quinta-feira, 20 de maio de 2010

NINGUÉM PÁRA NESSA PORRA

Sempre acreditei ser uma pessoa completamente urbana. Talvez seja porque meus pais viajavam pouco com a família e sempre passei minhas férias brincando de baleado e ralando a sola do pé no asfalto quente. Perdi a cabeça do dedão pelo menos uma cinco vezes na infância. Cresci tendo que pegar ônibus para ir até a escola – 50 min de brisa marítima pela cara depois do almoço, sentiu sono? - e quando comecei a trabalhar só pensava em sair para me divertir nas baladas nos finais de semana à noite. A night sem um possante fica bem mais cara e preencher minha vaga na garagem virou quase uma obsessão.

Quando não tinha carro, achava que teria uma vida melhor quando o tivesse. Estudei no bairro mais boêmio do qual tenho notícias: o Rio Vermelho. O pôr do sol visto de lá é perfeito, mas não quando se está em pé no ponto de ônibus há duas horas. Um dia chorei e não foi de emoção por presenciar o horizonte ficar lilás. Míope e vaidosa que sou, não usava os óculos gigantes que minha mãe me impôs, e, depois de horas caminhando junto com a sombra do poste, só percebi que o coletivo que se despedia era o meu quando notei a quantidade de letras fugindo de mim. O que fazer? Sentar e chorar não dava, era rua. Chorei em pé.

No dia em que peguei meu 1.0 na concessionária, pensei: “Enfim, comprei meu direito de ir e vir”. Realmente, posso escolher se ir ou vir pelos congestionamentos que eu quiser na cidade. Antes eu ia ao cinema duas ou três vezes por semana, agora a quantidade continua a mesma, mas a periodicidade é mensal.

De uns tempos para cá, eu passei a vir para casa, deitar e ver um filme no DVD ou um seriado de TV. Para ficar perto do trabalho – e por várias outras circunstâncias – mudei-me praticamente para o lado da senzala. De carro, mesmo no congestionamento mais violento, não gasto 15 minutos entre o fechar a porta e bater meu ponto. Mas como o destino é cruel, descobri que moro no ponto de ônibus.

Relaxem. Não virei moradora de rua. É que resido no meio de uma ladeira fuderosa e que bem em frente às minhas janelas tem a entrada de um bairro movimentadíssimo. Sabe o que acontece quando os carros, ônibus, caminhões e motos querem entrar nesse bairro? Eles têm que parar – no meio da ladeira – e pedir passagem aos motoristas educados na pista oposta. Ou seja: ninguém pára nessa porra e todos os veículos fazem meia embreagem na porta do meu ouvido!!!!
Sempre brinco dizendo que se eu levantar a mão na janela o motorista pára para mim.

Passei a odiar a vida na cidade. Quero sombra e água fresca. Lá, nos “Canfundó do Judas” – cidade imaginária que, se existir, deve ser beeeeem longe –, já deve ter Internet e eu posso baixar todos os filmes, saber de todas as news em tempo real e ainda posso vir duas vezes no mês comprar meu “Victória's Secret”, pois também tenho o direito de ser uma roceira cheirosinha.

A dificuldade agora é que viver bem no meio do mato exige muitos zeros à direita na conta bancária, o que me obriga a viver na cidade por mais uns 100 anos até juntar o necessário para montar minha rede em baixo de uma árvore.

10 comentários:

Desabafando disse...

Pior que eu te entendo porque moro numa rua bem movimentada e também vivo escutando pneus cantando. Afora isso tem acidente com frequência porque o povo desce a rua correndo em alta velocidade, por isso eu gosto de ir pro interior de vez em quando e me isolar por lá. Coloquei uma rede na varanda de casa pra matar minha vontade de ler ao lar livre e admirar as estrelas...rsrsrs...

Déia disse...

Ahh o poder e o querer, sempre nos metendo nesses conflitos!!

Eu moro longe, quase no campo rsrsrs... mas levo meus "tombos" e pego meus trânsitos pra poder manter minha paz! rsrsrs

Mas no fds, ninguem me segura, minha casa é meu reino!

bj

Anônimo disse...

Oie,

Pois é, sou um cara extremamente urbano, não consigo me adaptar a lugares calmos demais.... mas as vezes preciso dessa paz para buscar um pouco de equilibrio.

Gostei do texto!!!

esperançoso disse...

Estava sentindo falta da leitura das suas postagens no seu blog com seu afastamento temporário.

Elisa no blog disse...

Já tive que fazer várias mudanças pelo Japão. Com o tempo, fiz uma lista com 40 itens (tem acento?) como o apto. ou casa ideal. Tenho ficado fiel a ela e não é que esse imóvel existe? Moro na cidade, porém num bairro muito tranquilo.
Estava com saudade de vc. Recomeçamos nosso escambo quando vc quiser.
beijos,
Elisa

Anônimo disse...

Luciana, fiquei muitíssimo feliz por encontrar você lá no meu blog. Estava com muitas saudades de você e dos seus criativos e irônicos escritos.
Adorei esse "Ninguém para...". Você demonstrou que a vida caminha como uma hipérbole. Você foi até onde queria. Custou caro, né?
Agora para voltar, tem o mesmo preço.
Você é mestra nessa criatividade descritiva.
Uma beijoca cheia de carinho.
Manoel.

Unknown disse...

Vou sugerir vc morar no Horto Florestal, pois é centro urbano com cara de roça...rsrsrsrsr

Quando estou em São paulo fico num ap que além de carros, ônibus e caminhões tem os aviões que parecem decolar de dentro do ap... PHoda...

Anônimo disse...

Acho que tá na hora de vc escrever algo sobre o amor!

Ronaldo disse...

Oiiiiiiiiiiiiii

apareceu... tava sumida minha amiga...

tudo em paz?

passando só apra desejar uma excelente semana, depois volto com mais calma

bjsssssssssssssssssss
Ro

! Marcelo Cândido ! disse...

Venha morar em SP
Pra aí sofrer com um trânsito que chega a ser inspirador mas sufocante
!!!