes e cheios de amor para dar.

Este ano muitas coisas aconteceram e eu passei a acreditar em Papai Noel, inclusive quero pedir que ele emita uma ordem de prisão para este “espírito”, que se manifesta sob sua presença, para que a gente possa usá-lo o ano inteiro e não apenas no Natal.

O problema que vejo nessa frágil amabilidade é que ela tem data marcada para chegar e ir embora. Porque não ficamos felizes e bonzinhos 365 dias do ano? – Tá! vai lá e tira uns 60 dias de TPM que isso aí justifica qualquer desejo e realização de maldade.

Não gostava do Natal justamente pela hipocrisia que eu enxergava em tanta bondade gratuita. Mas eu também era hipócrita e percebi que posso ser melhor. Todos podemos. Assim como o estresse e o nervosismo contaminam, podemos ceder mais para a bondade e a caridade. Ser bom não é refletir a idiotice – não é porque é Natal que eu fiquei retardada, tá? Falo de enxergar o próximo como alguém que sente tudo como nós, que merece ser respeitado no que tem de diferente e precisa de uma chance para mostrar quem é, mesmo não seja quem nós queremos que ele seja.

Pela primeira vez na vida estou feliz com a chegada do natal. Não sei por quê. Só espero que um dia não fique triste por não tê-lo aproveitado antes. Não te desejo um “Feliz Natal” mas uma feliz vida.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

AVATAR

Esse final de semana vi o filme Avatar. Os 170 minutos de reclusão só valem se forem usufruídos em 3D. Valeu tanto que vi duas vezes em dois dias. É óbvio que os telespectadores médios vão amar história de amor, que, diga-se de passagem já foi vista em centenas de outros filmes.

Um estranho que se infiltra em um determinado grupo para colher informações acaba se apaixonando por uma mulher que o faz mudar de opinião em relação às pessoas que antes eram inimigas. Ao ser desmascarado, ele se arrepende e tenta corrigir o erro para não perder os amigos e a mulher amada. Ponto.

Se Avatar fosse só isso não mereceria nem uma piscadela de olhos de atenção, mas o longa alimenta várias discussões e muito mais pontos positivos a serem analisados.

Ele é um marco na forma de se fazer, captar e projetar cinema, o que é característica de James Cameron. Ou alguém já se esqueceu que ele construiu uma réplica quase perfeita do navio Titanic nos estúdios da FOX para fazer as tomadas necessárias ao filme? Esse é o cara que gosta de coisas grandes.

Em Avatar, o primeiro chamariz é que se trata do filme mais caro de toda a história do cinema. Foram gastos, aproximadamente, U$$ 400 milhões de dólares. Juro que me perguntei como esse cara conseguiu gastar tanto dinheiro para fazer um filme. Só sei que é muito por que não tenho nem noção de quanta grana é. Fui pesquisar e vi que valeu cada centavo gasto, até porque deve render mais que o dobro em bilheteria. Se só eu já vi duas vezes...

Tudo fascina. O planeta Pandora, em que os humanos tentam extrair uma nova e cara fonte de energia, mais parece uma viagem de ácido. Toda a fauna e a flora são exuberantes, mas não existem além das telas. Com cara de floresta tropical, as plantas reluzem cores vivas, biofluorescentes e, o mais fascinante, é que você fica na dúvida se aquilo é real ou uma arte gráfica. À exceção dos atores e cenário humano, tudo em Avatar é desenho feito no computador. Mas não é uma arte aleatória. Biólogos e botânicos foram contratados para ajudar na criação e catalogação dos desenhos dessas plantas e animais. Se a atmosfera de Pandora existisse, provavelmente ela seria daquele jeito.

Essa cena da foto dá vertigem de ver quando é filmada de cima. Mas a sensação é proposital e controlada pelo diretor. Digo isso porque, antigamente, os filmes não conseguiam ter cenas muito longas em 3D, pois o tipo de lente usada nas câmeras causava tontura e dores de cabeça em algumas pessoas na hora da projeção. No entanto, para garantir que Avatar pudesse ser todo visto em 3D, a Sony financiou uma pesquisa para Cameron desenvolver novos tipos de câmeras que possibilitassem sua obra de ficção de 170 minutos ser toda projetada sem que ninguém saísse no meio passando mal. O melhor de tudo, e mais difícil, é que humanos estão nessas cenas em 3D.

Falamos em termos de cenário do filme. Mas e os personagens? O que mais vemos são animações em 3D que o desenho e a textura da pele são muito boas, mas a fisiologia do movimento não reproduz com fidelidade os traços humanos. Quem viu “Os fantasmas de Scrooge” sabe do que falo. Em Avatar parece que os personagens são humanos fantasiados, tamanha é a perfeição da variação de detalhes do que foi transposto para a tela. Pelo que entendi, 140 câmeras foram usadas simultaneamente para captar os movimentos de cada ator. É que esses movimentos corporais precisavam ser registrados com o máximo de precisão para que os animadores pudessem construir as imagens dos avatares.
No cinema convencional, o posicionamento e o movimento da câmera vão determinar tudo sobre a cena. Ângulo aberto, fechado, plano detalhe, mudança do foco, imagens aéreas, quantidade de luz que entra, por onde entra, o que ilumina. Em 3D existem todas as possibilidades de exploração da cena, o que mostra a competência do diretor de fotografia ao escolher os melhores planos para cada cena.

A linguagem dos nativos de Pandora, os humanóides gigantes (Na’vi), pasmem, foi criada. Se você quiser falar aquela língua basta procurar os fonoaudiólogos e lingüistas da USC - Universidade da Califórnia do Sul - e pedir o manual da gramática, sintaxe, morfologia deles. Isso foi criado e custou muita grana.

Se eu for ficar aqui falando em como o cara gastou os milhões de dólares que captou vou precisar de muito mais pesquisa e texto. Mas, além da exuberância visual, a história tem algumas sutilezas que me fizeram refletir.

Assim como no nosso mundo, em Pandora existe uma ligação física e espiritual entre a população e natureza. Eles fazem parte de um ecossistema, têm consciência de seus papéis e mantém uma forma de comunicação com os espíritos através das árvores. Pandora é a riqueza que os Na’vi têm e, assim como no mundo real, os humanos destroem tudo que tocam. O comportamento do exército é igualzinho ao que fizeram durante a colonização portuguesa e espanhola nas Américas. A ação humana é devastadora.

Uma das formas de saudação carinhosa entre os Na’vi é a frase “Eu vejo você”. Não é no sentido real da frase, mas figurado. Quando alguém diz que te vê é porque ela sabe que tipo de sentimento você carrega dentro de si, é porque te entende, está com você. Sabendo que sentimento alguém têm é que você sabe quem é aquela pessoa. Baseado nessa frase, o diretor encomendou um trilha sonora especialmente para o filme, “I See You”.

Agora dá para ter uma noção de como James Cameron gastou tanto dinheiro. Foi a melhor obra de ficção que já vi. Não em termos do que é contado, mas em como foi contado. Com certeza não é a melhor história que você já viu, mas certamente você nunca viu tanta tecnologia e inovação nas telas do cinema. Ele, mais uma vez, está à frente do seus, isso sem levar em consideração que Avatar foi concebido em 1995 e não foi rodado por falta de aparatos tecnológicos. Vou ficar aguardando um novo recorde de estatuetas, mas você só vai ter idéia do que estou falando depois que ver Avatar em 3D. E volte aqui para me contar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

TEMPO BOM PRA SER FELIZ

Agora, deitada na cama, ainda sem sono, o coração continua a pulsar freneticamente. Neste momento mais lento, mas foi, durante toda uma noite, tomado por batidas semelhantes à de uma pessoa que correu demais e repentinamente parou, alternadas com a sensação explosiva de um susto que nunca acaba. Não. Realmente, eu não queria que parasse. Não era ruim. Ao contrário: era uma sensação de prazeres diversos contidos num largo sorriso. Sendo mais sensata: em gargalhadas.

Existem momentos em que a linguagem verbal, com todas suas letras, números e símbolos, não consegue dar conta de exprimir tudo que se sente. Até porque o que sentimos não é algo que se consiga registrar. Basta fechar os olhos e se deixar levar. Essa alegria efêmera nos faz querer coisas que, no dia a dia, não seriam tão queridas. Somente a cumplicidade do olhar brilhante de quem está sentindo a mesma coisa pode entender. Centenas de coisas são ditas sem precisar que sol, dó, ré ou mi sejam postos ao vento. Não precisa declarar nada. Tudo que foi pensado, foi entendido e bem registrado.

Apenas o barulho dos pés da multidão, que pulava freneticamente ao som de alguma banda, comprovava que não estávamos sós, afinal, tínhamos mais de 10 mil pessoas ao redor. Esse universo era paralelo.

Em alguns momentos alguém aperta o botão do “FF” e o mundo alcança uma velocidade quase frenética, que nos faz ver o redor em “slow motion”. Nestas ocasiões, quando as coisas aceleram demais não dá simplesmente para descer na próxima estação ou pedir o ponto e fugir. “Pára que está rápido demais!”. Não é assim que a vida funciona. Temos que ir até o fim para ver no que vai dar, aproveitar cada canção, que provoca um resquício de sensação, olhar para o alto e perceber o quanto ele está estrelado, contar as estrela cadentes que chovem no céu, ouvir o barulho das árvores, deixar o calafrio bater e saber que ele vai passar. O pior: vou sentir saudade. Mas tem problema não. Assim é o verão da Bahia. O bom é que ele está apenas começando.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

SOBRE A AUTORA

Fui presenteada com um meme pelo blog Pink Bom Elisa. Amiga, passei horas para conseguir criar esse hiperlink, mas valeu a pena, né? Como a proposta é falar um pouco sobre si, falarei, mas em formato de texto. Espero que gostem. Tenho muita curiosidade para saber mais sobre muitos de vocês, portanto vão lá no blog de Elisa, peguem o questionário, publiquem e me avisem. Será um imenso prazer saber mais sobre quem eu leio e quem me lê.

Lendo minha certidão de nascimento percebo que eu sou uma brasileira com características médias. Cabelos e olhos castanhos, madeixas crespas e cacheadas, pele clara. Aos 15 anos cheguei ao que foi minha estatura eterna, 1,74m, e peso médio, ao longo da vida, 55kg. Nunca consegui engordar, embora tenha desejado e tentado isso por muitos anos. Cheguei a tomar remédio para ganhar uma carninha, mas parece que só fortaleceu meus ossos. Nem um quilo a mais. Enquanto eu queria ser "gostosona", minhas amigas desejavam ter minha estatura e elegância.


Muito desenvolvida para a idade, sempre preferi vestir roupas pretas que mesclasse o preto e o branco. Hoje, 15 anos mais experiente, amo brincar com as cores do verão nas roupas e sapatilhas, mas ainda tenho resistência ao rosa e laranja.


De um tempo para cá descobri que é bom ser magra. Só é uma pena que passei parte de uma vida tentando ser algo que minha natureza não me permite. Descobri que posso usar praticamente tudo: roupa justa, larga, jeans, moleton, as curtas, longas. Assim como a amiga que me indicou o meme, dependendo da ocasião, uso o que for mais indicado, inclusive uma combinação que achei horrível durante anos: salto alto com shorts ou sandália rasteira com jeans.
Os homens, aqueles a quem arrisco desviar meu olhar, têm que ter estilo próprio. Seja tênis ou sapato, bermuda ou calça social, mas tem que gostar de cinema, ver todos os gêneros e tolerar os de arte e culturais. Ele não precisa gostar de dançar para me acompanhar nas batidas eletrônicas, mas vai me fazer ficar muito apaixonada se, mesmo pagando mico, me tirar para dançar uma música lenta.

Lá em casa somos 3 irmãos de sangue e mais 3 adotivos. Nenhum de nós tem aptidão para a música. Não percebemos a diferença entre um "dó" e um "mi". Cozinha? Não gosto dessa parte da casa, mas sei preparar meu prato predileto: sopa. Nasci gente por um erro genético, pois tenho certeza que meu DNA é de formiga, tamanha é minha paixão por doces. Chocolate serve qualquer um, mas prefiro o branco.

Sou uma pessoa saudosista. Sinto saudade do cheiro da melancia que meu pai abria aos domingos, depois de a família retornar da praia. Ainda hoje chupo melancia e fecho os olhos para ter a mesma sensação de segurança que tinha quando estávamos todos reunidos à mesa. Acho o inverno triste, mas gostoso de sentir, de ler, de dormir, romântico. O verão é a estação do calor, da praia, das festas, do beijo, da alegria vazia. Gosto da solidão do dia frio, mas me amarro no frenesi da multidão carnavalesca da madrugada quente. Sorvete no verão e pipoca no cinema do inverno. Cada coisa no seu tempo. Uma das vontades é conseguir me libertar do vício da Coca-cola. Suco? Só da fruta e, de prefrerência, de cajá.

Sou cinéfila. Gosto de ver qualquer tipo de filme, uns em casa outros só no telão. Depende do sabor e tempo de cada um. Almodóvar sempre. Já fui mais durona, mas choro nos filmes quando vejo cenas envolvendo família e a perda de alguém querido.

Não lembro exatamente da ordem, mas a primeira pessoa que seguiu meu blog foi minha prima Grace. Mas blogueiro mesmo eu acho que foi a Isa, do Pimenta na língua. Por onde anda você, moça? Dos blogs que eu acompanho conheço minha irmã, a Alê, Clau, Geovana e mais algumas pessoas. Mesmo à distância, sinto que conheço cada um de vocês, pelo teor do texto, rispidez ou leveza na combinação das palavras. Que more na minha cidade tem o Tiago e todos que conheço, mas ele anda sumido que nem sei se está vivo ou morto. Espero que esteja tudo bem...

Se eu ganhasse na mega? Eu não faria somente 10 coisas... rsrsrsrs... Mas não iria deixar mais minha mãe trabalhar, ia comprar um village para que minha família morasse toda junta, fazer um tour pelo mundo - contratando um guia especial para conhecer a Palestina. Mas, que fique bem claro, não tenho a pretensão de ficar rica dia algum de minha vida, pois acredito que dinheiro que vem muto fácil torna a pessoa fútil e acredito menos ainda em alguém que enriqueça pelo trabalho honesto. Portanto, o quero é o que o dinheiro não compra, como saúde e felicidade para todos os que amo, mas ele pode ajudar a melhorar algumas coisas, né?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

MUDANÇA DE TEMPO

Pense num bicho altamente perigoso que consegue transbordar sensualidade, violência e imprevisibilidade. Pensou? A resposta correta é MULHER DE TPM.

Quando abre o olho, a primeira coisa que vê é uma teia de aranha voando. A diarista esqueceu de tirar. “Féladumaégua”. Calma. Essa é apenas a primeira, de uma série, de delicadezas que serão proferidas ao longo do dia.

Depois de pegar a vassoura para fazer o serviço e arranhar a parede, levanta e vai para o banheiro enfrentar o maior inimigo: o espelho. Porque os hormônios deixam a visão além do alcance? Na primeira piscadela de olhos para tirar as remelas, os pêlos da sobrancelha apontam, o buço parece o de Charles Chaplin, os poros um vulcão em erupção e uma linha de expressão na testa que lembra o meridiano de Greenwich saltam do mapa da cara.

Sentada, percebe que alguém com mal de Parkinson no pinto respingou xixi na borda vaso, que o papel higiênico acabou, não foi reposto, esqueceu a toalha na área de serviço e o sabão derreteu na água desde o último banho. Ah! O creme dental foi apertado ao meio como um aplicador de glacê. Fecha os olhos. Respira. Sai e pega tudo para que o banho possa acontecer. Algo mais errado tão cedo? É melhor não duvidar.

Ainda bem que dá tempo chegar no trabalho e encontrar uma vaga no estacionamento. Inspira. Expira. Pensa. Hora de bater o ponto. Tudo vai dar certo.

Bom dia pra os coleguinhas e senta rápido na mesa para evitar conversas desagradáveis. A pauta cai, a fita embola, depois parte, a bateria do celular acaba, o sinal da Internet está fraco, aquela atriz chata que você é obrigada a aturar não entende porque a pauta caiu e um colega feliz diz que sua roupa está linda. Que bom! Alguma coisa boa tinha que acontecer. Faz cara de louca, silêncio geral, corre para o banheiro, se tranca e chora, chora, chora até desidratar. Bebe água e volta para a mesa.

Nessa altura do dia todo mundo já percebeu o auge da TPM e banaliza as reações. A vontade de se transformar numa ré primária ganha força, mas é melhor gastar essa oportunidade numa outra ocasião.

O tic-tac do relógio está em câmera lenta e o único desejo é que esse dia acabe logo. O bom mesmo é quando a gente deita na cama, respira e percebe que esse dia não foi diferente dos outros, apenas mudou de cor.