Penso, logo brigo
terça-feira, 8 de junho de 2010
DÁ UMA MÃOZINHA, SANTO?
“Você sobe aquela ladeira e vira à esquerda. Quando entrar na rua você desce a ladeira toda e pega uma rua subindo à direta. Quando vir um prédio azul, à esquerda, no meio da ladeira, você entra na rua ao lado dele. Minha casa fica no final dessa subida”.
Ouvir essa descrição de endereço é mais que comum numa cidade com mais de cem ladeiras como Salvador. Sobe-se a Ladeira da Montanha para descer pelo Elevador Lacerda. Você pode escolher morar na Cidade Alta ou na Cidade Baixa. Não importa. Vindo a Salvador, você terá de subir e descer várias ladeiras. É a ladeira da Barra, dos Galés, do Campo Santo, do Acupe, Ladeira da Colina Sagrada, do Boqueirão, dos Aflitos, da Castro Alves, da Misericódia, da Barroquinha, do Taboão... E por aí vai. Se pra baixo todo santo ajuda, para subir algumas vocês vão precisar de mais que um empurrãozinho.
Este final de semana, meu sobrinho reclamou com a mãe que é o único aluno da turma que usa transporte escolar. Ele quer ser independente como os outros que vão a pé. O comentário me fez lembrar do tempo em que sofria com esse terreno desnivelado da cidade. Para chegar na civilização, eu precisava subir – andando - uns 300m de ladeira. Como estudava à tarde, saía de casa depois do almoço de baixo de um sol escaldante. Barriga cheia, sol e ladeira. Ô como eu reclamava!!! Dava vontade de subir por etapas, parar no meio e acampar, mas se parasse um segundo para respirar meu pé cozinhava no chão.
Se para quem está a pé é uma tortura, para os que estão aprendendo a dirigir as ladeiras não boas aliadas. Meu trabalho fica no bairro mais alto da cidade. Se durante as chuvas não corro o risco de ficar alagada no alto, no início, eu tremia na base quando saía de casa para ir para a senzala. Só para vocês terem ideia, já perto da empresa preciso subir uma curva enladeirada e bem fechada à direita, no final pego outra ladeirinha à direita e me preparo psicologicamente para o terror dos aspirantes a motoristas. É uma ladeira muuuuuuito íngreme, que em qualquer hora do dia ou da noite está congestionada e, para melhorar, tem entrada e saída de veículos ao meio dela.
Ali, na minha primeira vez, deixei o carro morrer umas dez vezes. Pelo retrovisor dava para visualizar o estrago da minha inexperiência e pelo barulho das buzinas sentir o humor dos outros motoristas. Uma vez estava com o possante cheio de amigos acima do peso. Não bastasse ter deixado o carro morrer, ainda deixei descer um pouco. Quando vi o farol do ônibus crescendo no meu retrovisor puxei o freio de mão e tirei o pé da embreagem. É melhor o carro morrer e parar que ficar ligado, descendo e bater no de trás. O álibi de que quem bate no fundo está errado não se aplicaria a mim nesta situação. O fundo batendo era o meu.
Foi difícil, mas aprendi a segurar o carro equilibrando o pedal do acelerador e da embreagem. Aliás, se tem alguém de Brasília lendo esse blog me conte um segredo: Vocês precisam fazer meia embreagem? É sério... Cidade completamente plana, a capital do país me deu uma tranqüilidade nesse sentido. Tudo é nivelado. Não fossem os prédios seria possível desenhar a linha do horizonte.
Quem diz que baiano é preguiçoso é porque nunca subiu uma ladeira de Salvador à pé. Se quiser me rotular assim não me importarei, mas quero ver quem vai ser desses falaciosos que não vai parar no “pé da ladeira”, ao meio-dia, e olhar para cima como se ela fosse infinita. Só de pensar dá preguiça.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
NINGUÉM PÁRA NESSA PORRA
Quando não tinha carro, achava que teria uma vida melhor quando o tivesse. Estudei no bairro mais boêmio do qual tenho notícias: o Rio Vermelho. O pôr do sol visto de lá é perfeito, mas não quando se está em pé no ponto de ônibus há duas horas. Um dia chorei e não foi de emoção por presenciar o horizonte ficar lilás. Míope e vaidosa que sou, não usava os óculos gigantes que minha mãe me impôs, e, depois de horas caminhando junto com a sombra do poste, só percebi que o coletivo que se despedia era o meu quando notei a quantidade de letras fugindo de mim. O que fazer? Sentar e chorar não dava, era rua. Chorei em pé.
No dia em que peguei meu 1.0 na concessionária, pensei: “Enfim, comprei meu direito de ir e vir”. Realmente, posso escolher se ir ou vir pelos congestionamentos que eu quiser na cidade. Antes eu ia ao cinema duas ou três vezes por semana, agora a quantidade continua a mesma, mas a periodicidade é mensal.
De uns tempos para cá, eu passei a vir para casa, deitar e ver um filme no DVD ou um seriado de TV. Para ficar perto do trabalho – e por várias outras circunstâncias – mudei-me praticamente para o lado da senzala. De carro, mesmo no congestionamento mais violento, não gasto 15 minutos entre o fechar a porta e bater meu ponto. Mas como o destino é cruel, descobri que moro no ponto de ônibus.
Relaxem. Não virei moradora de rua. É que resido no meio de uma ladeira fuderosa e que bem em frente às minhas janelas tem a entrada de um bairro movimentadíssimo. Sabe o que acontece quando os carros, ônibus, caminhões e motos querem entrar nesse bairro? Eles têm que parar – no meio da ladeira – e pedir passagem aos motoristas educados na pista oposta. Ou seja: ninguém pára nessa porra e todos os veículos fazem meia embreagem na porta do meu ouvido!!!!
Sempre brinco dizendo que se eu levantar a mão na janela o motorista pára para mim.
Passei a odiar a vida na cidade. Quero sombra e água fresca. Lá, nos “Canfundó do Judas” – cidade imaginária que, se existir, deve ser beeeeem longe –, já deve ter Internet e eu posso baixar todos os filmes, saber de todas as news em tempo real e ainda posso vir duas vezes no mês comprar meu “Victória's Secret”, pois também tenho o direito de ser uma roceira cheirosinha.
A dificuldade agora é que viver bem no meio do mato exige muitos zeros à direita na conta bancária, o que me obriga a viver na cidade por mais uns 100 anos até juntar o necessário para montar minha rede em baixo de uma árvore.
terça-feira, 18 de maio de 2010
VOZ DO ALÉM
Trabalhei mais que burro em engenho de açúcar e continuei me sentindo um cacto em meio a um jardim florido com rosas vermelhas. À noite, ao cruzar a porta de casa, deparei- me com um computador, em cima do sofá, a observar-me com um certo ar de reprovação. Abri a tela e logo entendi o motivo de minha aflição. Minha pasta de “TEXTOS BLOG”.
Estou me sentindo uma mãe que abandonou a própria cria ao vento. Meu cantinho completou 1 aninho de um monólogo de pensamentos e brigas faz quase um mês e eu não reservei um tempinho pra vir aqui.
Na verdade, acredito que, agora, um dos meu “eus” foi descansar e esse outro “eu” acordou com a ponta dos dedos coçando. Solução? Escrever. Cá estou e não pretendo parar.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
DE VOLTA À VIDA
Mas dá para contar alguns acontecidos que esquentaram meu verão e prepará-los para os próximos posts: saltei de bungee jump (até hoje estou tremendo), conheci alguém que temperou minha vida (e nem precisou de Sazon), arrombaram meu carro (depois dos sonhos de uma noite de verão), levaram vários trecos (inclusive meu tênis falsificado e estou sem malhar, o meliante deve ter me xingado toda), além do som (óbvio que a anta que vos escreve deixava tudo prontinho para facilitar a vida do ladrão, inclusive a capa do som), no caminho do conserto do vidro quebrado um equino, dotado de testosterona e uma barriga suspensa pela polchete, bateu na traseira, com o trânsito parado, e me jogou numa Eco Sport, que não teve nem um arranhão (mas estragou meu capô e tinha um caduco dirigindo insistindo que fui eu quem bati no fundo dele), ganhei uma cartela de vale night para curtir o carnaval atrás de Ivete, Timbalada e Bob Sinclair. Ufa!!!
Enfim... Eu até tentei vir aqui antes, mas a blogosfera exige um certo tempinho. Elisa, Desabafando, Manoel, Aninha, Isa, Alê, Tiago, todos!!! Irei lê-los´antes da viagem. Ahh!!! Lembram que falei que ia ser titia?? Apois... O baby nasce no dia em que viajo, mas logo estarei de volta para começar, de fato, 2010. Acabei de ganhar um prato de macarronada!!!
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
CLARICE E EU
Clarice Lispector
“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando…”
“Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada”
“É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção… Porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?”
domingo, 10 de janeiro de 2010
ÀS VEZES SOU ASSIM
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
OS GRANDES SÃO OS MELHORES
O serviço dobrado só começava a partir das 18h, no cair da noite, mas eu queria começar naquele instante. Estava tensa e fiquei com vergonha, mas o que os outros tinham a ver com isso? Levantei o dedo. Era o pedido. Quando ele chegou pedi para mudar de lugar. Subiu uma quenturinha e eu precisava de mais espaço, de ar puro.
Ele tinha uma das maiores bocas que já vi na vida. Grande, carnuda e deliciosa, mas resolvi começar pelas pernas. Elas eram razoavelmente grossas e muuuuuito cabeludas. Não gosto de pêlos e isso me incomodou, pois na hora de passar a mão e dar uma lambidinha era um pouco nojento, mas o resultado compensava aquele sacrifício. No estabelecimento ao lado eles eram devidamente depilados. Da próxima vez irei lá.
Não sei se aquela cor avermelhada, e linda, era natural dele ou proporcionada por alguma anomalia. Suas costas eram robustas, delineadas, e dava gosto passar a mão ali. Em breve estaria me deliciando nela. Minhas amigas, é óbvio, mal piscavam os olhos, mas nem ousavam passar a mão em minha propriedade. Existem algumas coisas na vida pelas quais a gente mata e morre. Essa é uma delas, não tenham dúvida.
Depois de me saciar com as pernas, enfim, fui para a boca. A sede ao pote foi tão forte que machuquei meus lábios e língua. Era melhor ir devagar ou até o final da noite ele teria me deixado aos pedaços. Comecei a bater nele para ver se facilitava e percebi que não era uma questão de força, mas de jeito para conseguir manuseá-lo melhor. Resolvi alternar entre chupar a carne que trazia na boca e mordê-la, para não cansar, afinal, nunca vi uma boca tão boa de ser tocada.
18h. Enfim chegou a hora do serviço dobrado. Minhas amigas puderam colocar a mão na massa e eu poderia repetir a dose. Agora eles eram 6 para 3 de nós. Aí foi uma fartura só. Eram pernas, bocas, pêlos, porradas, chupadas, lambidas, olhos revirando e eu... Cansei. Acreditem. No terceiro eu enjoei e não agüentava nem olhar para aquelas costas que outrora tanto me atraíram.
Boa amiga que sou, fiquei lá fazendo companhia às meninas. No intervalo entre um e outro a gente até conversava, mas quando eles chegavam começava a terapia. Sim, quando precisar de um psicólogo pode procurar por eles. Com certeza as mulheres vão gostar e homens também vão lá. Tem para todos os gostos.
De repente, o telefone tocou e uma das meninas atendeu de boca cheia e mãos sujas. Como disse, é algo muito prazeroso de fazer, mas extremamente nojento de ver alguém com a boca na botija, com a mão na massa. Depois de mim, as duas pediram mais 3 serviços dobrados. No finzinho, confesso, até passei a mão na perna de um deles. Minha amiga é boazinha, eu que sou olho grande.
Na quarta-feira volto lá, tem outras opções dobradas para se deliciar. Dessa vez não me restringirei aos crustáceos, caranguejos sarados dourados na panela, mas vou usar e abusar de todos os frutos do mar
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
PRORROGAÇÃO DE 2009
Parece que temos mania de estabelecer alguns marcos, tipo: “Na semana que vem eu entro na academia”. E porque não hoje? “No próximo final de semana vou fazer aquela reciclagem no meu guarda-roupa”. E porque não agora? “No meu próximo relacionamento serei menos exigente”. E porque não nesse?
Passamos o mês inteiro em contagem regressiva para recebermos logo o salário e resolvermos algumas questões. Dormimos tarde para aproveitar um pouco mais do tempo, temos insônia, comemos por ansiedade, sonhamos com o trabalho do dia seguinte, insistimos em correr contra o relógio, só sorrimos depois de um objetivo alcançado e empurramos a parte boa da vida para depois.
Quem disse que a parte gostosa da vida só pode ser saboreada ao amadurecer da idade? Muitos que deixaram a parte principal da refeição para comer por último tiveram o prato levado pelo garçom e não acharam o caminho da cozinha. Podemos inverter a ordem estabelecida. Afinal, quem disse que tinha que ser assim?
Acorde para a vida antes de dormir. Descanse a mente antes de acordar. Se delicie com a sobremesa e depois engula com feijão e arroz. Seja feliz agora, porque o amanhã não precisa ser triste. Não existe ensaio para viver, cada minuto é a sua apresentação no palco principal da vida.
E a platéia? Se as verdadeiras obras de arte precisassem de alguém para existir, em todo raiar do dia o mundo estaria de pé e não dormindo. Não fique aí parado esperando 2009 acabar para você ser feliz. Seja agora. Olhe ao seu redor e veja quantas pessoas estão à espera de um sorriso seu. Feliz e próspero 2010.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
HO HO HO
Meu vizinho abaixa a cabeça ou demora mais tempo fechando a porta para não me desejar bom dia. Aquele colega de trabalho vive buscando um deslize seu para aplicar a rasteira e sentar na sua cadeira. A “amiga” que só te liga quando precisa, deixa um recado enorme no orkut com todos dizeres clichês possíveis. No dia 25, várias pessoas que não dão tchau para não abrirem as mãos saem às ruas para distribuir agasalho e sopa aos menos providos de bens materiais.
Como num ritual coletivo e permitido de magia vermelha – a cor do amor - o tal do espírito natalino toma conta das pessoas sem pedir licença. É uma pandemia que se espalha em escala geométrica, todos ficam bons, sorridentes e cheios de amor para dar.
Este ano muitas coisas aconteceram e eu passei a acreditar em Papai Noel, inclusive quero pedir que ele emita uma ordem de prisão para este “espírito”, que se manifesta sob sua presença, para que a gente possa usá-lo o ano inteiro e não apenas no Natal.
O problema que vejo nessa frágil amabilidade é que ela tem data marcada para chegar e ir embora. Porque não ficamos felizes e bonzinhos 365 dias do ano? – Tá! vai lá e tira uns 60 dias de TPM que isso aí justifica qualquer desejo e realização de maldade.
Não gostava do Natal justamente pela hipocrisia que eu enxergava em tanta bondade gratuita. Mas eu também era hipócrita e percebi que posso ser melhor. Todos podemos. Assim como o estresse e o nervosismo contaminam, podemos ceder mais para a bondade e a caridade. Ser bom não é refletir a idiotice – não é porque é Natal que eu fiquei retardada, tá? Falo de enxergar o próximo como alguém que sente tudo como nós, que merece ser respeitado no que tem de diferente e precisa de uma chance para mostrar quem é, mesmo não seja quem nós queremos que ele seja.
Pela primeira vez na vida estou feliz com a chegada do natal. Não sei por quê. Só espero que um dia não fique triste por não tê-lo aproveitado antes. Não te desejo um “Feliz Natal” mas uma feliz vida.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
AVATAR
Um estranho que se infiltra em um determinado grupo para colher informações acaba se apaixonando por uma mulher que o faz mudar de opinião em relação às pessoas que antes eram inimigas. Ao ser desmascarado, ele se arrepende e tenta corrigir o erro para não perder os amigos e a mulher amada. Ponto.
Se Avatar fosse só isso não mereceria nem uma piscadela de olhos de atenção, mas o longa alimenta várias discussões e muito mais pontos positivos a serem analisados.
Ele é um marco na forma de se fazer, captar e projetar cinema, o que é característica de James Cameron. Ou alguém já se esqueceu que ele construiu uma réplica quase perfeita do navio Titanic nos estúdios da FOX para fazer as tomadas necessárias ao filme? Esse é o cara que gosta de coisas grandes.
Em Avatar, o primeiro chamariz é que se trata do filme mais caro de toda a história do cinema. Foram gastos, aproximadamente, U$$ 400 milhões de dólares. Juro que me perguntei como esse cara conseguiu gastar tanto dinheiro para fazer um filme. Só sei que é muito por que não tenho nem noção de quanta grana é. Fui pesquisar e vi que valeu cada centavo gasto, até porque deve render mais que o dobro em bilheteria. Se só eu já vi duas vezes...
Tudo fascina. O planeta Pandora, em que os humanos tentam extrair uma nova e cara fonte de energia, mais parece uma viagem de ácido. Toda a fauna e a flora são exuberantes, mas não existem além das telas. Com cara de floresta tropical, as plantas reluzem cores vivas, biofluorescentes e, o mais fascinante, é que você fica na dúvida se aquilo é real ou uma arte gráfica. À exceção dos atores e cenário humano, tudo em Avatar é desenho feito no computador. Mas não é uma arte aleatória. Biólogos e botânicos foram contratados para ajudar na criação e catalogação dos desenhos dessas plantas e animais. Se a atmosfera de Pandora existisse, provavelmente ela seria daquele jeito.
Essa cena da foto dá vertigem de ver quando é filmada de cima. Mas a sensação é proposital e controlada pelo diretor. Digo isso porque, antigamente, os filmes não conseguiam ter cenas muito longas em 3D, pois o tipo de lente usada nas câmeras causava tontura e dores de cabeça em algumas pessoas na hora da projeção. No entanto, para garantir que Avatar pudesse ser todo visto em 3D, a Sony financiou uma pesquisa para Cameron desenvolver novos tipos de câmeras que possibilitassem sua obra de ficção de 170 minutos ser toda projetada sem que ninguém saísse no meio passando mal. O melhor de tudo, e mais difícil, é que humanos estão nessas cenas em 3D.
Falamos em termos de cenário do filme. Mas e os personagens? O que mais vemos são animações em 3D que o desenho e a textura da pele são muito boas, mas a fisiologia do movimento não reproduz com fidelidade os traços humanos. Quem viu “Os fantasmas de Scrooge” sabe do que falo. Em Avatar parece que os personagens são humanos fantasiados, tamanha é a perfeição da variação de detalhes do que foi transposto para a tela. Pelo que entendi, 140 câmeras foram usadas simultaneamente para captar os movimentos de cada ator. É que esses movimentos corporais precisavam ser registrados com o máximo de precisão para que os animadores pudessem construir as imagens dos avatares.
No cinema convencional, o posicionamento e o movimento da câmera vão determinar tudo sobre a cena. Ângulo aberto, fechado, plano detalhe, mudança do foco, imagens aéreas, quantidade de luz que entra, por onde entra, o que ilumina. Em 3D existem todas as possibilidades de exploração da cena, o que mostra a competência do diretor de fotografia ao escolher os melhores planos para cada cena.
A linguagem dos nativos de Pandora, os humanóides gigantes (Na’vi), pasmem, foi criada. Se você quiser falar aquela língua basta procurar os fonoaudiólogos e lingüistas da USC - Universidade da Califórnia do Sul - e pedir o manual da gramática, sintaxe, morfologia deles. Isso foi criado e custou muita grana.
Se eu for ficar aqui falando em como o cara gastou os milhões de dólares que captou vou precisar de muito mais pesquisa e texto. Mas, além da exuberância visual, a história tem algumas sutilezas que me fizeram refletir.
Assim como no nosso mundo, em Pandora existe uma ligação física e espiritual entre a população e natureza. Eles fazem parte de um ecossistema, têm consciência de seus papéis e mantém uma forma de comunicação com os espíritos através das árvores. Pandora é a riqueza que os Na’vi têm e, assim como no mundo real, os humanos destroem tudo que tocam. O comportamento do exército é igualzinho ao que fizeram durante a colonização portuguesa e espanhola nas Américas. A ação humana é devastadora.
Uma das formas de saudação carinhosa entre os Na’vi é a frase “Eu vejo você”. Não é no sentido real da frase, mas figurado. Quando alguém diz que te vê é porque ela sabe que tipo de sentimento você carrega dentro de si, é porque te entende, está com você. Sabendo que sentimento alguém têm é que você sabe quem é aquela pessoa. Baseado nessa frase, o diretor encomendou um trilha sonora especialmente para o filme, “I See You”.
Agora dá para ter uma noção de como James Cameron gastou tanto dinheiro. Foi a melhor obra de ficção que já vi. Não em termos do que é contado, mas em como foi contado. Com certeza não é a melhor história que você já viu, mas certamente você nunca viu tanta tecnologia e inovação nas telas do cinema. Ele, mais uma vez, está à frente do seus, isso sem levar em consideração que Avatar foi concebido em 1995 e não foi rodado por falta de aparatos tecnológicos. Vou ficar aguardando um novo recorde de estatuetas, mas você só vai ter idéia do que estou falando depois que ver Avatar em 3D. E volte aqui para me contar.
domingo, 13 de dezembro de 2009
TEMPO BOM PRA SER FELIZ
Existem momentos em que a linguagem verbal, com todas suas letras, números e símbolos, não consegue dar conta de exprimir tudo que se sente. Até porque o que sentimos não é algo que se consiga registrar. Basta fechar os olhos e se deixar levar. Essa alegria efêmera nos faz querer coisas que, no dia a dia, não seriam tão queridas. Somente a cumplicidade do olhar brilhante de quem está sentindo a mesma coisa pode entender. Centenas de coisas são ditas sem precisar que sol, dó, ré ou mi sejam postos ao vento. Não precisa declarar nada. Tudo que foi pensado, foi entendido e bem registrado.
Apenas o barulho dos pés da multidão, que pulava freneticamente ao som de alguma banda, comprovava que não estávamos sós, afinal, tínhamos mais de 10 mil pessoas ao redor. Esse universo era paralelo.
Em alguns momentos alguém aperta o botão do “FF” e o mundo alcança uma velocidade quase frenética, que nos faz ver o redor em “slow motion”. Nestas ocasiões, quando as coisas aceleram demais não dá simplesmente para descer na próxima estação ou pedir o ponto e fugir. “Pára que está rápido demais!”. Não é assim que a vida funciona. Temos que ir até o fim para ver no que vai dar, aproveitar cada canção, que provoca um resquício de sensação, olhar para o alto e perceber o quanto ele está estrelado, contar as estrela cadentes que chovem no céu, ouvir o barulho das árvores, deixar o calafrio bater e saber que ele vai passar. O pior: vou sentir saudade. Mas tem problema não. Assim é o verão da Bahia. O bom é que ele está apenas começando.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
SOBRE A AUTORA
Lendo minha certidão de nascimento percebo que eu sou uma brasileira com características médias. Cabelos e olhos castanhos, madeixas crespas e cacheadas, pele clara. Aos 15 anos cheguei ao que foi minha estatura eterna, 1,74m, e peso médio, ao longo da vida, 55kg. Nunca consegui engordar, embora tenha desejado e tentado isso por muitos anos. Cheguei a tomar remédio para ganhar uma carninha, mas parece que só fortaleceu meus ossos. Nem um quilo a mais. Enquanto eu queria ser "gostosona", minhas amigas desejavam ter minha estatura e elegância.
Muito desenvolvida para a idade, sempre preferi vestir roupas pretas que mesclasse o preto e o branco. Hoje, 15 anos mais experiente, amo brincar com as cores do verão nas roupas e sapatilhas, mas ainda tenho resistência ao rosa e laranja.
De um tempo para cá descobri que é bom ser magra. Só é uma pena que passei parte de uma vida tentando ser algo que minha natureza não me permite. Descobri que posso usar praticamente tudo: roupa justa, larga, jeans, moleton, as curtas, longas. Assim como a amiga que me indicou o meme, dependendo da ocasião, uso o que for mais indicado, inclusive uma combinação que achei horrível durante anos: salto alto com shorts ou sandália rasteira com jeans.
Os homens, aqueles a quem arrisco desviar meu olhar, têm que ter estilo próprio. Seja tênis ou sapato, bermuda ou calça social, mas tem que gostar de cinema, ver todos os gêneros e tolerar os de arte e culturais. Ele não precisa gostar de dançar para me acompanhar nas batidas eletrônicas, mas vai me fazer ficar muito apaixonada se, mesmo pagando mico, me tirar para dançar uma música lenta.
Lá em casa somos 3 irmãos de sangue e mais 3 adotivos. Nenhum de nós tem aptidão para a música. Não percebemos a diferença entre um "dó" e um "mi". Cozinha? Não gosto dessa parte da casa, mas sei preparar meu prato predileto: sopa. Nasci gente por um erro genético, pois tenho certeza que meu DNA é de formiga, tamanha é minha paixão por doces. Chocolate serve qualquer um, mas prefiro o branco.
Sou uma pessoa saudosista. Sinto saudade do cheiro da melancia que meu pai abria aos domingos, depois de a família retornar da praia. Ainda hoje chupo melancia e fecho os olhos para ter a mesma sensação de segurança que tinha quando estávamos todos reunidos à mesa. Acho o inverno triste, mas gostoso de sentir, de ler, de dormir, romântico. O verão é a estação do calor, da praia, das festas, do beijo, da alegria vazia. Gosto da solidão do dia frio, mas me amarro no frenesi da multidão carnavalesca da madrugada quente. Sorvete no verão e pipoca no cinema do inverno. Cada coisa no seu tempo. Uma das vontades é conseguir me libertar do vício da Coca-cola. Suco? Só da fruta e, de prefrerência, de cajá.
Sou cinéfila. Gosto de ver qualquer tipo de filme, uns em casa outros só no telão. Depende do sabor e tempo de cada um. Almodóvar sempre. Já fui mais durona, mas choro nos filmes quando vejo cenas envolvendo família e a perda de alguém querido.
Não lembro exatamente da ordem, mas a primeira pessoa que seguiu meu blog foi minha prima Grace. Mas blogueiro mesmo eu acho que foi a Isa, do Pimenta na língua. Por onde anda você, moça? Dos blogs que eu acompanho conheço minha irmã, a Alê, Clau, Geovana e mais algumas pessoas. Mesmo à distância, sinto que conheço cada um de vocês, pelo teor do texto, rispidez ou leveza na combinação das palavras. Que more na minha cidade tem o Tiago e todos que conheço, mas ele anda sumido que nem sei se está vivo ou morto. Espero que esteja tudo bem...
Se eu ganhasse na mega? Eu não faria somente 10 coisas... rsrsrsrs... Mas não iria deixar mais minha mãe trabalhar, ia comprar um village para que minha família morasse toda junta, fazer um tour pelo mundo - contratando um guia especial para conhecer a Palestina. Mas, que fique bem claro, não tenho a pretensão de ficar rica dia algum de minha vida, pois acredito que dinheiro que vem muto fácil torna a pessoa fútil e acredito menos ainda em alguém que enriqueça pelo trabalho honesto. Portanto, o quero é o que o dinheiro não compra, como saúde e felicidade para todos os que amo, mas ele pode ajudar a melhorar algumas coisas, né?
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
MUDANÇA DE TEMPO
Quando abre o olho, a primeira coisa que vê é uma teia de aranha voando. A diarista esqueceu de tirar. “Féladumaégua”. Calma. Essa é apenas a primeira, de uma série, de delicadezas que serão proferidas ao longo do dia.
Depois de pegar a vassoura para fazer o serviço e arranhar a parede, levanta e vai para o banheiro enfrentar o maior inimigo: o espelho. Porque os hormônios deixam a visão além do alcance? Na primeira piscadela de olhos para tirar as remelas, os pêlos da sobrancelha apontam, o buço parece o de Charles Chaplin, os poros um vulcão em erupção e uma linha de expressão na testa que lembra o meridiano de Greenwich saltam do mapa da cara.
Sentada, percebe que alguém com mal de Parkinson no pinto respingou xixi na borda vaso, que o papel higiênico acabou, não foi reposto, esqueceu a toalha na área de serviço e o sabão derreteu na água desde o último banho. Ah! O creme dental foi apertado ao meio como um aplicador de glacê. Fecha os olhos. Respira. Sai e pega tudo para que o banho possa acontecer. Algo mais errado tão cedo? É melhor não duvidar.
Ainda bem que dá tempo chegar no trabalho e encontrar uma vaga no estacionamento. Inspira. Expira. Pensa. Hora de bater o ponto. Tudo vai dar certo.
Bom dia pra os coleguinhas e senta rápido na mesa para evitar conversas desagradáveis. A pauta cai, a fita embola, depois parte, a bateria do celular acaba, o sinal da Internet está fraco, aquela atriz chata que você é obrigada a aturar não entende porque a pauta caiu e um colega feliz diz que sua roupa está linda. Que bom! Alguma coisa boa tinha que acontecer. Faz cara de louca, silêncio geral, corre para o banheiro, se tranca e chora, chora, chora até desidratar. Bebe água e volta para a mesa.
Nessa altura do dia todo mundo já percebeu o auge da TPM e banaliza as reações. A vontade de se transformar numa ré primária ganha força, mas é melhor gastar essa oportunidade numa outra ocasião.
O tic-tac do relógio está em câmera lenta e o único desejo é que esse dia acabe logo. O bom mesmo é quando a gente deita na cama, respira e percebe que esse dia não foi diferente dos outros, apenas mudou de cor.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
AZAR SORTUDO
Não sei se contei para vocês que sou traumatizada com viagens aéreas. Não, não tenho medo de voar, mas sou campeã em perda de vôos por motivos ridículos. A primeira vez foi retornando do Rio de Janeiro. Passei o dia batendo pernas para matar o tempo. Cheguei ao aeroporto uma hora antes do horário que eu acreditava que devia embarcar. O detalhe era que tinha comprado minha passagem para as 9 da manhã, mas só cheguei para o check in às 20h.
11hs de atraso. Até hoje não sei como troquei o horário com tanta convicção. Só desisti de matar a atendente quando o gerente do guichê me permitiu abrir meu e-mail e comprovar que foi maluquice dessa mente insana que vos escreve. Isso foi coisa boba perto do que me aconteceu a caminho de São Paulo.
Eu ia embarcar às 5h30 da manhã. Coloquei o celular para despertar às 3h30, para dar tempo tomar um banho e fazer tudo sem pressa, pois moro próximo ao aeroporto. Antes de dormir inventei de passar umas músicas, por e-mail, para minha amiga editar uma matéria no dia seguinte. Entre o tempo de anexar um arquivo e outro eu tirava aquele velho cochilo. Isso já era, mais ou menos, uma da manhã.
Anexa, cochila, acorda, envia, anexa, etc. Dormi com o computador na barriga e acordei na hora em que meu amiguinho ia caindo na cama. Quando olhei para o relógio surtei. Eram 5h15!!! “Cadê o celular???”, me perguntei furiosa enquanto procurava por ele. O bonitinho achou que era hora de travar e simplesmente parou de funcionar no meio da noite. Enfim... Consegui embarcar no vôo seguinte, mas não sem antes partir o celular em mil pedacinhos de tanto ódio que fiquei.
Quando me avisaram no trabalho que eu ia a Brasília para o Festival Nacional de Cinema já pensei em colocar dois celulares para despertar e conferi várias vezes o horário no e-mail. Não é que minha amiga que também foi escalada para a viagem me ligou para fechar o horário do taxi e eu já tinha mentalizado um horário completamente diferente? Só posso ser dodói. Ainda bem que foi à tempo, pensei.
Cheguei em casa cedo, arrumei a mala com toda calma, me deliciei assistindo à minissérie “Ó paí, ó” – odeio o filme mas gosto da série – e fui dormir. Para variar, esqueci das frustrações das experiências passadas e só coloquei meu celular para despertar. Nenhuma reserva caso meu aparelhinho resolvesse se vingar de mim pelo assassinato cruel e frio de um amigo de fábrica.
Depois de retornar de uma viagem a trabalho, passei uma semana super exaustiva. Deitei na cama e morri. Apaguei...
Depois da sensação de ter dormido uma eternidade, abri os olhos e não pude acreditar no que vi. O mundo estava em pleno funcionamento e era noite ainda. Como assim? Eu dormi o dia todo? Porque o celular não despertou de novo? Sem conseguir sair da cama, chamei meu irmão e perguntei que horas eram: “18h”, respondeu com uma risada de canto de boca. “Porque você não me acordou???”, me desesperei, mas fiquei mais puta da vida ainda com a resposta dele: “Veja só! Você perde seu horário e a culpa é minha, é?”. Ele estava coberto de razão, mas eu não conseguia entender como pude dormir o dia inteiro. E minha amiga? Porque ela não veio me buscar? Porque não me ligou? Existem coisas que, literalmente, só Froid explica.
Peguei o celular para ligar para minha amiga e entender o que aconteceu, mas estava muito nervosa para digitar o número dela. Só pensava que meu chefe ia me matar, ia me chamar de irresponsável e eu ia perder toda a confiança que ele tem em mim – se é que tem alguma. Depois de umas três tentativas infrutíferas de discagem - meus dedos só apertavam as teclas erradas – resolvi ligar logo para a companhia aérea e ver se conseguia embarcar no próximo vôo.
Virei para o lado, pois meu computador dorme ocupando a vaga do travesseiro que um dia pertenceu ao meu ex-marido, para acessar a Internet e encontrar o número do telefone. Quem disse que tinha conexão? Como eu não enlouqueci a ponto de quebrar meu computador, respirei fundo e contei até 1.000 até a conexão ser reestabelecida. Caindo de sono – será que me deram algum sonífero? – minha lente de contato ficou turva e eu não enxergava as teclas direito. Como pode algo dar tão errado assim?? Meu chefe vai me matar.
Sabe aquele nó na garganta que a gente não consegue falar? As lágrimas me vieram aos olhos e eu não as contive. A decepção comigo foi tão grande que elas escorreram parecendo conter um molhinho de pimenta. Os olhos arderam tanto, mas tanto, que eu abri as pálpebras de novo e já era dia. Como assim era dia??? Ainda há pouco era noitinha... Apalpei a cama em busca do celular para conferir a hora e respirei aliviada quando vi que inda faltavam 5 minutos para ele despertar.
domingo, 8 de novembro de 2009
VELHO AMIGO INCONVENIENTE
sábado, 7 de novembro de 2009
PRIMEIRA PROVA DE BAIANÊS
CORREÇÃO (estou me sentindo "A" professora hahahahahaha)
Ultimamente tô aluada (com a cabeça no mundo da lua). Acabo escrevendo umas paradas a culhão (de qualquer jeito), publico a facão (sem me preocupar com os detalhes – “O corpo dela é feito a facão”) e vocês comentam a migué (sem dar importância). É que nem sempre estou à toa (sem ter o que fazer), quero pegar minha arabaca (meu carro) e abrir o gás (outra forma de conjugar o ver ir) para algum reggae (qualquer festa). Por isso faço esses armengues (coisa feita de qualquer jeito para resolver provisoriamente um problema). Mas minha consciência agreste (grossa) quebra minha guia (minha força). Não estou broca (maluca). É que quando eu era piveta (criança) já peguei um baba (joguei futebol), brinquei de arraia (empinar pipa), pulei elástico (brincadeira que não dá para explicar aqui), piquei a porra (machuquei) num passarinho de badogue (estilingue), já bafei (afanei) bala no shopping, já ri do balaio grande (nádegas grandes) das mulé (mulher), tomei banca (reforço escolar) e nunca fui banda voou (pessoa que não se preocupa com nada). Como meu pai não era barão (rico), eu me ferrava (fazia muito alguma coisa) de estudar para minha mãe não bater a caçuleta (morrer) nem ficar pirada (com raiva). Algumas vezes era bequitranque (complicado), eu ficava boiada (cansada). Mas bastava uma amiga dizer: “Bó?” (vamos?) – sem nem botar pilha (insistir) - e eu dava o vazare (ir embora). Meu pai virava a porra (ficava com raiva) – principalmente porque ele inticava (implicava) com as meninas -, e eu morava numas bocadas (lugar perigoso), com uns cacêtes armados (butecos ou casas mal feitas) defronte a casa e rolava um bolodório (confusão) de vez em quando. Até Raul – e porque não Hugo? (vomitava) - o povo chamava. Ele ficava cabreiro (com medo), mas nem era de dar caroara (tremer as pernas). Aliás, queria contar um segredo: meu pé é cagado e cuspido (igualzinho) o de meu pai. Eu amo isso. Sempre fiquei curiando (observando, vem de curioso) os dedos da criatura (de alguém, no caso meu pai). Só pirava (ficava com raiva) porque ele queria que eu comesse cacetinho (pão francês) duas vezes por dia e não rolava (não dava). Se eu tivesse cabreirado (feito o que quisesse) pra ele, tinha ficado um canhão (uma mulher horrorosa), um cão chupando manga (pessoa muito feia), com uma bunda de caruru (mole), uma cabeça-de-arromba-navio (gorda), nenhuma calçola (calcinha) ia subir em mim e ia ser um chororô (choro exagerado).
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
NÃO VALE PEDIR PRA MORRER!
Há 18 anos foi lançado um dicionário de baianês com mais de 1.300 verbetes usados pelas bandas da Bahia. O livrinho, escrito por Nivaldo Lariú, está na 3ª edição e já passou da marca dos 140 mil exemplares vendidos. Comprei um para dar de presente e não resisti a fazer um mini-concurso com vocês. Quem quiser participar é só responder ao post.
Vou escrever algumas frases com esses verbetes e vocês vão tentar “traduzir”. Para quem é baiano minha sugestão é mudar as frases usando termos novos, que, acredito, devem ser incluídos numa próxima edição da cartilha. Serão dois posts até eu anunciar – e vocês conferirem – o vencedor. Na sexta-feira trago as “traduções” de hoje e coloco mais um texto. Na segunda digo quem chegou mais próximo, tá?
Como prêmio, prometo enviar um exemplar para o blogueiro mais aplicado... Divirtam-se.
TESTE DE BAIANÊS 01
Ultimamente tô aluada. Acabo escrevendo umas paradas a culhão, publico a facão e vocês comentam a migué. É que nem sempre estou à toa, quero pegar minha arabaca e abrir o gás para algum reggae. Por isso faço esses armengues. Mas minha consciência agreste quebra minha guia. Não estou broca. É que quando eu era piveta já peguei um baba, brinquei de arraia, pulei elástico, piquei a porra num passarinho de badogue, já bafei bala no shopping, já ri do balaio grande das mulé, tomei banca e nunca fui banda voou. Como meu pai não era barão, eu me ferrava de estudar para minha mãe não bater a caçuleta nem ficar pirada. Algumas vezes era bequitranque, eu ficava boiada. Mas bastava uma amiga dizer: “Bó?” – sem nem botar pilha - e eu dava o vazare. Meu pai virava a porra – principalmente porque ele inticava com das meninas -, e eu morava numas bocadas, com uns cacêtes armados defronte a casa e rolava um bolodório de vez em quando. Até Raul – e porque não Hugo? - o povo chamava. Ele ficava cabreiro, mas nem era de dar caroara. Aliás, queria contar um segredo: meu pé é cagado e cuspido o de meu pai. Eu amo isso. Sempre fiquei curiando os dedos da criatura. Só pirava porque ele queria que eu comesse cacetinho duas vezes por dia e não rolava. Se eu tivesse cabreirado pra ele, tinha ficado um canhão, um cão chupando manga, com uma bunda de caruru, uma cabeça-de-arromba-navio, nenhuma calçola ia subir em mim e ia ser um chororô.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
PARADA GAY DA BAHIA
Domingo teve Parada Gay aqui em Salvador e eu fui gravar uma matéria lá. Desde a sexta anterior à Parada, a previsão do tempo era de um dilúvio e eu não tinha uma Arca de Noé. No sábado fui dormir mega tarde na festinha de aniversário de um grande amigo me confiando na chuva. Só me permiti dormir tarde porque acreditei nos meteorologistas. Quando eram umas 2 da madruga olhei e o vi céu cheio de estrelas. Pensei: "Óhh, ôu!!!! São Pedro, por favor, faça chover já!!!". Acho que falei baixo, pois ele não me escutou. Fui para casa correndo, mas sonhei o resto da noite com eu rezando para chover, pode? Isso já aconteceu com vocês? É muito estranho e ao mesmo tempo engraçado. Você não sabe se o sonho é sonho ou realidade e você acorda meio desesperada para saber o que está acontecendo.
Quando abri os olhos a primeira coisa que fiz foi correr para a janela com as outras pessoas da equipe me ligando desesperadas: "E aí, velho, derruba essa pauta aí, tá com cara de que vai chover!", alegou um. "É lógico que vai cair o maior pé d'água", previu outro. Nem uma gota caía do céu. Abriu um solzão e e fui trabalhar bem zumbi. Não podia dizer ao diretor do programa que a pauta caiu porque eu achei que ia chover. Ele ia me dizer que também "achava que eu ia ter emprego no outro dia". A TV tem que ir ao ar, com ou sem chuva.
É impossível ficar com uma gota de mal humor naquele lugar. É muita cor, muita irreverência, muito glamour e muita, mas muita,vontade de mostrar ao mundo que o amor é lindo.
Segundo os representantes do GGB, a Bahia é o estado em que mais se mata homossexuais no Brasil. Somente este ano, até outubro, foram 19 casos. Achei incrível a informação de que aproximadamente 80% das pessoas que foram à Parada não são gays, mas pessoas simpatizantes ao movimento.
Como entrava em tudo quanto era buraco e subia em todos os trios para fazer imagens, vi de tudo, e mais um pouco, que vocês possam imaginar. Vi homem e mulher se azarando como no carnaval. Eu estava vendo a fita depois da gravação - chama-se decupar - e no meio de uma entrevista vi, no segundo plano - atrás da cena principal - um rapaz segurando uma moça pelo braço. Ela olhou, gostou e beijou. A lambança demorou uns 50". Cada um foi para o se lado e tchau I have to go now. Vi várias cenas dessas ao longo da Parada, que, diga-se de passagem, acontece no trajeto do carnaval oficial, a Avenida Sete de Setembro.
Da mesma forma que vi coisas legais, vi muita coisa que julgo ser feia, como a pornografia a céu aberto. Entendo que a cirurgia de mudança de sexo seja um troféu para alguns homossexuais. "Eu tenho e vocês - os outros gays - não têm!". O problema é que ele ganha um orgão sexual feminino e quer mostrar para todos. Teve uma criatura em cima de um trio que o fio dental começava no umbigo e ia até as costas. Exatamente. Um fio dental na "perereca". Outros transsexuais, quando viam a câmera, tiravam o sutiã e balançavam tudo, como se eu quisesse ver. Fora alguns gays que pareciam me odiar por eu ser mulher, heterossexual, e estar ali.
Enfim... Muitos realmente estão ali para protestar contra o preconceito, a homofobia e a violência a que os homossexuais estão submetidos na vida machista em sociedade, mas também existem os que estão estão ali apenas pela gandaia. Esses últimos não estão preocupados com a imagem que se constrói no imaginário popular do que é uma Parada Gay e de sua importância. Mas, como em qualquer lugar, não devemos julgar um todo pelo caso particular de alguns. Os peitos delas eram lindos, mas eu preferia ficar olhando os gogoboys dançando...
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
O BESOURO MANGANGÁ
Para os curiosos, posso adiantar que Besouro, no conjunto, é um filme bom e vale a pena ser visto. Vi a pré-estréia na última quarta-feira, dia 21/10. A estréia será dia 30/10, próxima sexta-feira. Em uma hora e meia, ele traz ao grande público a história de um personagem, de uma luta, a mitologia e um cenário tipicamente brasileiros. Isso, por si só, já é um mérito.
Para quem não conhece a história farei um brevíssimo resumo. Besouro foi um capoeirista que era um misto de vingador e desordeiro. Lutando pelos interesses dos negros, e seus, ele tocava o terror com os donos do poder econômico e político. Depois da libertação dos escravos, algumas vezes os coronéis se recusavam a pagar pelos trabalhos nas usinas de cana-de-açúcar. Certa feita, reza a lenda, ele segurou o coronel pela camisa e o obrigou a efetuar-lhe o pagamento. Era avesso a policiais, que não conseguiam pegá-lo, e lutava capoeira com a proteção dos orixás. Tinha o corpo fechado. Essas, e várias outras histórias, são contadas nas rodas de capoeira através dos cânticos.
Para mim, o primeiro problema do filme acontece devido à mistura de cenários. A história, real, de Besouro se passa em Santo Amaro da Purificação e o filme foi, em grande parte, filmado na Chapada Diamantina, região completamente diferente e densamente povoada por exploradores de ouro e diamante, e não escravos. Em busca de uma fotografia mais atraente, a locação real foi substituída. O filme é ruim por isso? Não. Continua sendo bom.
O diretor do filme optou por preparar um não-ator, que joga capoeira muito bem, para representar o Besouro. O menino é um excelente capoeirista, mas está longe de ser ator. Sua voz, ao que me pareceu, foi dublada, e algumas cenas ficaram sem a expressão corporal necessária para imprimir a emoção vivida pela lenda da capoeira. Em compensação, a expressão facial dele favoreceu às cenas mudas.
Estudamos, desde a escola, a mitologia grega, mas desconhecemos totalmente a história dos Deuses africanos que foram trazidos para o Brasil, os orixás. O problema, para muitos, é que tudo que é tipicamente afro-brasileiro (nossa origem) não presta e, o pior, é endemonizado. Enfim... Não estou aqui para falar de religião, mas um dos méritos do filme, para mim, seria esse. Digo seria porque não acredito que a obra conseguiu passar a importância do candomblé para os ex-escravos, que inclusive agradecem aos orixás pela sua libertação. Mas, não há como negar, as cenas em que Besouro recebe a proteção dos orixás são lindas. A fotografia é perfeita, a luz foi usada a favor das filmagens e o cenário (embora não represente o ambiente real) foi muito bem montado.
O que me incomodou muito em Besouro foi o roteiro sem amarração e o texto do filme. Esperei, com ansiedade, uma luta ápice e não achei. Busquei entender porque aquele capoeirista foi o escolhido e, no filme, não tive resposta. Tentou-se falar de muita coisa ao mesmo tempo – capoeira, candomblé e escravidão – e o produto final não foi denso o suficiente para validar a obra. Fora o texto dos atores que não representam o linguajar dos recém libertos escravos. Teve até escravo com sotaque carioca! Para equilibrar, o capataz, Noca, tem uma atuação exuberante e suga toda a atenção quando aparece. Você acredita no ódio que ele sente por Besouro, mas não coloca fé no sentimento dos escravos.
Depois disso vocês devem achar que eu não gostei do filme. Não creiam. Besouro é um longa bom e, creio, vai cair no gosto popular. Quem sabe em breve não poderemos conhecer outra lenda da história brasileira através da tela dos cinemas? Só espero que orçamento do filme seja menos gasto em efeitos visuais – a verba foi de leis de incentivo fiscal - e a atenção esteja mais voltada para o conteúdo da obra.
Esta é a minha opinião, que também não é unânime, mas é minha. Espero que vejam e depois voltem para comentar.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
TODAS AS MULHERES PRECISAM LER...
Belinha acordou às seis, arrumou as crianças, levou-as para o colégio e voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático em Artur, o marido, e de trocarem cheques, afazeres e reclamações.
Fez um supermercado rápido, brigou com a empregada que manchou seu vestido de seda, saiu como sempre apressada, levou uma multa por estar dirigindo com o celular no ouvido e uma advertência por estacionar em lugar proibido, enquanto ia, por um minuto, ao caixa automático tirar dinheiro.
No caminho do trabalho batucava ansiedade no volante, num congestionamento monstro, e pensava quando teria tempo de fazer a unha e pintar o cabelo antes que se transformasse numa mulher grisalha.
Chegando ao escritório, foi quase atropelada por uma gata escultural que, segundo soube, era a nova contratada da empresa para o cargo que ela, Belinha, fez de tudo para pegar, mas que, apesar do currículo excelente e de seus anos de experiência e dedicação, não conseguiu.
Pensou se abdômen definido contaria ponto, mas logo esqueceu a gata, porque no meio de uma reunião ligaram do colégio de Clarinha, sua filha mais nova, dizendo que ela estava com dor de ouvido e febre.
Tentou em vão achar o marido e, como não conseguiu, resolveu ela mesma ir até o colégio, depois do encontro com o novo cliente, que se revelou um chato, neurótico, desconfiado e com quem teria que lidar nos próximos meses.
Saiu esbaforida e encontrou seu carro com pneu furado.
Pensou em tudo que ainda ia ter que fazer antes de fechar os olhos e sonhar com um mundo melhor.
Abandonou a droga do carro avariado, pegou um táxi e as crianças.
Quando chegou em casa, descobriu que tinha deixado a porra da pasta com o relatório que precisava ler para o dia seguinte no escritório!
Telefonou para o celular do marido com a esperança que ele pudesse pegar os malditos papéis na empresa, mas a bosta continuava fora de área.
Conseguiu, depois de vários telefonemas, que um motoboy lhe trouxesse a porra dos documentos.
Tomou uma merda de banho, deu a droga do jantar para as crianças, fez a porcaria dos deveres com os dispersos e botou os monstros para dormir.
Artur chegou puto de uma reunião em São Paulo, reclamando de tudo.
Jantaram em silêncio.
Na cama ela leu metade do relatório e começou a cabecear de sono. Artur a acordou com tesão, a fim de jogo. Como aqueles momentos estavam cada vez mais raros no casamento deles, ela resolveu fazer um último esforço de reportagem e transar.
Deram uma meio rápida, meio mais ou menos, e, quando estava quase pegando no sono de novo, sentiu uma apalpadinha no seu traseiro com o seguinte comentário:
-Tá ficando com a bundinha mole, Belinha... deixa de preguiça e começa a se cuidar..
Belinha olhou para o abajur de metal e se imaginou martelando a cabeça de Artur até ver seus miolos espalhados pelo travesseiro!
Depois se viu pulando sobre o tórax dele até quebrar todas as costelas! Com um alicate de unha arrancou um a um todos os seus dentes depois deu-lhe um chute tão brutal no saco, que voou espermatozóide para todos os lados!
Em seguida usou a técnica que aprendeu num livro de auto-ajuda: como controlar as emoções negativas.
Respirou três vezes profundamente, mentalizando a cor azul, e ponderou.
Não ia valer a pena, não estamos nos EUA, não conseguiria uma advogada feminista caríssima que fizesse sua defesa alegando que assassinou o marido cega de tensão pré-menstrual...
Resolveu agir com sabedoria.
No dia seguinte, não levou as crianças ao colégio, não fez um supermercado rápido, nem brigou com a empregada.
Foi para uma academia e malhou duas horas..
De lá foi para o cabeleireiro pintar os cabelos de acaju e as unhas de vermelho.
Ligou para o cliente novo insuportável e disse tudo que achava dele, da mulher dele e do projeto dele.
E aguardou os resultados da sua péssima conduta, fazendo uma massagem estética que jura eliminar, em dez sessões, a gordura localizada.
Enquanto se hospedava num spa, ouviu o marido desesperado tentar localiza-lá pelo celular e descobrir por que ela havia sumido.
Pacientemente não atendeu.
E, como vingança é um prato que se come frio, mandou um recado lacônico para a caixa postal dele.
- A bunda ainda está mole. Só volto quando estiver dura.
Um beijo da preguiçosa...
(Extraído do livro: Este sexo é feminino /Patrícia Travassos)
A PORRA BAIANA
PORRA - A palavra mais rica do dicionário baiano. Esta versátil palavra pode mesmo ser considerada um curinga da língua portuguesa, principalmente, em Salvador/BA.
Veja os exemplos a seguir:
1)PORRA pode ser utilizada para várias situações cotidianas:
- Se você toma um susto: POOORRA!
- Se você vê um amigo: legal te ver, PORRA ou Você sumiu PORRA!
- Se você adimira algo: POOOORRA!
- Se você está indignado: Que PORRA!
- Como adjetivo: Você é uma PORRA!
- Pra mandar alguém se acalmar: Queta PORRA!
- No diminutivo, pode ser elogio: Gosto muito de você, seu PORRINHA!
2) Como indicação geográfica:
- Onde fica essa PORRA?
- Vá pra PORRA!
- 18:00h - vou embora dessa PORRA!
3)Sentido de quantidade:
- Trabalho pra caramba e não ganho PORRA nenhuma!
- Isso é caro pra PORRA!
- Ela mora longe pra PORRA!
- Ela é bonita pra PORRA!
4)Substitui qualquer objeto:
- Não se enxerga PORRA nenhuma!
- Não ganhei PORRA nenhuma de presente!
- Vou "picar" a PORRA!(sinônimo de jogar)
- Deixa essa PORRA aí!
5)Para qualificar determinada ação:
- O Bahia e o Vitória não estão jogando PORRA nenhuma!!!
- O governo Lula está uma PORRA!
- Para você ter lido até aqui, é sinal que não está fazendo PORRA nenhuma...
Não me mande ir para a PORRA, tá? Pois ainda não descobri onde fica.
sábado, 17 de outubro de 2009
MEUS TRÊS ESTADOS
Estava super ansiosa para conhecer esse lugar. Acreditem: sentir o peso da água batendo na cabeça, numa cachoeira, recarrega todas as energias.
Eram 6h da manhã do sábado. Minha amiga que estava indo se encontrar comigo sofreu um acidente na estrada. O carro capotou e ela teve duas fraturas na coluna. Desesperei. Comecei a ligar para o plano de saúde para ver hospitais na região, ambulância, etc. Primeira dica: se puder, evite viajar à noite. O dia facilita muita coisa numa hora dessas. Não haviam hospitais capacitados para atendê-la na região e um amigo conseguiu sua remoção até a capital. Fez uma cirurgia na coluna e está bem. Graças a Deus.
Não consegui dormir mais e tinha que estar pronta para começar a trilha às 8h. Sem fome, fui para o desejum. Como tinha uma caminhada longa, e mastigar logo cedo não é fácil para mim, optei por comer frutas, iogurte e leite. Tinha uma fruta meio verde meio madura. Provei e gostei. Comi muito e com gosto. Pensei: “Geração saúde. Êaaaaa!!!”. Segunda dica: não mude radicalmente seus hábitos alimentares, pois o corpo sente e, o pior, reage.
Pegamos o asfalto. 44 km de estrada de barro, até chegarmos em uma fazenda, e mais 3,5 km caminhando até chegar à Cachoeira do Mosquito. A casa seria nosso ponto de apoio no retorno para banho e almoço. Chegando lá, uma senhorinha muito fofa tinha preparado um suco de maracujá do mato. Achei a cor verde extrato de folha linda e tomei, pelo menos, meio litro. Era bom demais!
Câmera a postos, demos início à caminhada. Paramos algumas vezes para fazer algumas imagens, pegar algumas entrevistas com o guia e, nesse meio tempo, meu estômago começou a revirar. Eram gases. Ao ar livre não tem problemas, pensei. Seguimos com meu estado gasoso.
No meio do mato descobrimos uma prainha de água cor avermelhada. Paramos para outra gravação. O guia explicou que a areia era branca porque um dia ali já tinha sido mar e a água era daquela cor devido a uma substância da raiz das plantas que tinha efeito laxante. Nem passei perto da água. Vai que ela entranha na minha pele e provoca uma situação. Mas só de ouvir a palavra L A X A N T E, meu intestino deu um nó de marinheiro.
Percebi que a fase gaseificada da brincadeira tinha acabado e que a qualquer momento o estado das coisas poderiam se tornar mais sólidos. Comentei que estava com dor de barriga e me mandaram fazer uma parada rapidinha no mato. Me recusei. “Uma lady não vai ao mato. Posso esperar”. A galera ainda me abusou dizendo que eu tinha bebido água da prainha econdido. Dica número 3: ouça os mais experientes.
Ainda faltava pouco mais de 1km para chegar ao destino. Para minha sorte, era uma descida. Para baixo, todo santo ajuda. O caminho foi ficando apertadinho e mais íngreme. Chegou uma hora que só conseguíamos descer segurando nas árvores. Com equipamento o trabalho dobra, mas já estávamos ouvindo o barulho da queda d’água. O eco dos nossos gritos mais pareciam alguém respondendo. Alguém, dentro de mim, também queria gritar.
Minha fase empolgação já tinha mudado para preocupação. A fisionomia estava visivelmente alterada. A vontade estava virando dor e... Chegamos! Esqueci tudo, gravei a parte final da matéria e passei uns 15 minutos tomando banho de cachoeira. Como disse, é revigorante. Nos faz até esquecer os problemas, alivia as dores, viver vale mais a pena. O mundo é lindo. A Chapada Diamantina é linda. Hora de voltar.
Se para baixo todo santo ajuda, para cima o diabo cutuca. Quando comecei o caminho de volta meus metrinhos de intestino me lembraram que eles existiam e tinham vontade própria. Sozinhos, eles deram mais um nó e eu me agachei de dor. Ficar agachada não dava, era muito propenso a um resultado óbvio. Levantei com a mesma rapidez e comecei a gritar. “Ai, ai, ai, ai”. O pessoal ficou super preocupado e insistiu para eu usar o mato. “Não, não, não, vamos nessa, eu agüento”. Franzi a testa – ninguém contesta alguém com cara carrancuda –, liguei um motorzinho nas pernas e fui.
Na volta, o sol tinha esquentado e eu suava um suor frio, pegajoso. Sentia cólicas abdominais que iam e viam como contrações de um parto. Quase foi. Eu concentrei na dor, fiz respirações contadas, me distanciei do grupo e andei com uma vontade que nunca tinha tido na vida. Vez ou outra as contrações vinham e eu tinha que parar, meus olhos enchiam de lágrimas, eu respirava e continuava.
Quando cheguei à fazenda, o guia – que tinha chegado antes de mim – veio cheio de dentes brincar, perguntar como eu estava, se tinha gostado da caminhada. Meu olhar foi tão, mais tão, fulminante que ele apenas segurou minha mão e me guiou até a porta do banheiro. Ele devia ter mandado a galera evacuar a área. Era meu estado sólido se concretizando.
Fiquei, pelo menos, dois quilos mais leve. Agora eu já não transpirava, meu suor saia dos poros como se eu fosse um chuveiro ambulante. Era minha fase líquida. Eu estava me tremendo. Liguei o chuveiro e fiquei uns 5 minutos me recuperando. A água batia na cabeça e eu lembrava da cachoeira. Aquela vozinha aqui dentro perguntava: se o homem inventou a fotografia e eu já tinha visto a cachoeira, que inferno eu fui fazer lá?
Refeita, me arrumei e agora meu dilema era outro: o pessoal almoçava lá fora enquanto eu derrubava o muro de Berlim ali dentro. A poeira, com certeza tinha subido. E a vergonha? Como havia dito, nenhum ser humano normal será capaz de dizer nada a alguém com cara carrancuda. Saí do banheiro com fisionomia de monstro e fui tomar um ar.
Dica número 4: nem sempre vale a pena ser uma lady. Leve papel higiênco para o mato e seja muito mais feliz. Ninguém comentou nada, mas eu ri horrores quando descobri que a fruta meio esverdeada do café-da-manhã era mamão.
Mais algumas fotos da viagem. Pela fisionomia, sem dores de barriga.
Morro do Pai Inácio. Subi, sem guia, às 17h. Não teve sol no dia, então não perdi o espetáculo. Em baixo as crinaças do grupo de capoeira de Ailton Carmo, o ator do filme Besouro.
Depois da entrevista tirei uma fotinha com o rapaz. Descobri que ele nunca tinha sonhado em ser ator e que joga capoeira desde criancinha, quando também aprendeu a guiar os turistas pelos pontos turísticos da região para ajudar na renda da família. Quando digo guiar não é levar até ali. É entrar no mato e caminhar horas ou dias sem que a pessoa se perca ou entre em frias. Foi morar na Bélgica e, quando voltou, empurraram ele para o teste. Passou e agora será a lenda da capoeira brasileira, o Besouro. Vê-lo jogar é de arrepiar e me contou que espera que, com o filme, seus alunos - que são quase 300 na região - se interessem mais pela capoeira.
Abaixo é a prova, para mim, de que seres de outros planetas já visitaram nossa Terra. Este é um paredão que foi recetemente descoberto na Serra da Paridas, em Lençóis, Bahia. É uma pintura rupestre verdadeira comprovada pela Faculdade de Arquelogia da UFBa. Os testes de referência de data ainda não saíram, mas mostra (pelo círculo acima da cabeça do ser e formas do corpo) que os nômades dos tempos das cavernas tiveram experiências ufológicas.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?
Não tenho referência de heróis, pois não acredito nas peripécias deles. Mas algumas pessoas se destacam na vida e estas merecem ser lembradas.
Quando era criança, tinha um menino da mesma idade que eu que “apareceu” aqui na rua. Ele era tão criança quanto eu, mas não brincava muito. Trabalhava enquanto eu me divertia. Era muito negro, muito jovem e apaixonado por bicicletas. Para ganhar a vida, lavava carros. Domingo à tarde, quando todos voltavam da praia com os carros sujos e cheios de areia seu sorriso ficava largo. Ao contrário de muitos, sua cor e sua procedência não o incomodavam, era motivo de orgulho.
Cresci vendo aquele menino lavar carros. Nunca foi uma pessoa com quem eu tive uma relação de proximidade, mas sempre foi alguém que me serviu de referência de obstinação, de boa conduta. Se eu tivesse nascido na mesma condição que ele não sei se teria trilhado o mesmo caminho que o seu.
A família morava no “lixão” da cidade. Em busca de uma vida diferente, abandonou a família e se dedicou a outra atividade. O que teria sido mais fácil? Entrar para a vida do crime ou trabalhar em busca de uma melhoria de vida? Ele optou por trabalhar... Cresceu lavando carros, começou a fazer faxina nos prédios da rua, comprou uma pequena casa e teve uma vida digna. Foi uma das poucas pessoas para quem confiei entregar a chave do meu carro sem medo de perder qualquer coisa que havia ali dentro. Não que meu carro tenha muito valor. Longe disso. A confiança que tinha nele tinha sido conquistada ao longo de anos.
Ele era um rapaz honesto. Digo ERA por que ele se foi hoje. Foi atropelado sabe-se Deus por quem. O motorista da van fugiu e o deixou com várias fraturas expostas ao chão.
De família pobre, foi levado a um hospital público. Sem condições, o hospital não tinha vaga em uma UTI, o que também não lhe garantiria recuperação. Ele não resistiu aos ferimentos e se foi.
Estou infinitamente triste. Um dia, quando eu ainda era estudante, uma professora pediu que escrevêssemos o perfil de uma pessoa com história de vida e resolvi entrevistá-lo, para conhecer mais aquela pessoa que sempre vi, mas nunca soube a real procedência. Daí descobri muitas coisas sobre aquele rapaz, que na verdade era bem mais velho que eu e já tinha conquistado muito mais coisas do que eu teria sido capaz...
Descobri que tinha muitos planos, um brilho nos olhos que eu não era capaz de ter. Ele se sentia um vencedor. Não por ter ficado rico – até porque não ficou - mas porque sobreviveu a um mundo cruel sem caminhar pelo caminho mais fácil: o da criminalidade.
Hoje olho para mim e pergunto: porque lutamos tanto por coisas que não nos levarão a lugar algum? Temos tanto orgulho de quê? Para que queremos ser os melhores? Para que perdemos tanto tempo tentando impressionar pessoas que não nos merecem? Porque dedicamos tão pouco tempo a coisas e pessoas que nos farão mais felizes de verdade? Para quem esse rapaz vai fazer falta?
Estou derramando lágrimas pela sua vida. Não são lágrimas de tristeza. Uma pessoa me mostrou que é possível mudar do quase nada para algum lugar. Um lugar que nunca esperou chegar.
Não tenho respostas para meus questionamentos. Apenas estou muito triste. Muito triste... Não tenho heróis, mas posso dizer que conheci pessoas que venceram na vida.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
VIDA DE NÊGO É DIFÍCIL
Mas, como disse, vida de produtora de televisão não á fácil. Você ficaria com a TV ligada para ver a mesma coisa que viu há um ano no mesmo canal? Agora, imagine que outras equipes de televisão já foram lá centenas de vezes! O que eu posso mostrar sem ser repetitiva? É a arte de reinventar o já inventado e ainda conseguir segurar a audiência. Como sabiamente percebeu o francês Antoine Lavoisier, na natureza – e em televisão - nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Somos um tipo de comunicação em eterna mutação.
Assim que pisar meus pezinhos naquele paraíso, minha primeira parada prevista será em um dos lugares mais belos que já visitei. Chama-se Morro do Pai Inácio. São 1.120 metros de altitude e 250 metros de altura. É de lá que se tem a visão mais completa e bonita da Chapada.
O Morro leva esse nome em homenagem a Inácio, que, segundo conta a lenda, era um escravo que namorava a filha do seu senhor. Perseguido pelos capangas do coronel Horácio de Matos, Inácio teria subido o morro e, sem ter para onde fugir, teria pulado com um guarda-chuvas aberto. Segundo a tradição popular, o escravo conseguiu sobreviver e escapou pelo vale.
Lá no Morro, vamos entrevistar o ator de um filme brasileiro que vai estrear no próximo dia 30 de outubro. Besouro. Um dos filmes brasileiros que estará concorrendo à vaga para concorrer ao próximo Oscar de melhor filme estrangeiro. Vocês já devem ter visto o trailer e é lógico que não vi o filme ainda, mas, confiram abaixo, acredito que é um forte candidato a estatueta.
Bem... Não vou contar, agora, minha previsão para a viagem toda. Assim perde a graça. Mas vou fazer o possível para postar de lá. Na pousada já me avisaram que a Internet só funciona na área da piscina e eu acredito que, nesse lugar, não vou ficar tomando sol de cloro, né?
domingo, 4 de outubro de 2009
BAGUNÇA ORGANIZADA
Domingo à noite, a caminho de um restaurante, resolvi fazer uma parada emergencial num shopping para matar a saudade de um amigo. Ao travar a porta, olhei para a coluna ao lado: G1-D. Não demorei nem 20 minutos. Foi só o tempo de contar duas fofocas, dar dois beijos e tchau, pois tinha um casal de amigos esperando para uma comidinha mexicana. Desço eu cantarolando “vou passear na floresta, enquanto seu lobo não vem...” e começo a procurar o bendito do carro.
De início fui passando o olho despretensiosamente, meio que caminhando com a certeza de que já já chegaria, pois tinha marcado o lugar. Quando olhei atenciosamente ao redor me dei conta da merda em que estava metida.
O estacionamento foi organizado em alas marcadas por cores e letras. Eram 5 cores: azul, verde, amarelo lilás e vermelho. Cada cor vinha acompanhada por uma letra: A, B, C, D, E e F. Ou seja: meu carro tinha 5 possibilidades de lugar para estar, pois eu tinha certeza que estava no G1-D. Mas que cor???
Falando assim até parece simples. Era só caminhar e procurar. Não era. A distância de uma letra para a outra era monstruosa, ainda tinha que mudar de cor até começar tudo de novo e eu já estava passando mal de calor.
Revoltada, comecei a me perguntar por que infernos o demente que projetou aquilo tinha 23 letras para explorar e resolveu complicar a vida de meio mundo de gente usando apenas 6.
Caminhei de um lado para o outro feito uma barata correndo de pizão, olhei o G1-E e no G1-C, que eram os mais próximos do D. Quem sabe eu podia ter me confundido de letra, né? Não custava tentar. Mas nada. Eu andava, andava, andava e quando via já estava na letra A e B. Eram mais de mil carros. Só no G1 e eu vi uns 10 irmãos do meu. Nisso já tinha se passado uns 20 minutos de peregrinação e meus amigos me esperando no restaurante.
Quando meu olho encheu de água, senti vontade de sentar no chão e chorar. Não era só chorar. Eu queria bater o pé, jogar a bolsa no chão, xingar o retardado que pensou que aquela idéia pudesse ser boa e também o acéfalo que aprovou aquela putaria organizada. E se tivessem roubado meu carro? Resolvi pedir ajuda.
Procurei um segurança e, antes de eu abrir a boca, notei que tinham mais 2 pessoas na mesma situação que eu. Passei a placa do carro, cor e provável localização para os rapazes de moto darem uma olhada. Nisso já tinha se passado meia hora e eu morrendo de vergonha de ligar para o casal e avisar: “Olha, me atrasei porque perdi meu carro no estacionamento do shopping!”. Atestado de insuficiência mental. Não dava. Segurei mais um pouco.
Tinham uns 3 motociclistas por “G” para ajudar os clientes. Eles rodaram, rodaram e nada de meu carrinho. Como eu não ia conseguir ficar parada olhando, fui procurando também. Mais 15 minutos e nada do carro brotar. Daí um dos rapazes da moto veio falar comigo. “Ô moça... A senhora tem certeza que estacionou no G1?”. Juro que fiquei receosa de dizer que tinha. Mas eu tinha!!! E se eu tivesse me confundido??? “Moço... Eu não certeza mais de nada. Só sei que entrei nesse inferno desse shopping”.
Via rádio, pediram reforços aos seguranças e motociclistas do G2. Eu já estava morrendo de vergonha, imaginando que iam achar meu carro no outro estacionamento e que ririam horrores da cara da “mulher retardada que nem sabia onde havia largado o carro”. Nada do veículo no G2. Ferrou. “Meus Deus! O que eu fiz com esse carro?”.
Já com cara de impaciente, um deles, que parecia o exterminador do futuro feito de metal líquido (lembram?), me perguntou por onde eu tinha entrado. Disse que, desde o início, já havia explicado para o segurança que tinha entrado pelo acesso 3. “A senhora lembra qual loja viu primeiro quando entrou no shopping?”. Me senti mais anta ainda. “Não moço, eu olhei e gravei a identificação da localização. Achei que fosse suficiente, mas não é.”. Expliquei, mais ou menos, meu percurso até achar uma vaga no que ele exclamou um ar de sabe-tudo da estrela: “Ahhh... Seu carro deve estar lá no setor lilás... Se a senhora tivesse me falado antes... Espera aqui que eu vou lá ver”.
Depois de uma hora, o dito estava certo. Meu humilde possante estava no setor lilás, na área D, como eu havia observado. O motociclista me passou uma olhada de maníaco do parque nas pernas e sugeriu: “Da próxima vez, moça, procure a pessoa certa pra lhe ajudar, pode ser tudo mais prático, viu?”. Só faltou piscar o olho.
Eu mereço?
Resumo da missa: o casal me ligou no meio do bafafá, eu estava mega estressada, contei o que estava acontecendo e eles me chamaram de lerda, disseram para eu parar de beber e, quando cheguei lá, tive que aturar eles me olharem com cara de “admita que você é lerda, vá”.
Não sei o que me deu mais ódio: a putaria organizada do estacionamento, a olhada do homem da moto ou a cara de idiota de meus amigos.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
É DIFÍCIL SER HONESTA
Se num dia comum eu esbravejaria com alguém que coloca coisa alheia em cima de minha mesa, nesses dias eu entro em erupção. O bom é que, no trabalho, ninguém mais me dá atenção nesses dias e tudo passa. O que fica depois dessa ebulição de progesterona é um silêncio envergonhado de 15 dias até a próxima TPM chegar e transbordar toda lava que há em mim.
Já fui pior. Creiam. Faz alguns meses que optei por descarregar parte dessa tensão em sessões semanais de terapia. Ajudou bastante e me fez aprender a calar em momentos oportunos, compreender a incomunicação alheia, sorrir mais... Mas ainda não resolveu.
Assim como tenho aversão a pessoas lentas, tenho horror, não acredito em pessoas boazinhas. Sabe a Rutinha da novela Mulheres de areia? Sim... Ela mesma. A irmã de Raquel. Não acredito que exista alguém assim e detesto todas as pessoas que tentam se passar pelo anjo bom da humanidade.
Acredito em pessoas boas, que querem fazer o bem, que têm a caridade nas atitudes, o amor no coração. Mas não acredito em bondade gratuita. Ninguém tem água correndo nas veias a ponto de outro lhe sacanear o tempo todo e você sorrir e dar o outro lado da face. Isso, para mim, pode ser sinal de inteligência emocional controladíssima ou insuficiência cerebral mesmo. Vamos aos exemplos práticos.
Durante a faculdade fiz muitos amigos, mas também fiz com que muitas pessoas passassem a me detestar. Estou cagando para elas. Sou assim. Provoco sensações, instigo sentimentos antagônicos. Me ama ou me odeia. Ou os dois.
Tive uma professora de Políticas da Comunicação que tem um gênio muito parecido com o meu e, no início, nos bicamos muito. Mas, com o passar do tempo, conseguimos conversar a mesma língua. Um dia larguei uma pérola na sala. “Eu não acredito no sucesso desses movimentos dos ‘sem-tudo’. Sou de família muito pobre e tive que ralar muito pra conseguir alguma coisa na vida. Essas pessoas lutam por coisas que, depois de conseguidas, vão se desfazer em troca de uma grana e continuar no movimento brigando para ganhar de novo. Vão morrer lutando’. Ela, óbvio, discordou de mim, explicou seus motivos e disse para o resto da turma que, em grande parte, protestou veemente à minha argumentação: “Sabe qual a diferença entre Luciana e vocês? Ela diz o que pensa e não é hipócrita para assumir um discurso politicamente correto só para ser bem vista...”.
Acho que foi a sinceridade da minha declaração que conquistou seu nobre coração, pois, a partir daí, desenvolvemos uma amizade grande, sentimento de admiração e respeito mútuo.
Falta sinceridade no coração das pessoas. Não falo de sair por aí ofendendo todos e dizendo verdades desnecessárias só para ser a porreta. Me refiro a uma honestidade com a vida, com o ser humano. Se eu detesto que mexam nos papéis da minha mesa de trabalho, porque vou sorrir e dizer “não tem nada não” quando algum filho da p#!@ bagunça tudo sem minha autorização? Para fazer a média de boa moça? Não. Essa aí não sou, não serei assim para agradar ninguém e detesto esse tipo de gente. É claro que não preciso matar a pessoa, mas é lógico que preciso lhe dizer que, por favor, quando quiser algo meu me peça emprestado e não bagunce a minha mesa. Mordi?
Mostrei um trecho deste post a um amigo. Sabe o que ele me disse? “Você precisa arrumar um namorado” – estou amenizando as palavras dele. Respondi: “Amigo... ‘brinquei’, nos últimos dias, uma quantidade de vezes o suficientemente eficaz para concluir que minha vida hormonal está operando normalmente. O que anda em baixa é o intelecto das pessoas capacitadas para ‘brincar’ direito. Os homens inteligentes não sabem 'brincar', os que 'bricam' muuito bem não prestam e quando prestam são burros”. Resposta: “Você está muito afiada hoje, amanhã a gente se fala, tá?”. Até.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
MEU DESCOMPASSO RELÓGIO
Apesar de os baianos carregarem o apelido de preguiçosos, eu queria conseguir dar vazão a essa preguiça “congênita” que me puxa para o primeiro encosto que avisto. Mas só de pensar em gente assim me dá nos nervos. A vontade que tenho, ao me deparar com alguma lesma disfarçada em forma humana, é puxar pelos braços, sacolejar, dar duas bifas na cara e empurrar ladeira a baixo. Ufa!!! Só de falar me sinto aliviada!!!
Trabalho de 10h a 12h por dia, faço aula de dança, curso de língua estrangeira e tenho algumas sessões médicas semanais (inadiáveis). Vou ao cinema, pelo menos, duas vezes por semana, saio com os amigos, dou atenção a minha filha-sobrinha e ainda encontro tempo para brigar com meus irmãos!!! Nessa rotina, ainda vou incluir uma pós-graduação.
Acho que sou viciada em usar o tempo da forma mais proveitosa possível, só que esse aproveitamento traz conseqüências não muito positivas.
Uma delas é que dirijo com pressa. Muita pressa. Tem horas que sinto vontade de andar com uma mega “pá” acoplada à frente do meu carrinho para levantar todos aqueles veículos, conduzidos por pessoas com síndrome irreversível da lerdeza, e jogá-los para muito, muito, longe – esse desejo é tão latente que estou encomendando um carro de corrida em formato de trator. Eu não consigo entender para que infernos uma pessoa compra um possante 2.0, tracionado, ainda coloca uma porra de um aerofólio e anda a 60km na pista de velocidade, onde o limite é 80. A tremedeira de raiva bate mais “de com força” porque esses seres acham que podem ficar desfilando na pista de velocidade e não dão passagem a quem quer adiantar.
Nessas horas eu queria que meu humilde 1.0 se transformasse no Megatron para eu sair gritando e pisando tudo quanto é gente lerda que eu encontrasse pela frente, lados, costas.
Acho essa pressa péssima, mas faz parte de mim. Como citou a Isa, “tenho síndrome de Gabriela”. Eu nasci assim, vou ser sempre assim...
A outro ponto ruim é que, na hora de dormir, tenho a sensação de que poderia aproveitar aquele momento para fazer outras coisas, como escrever no blog, por exemplo. Enquanto estou acordada o desejo de consumir o tempo manda em mim, me consome. Mas, depois que consigo abstrair o relógio e dormir, uma entidade poderosa toma conta dessa pessoa que vos escreve e não mais me governo. É um santo chamado “sono”. Quando estou de olhos fechados quem manda em mim é ele. Ao acordar, a primeira coisa que penso é derrubar todas as pautas que não sejam o trabalho e voltar para minha cama. É lógico que depois do banho essa sensação passa, a correria começa e minha corrida contra o tempo vira prioridade.
Eis aí o que me consome: correr contra o tempo. A sensação que fica, ao mensurar tudo isso, é que não estou usando o tic-tac dos minutos ao meu favor, pois é o tempo quem me consome, fazendo-me crer que o estou usando da melhor forma. E outra: cada pessoa tem seu tempo para fazer as coisas, o importante é cumprir as obrigações. Não dá para impor minha velocidade aos outros. Tenho essa consciência.
Mas se o mundo não vai andar na minha velocidade, porque não me deixam voar no limite que consigo? Estou matando o tempo para ele não me matar.