sexta-feira, 29 de maio de 2009

O MELHOR DIA AZARADO DA MINHA VIDA

Percebo o auge do meu mau humor quando começo a rir da minha desgraça. Os mais velhos dizem que esse é um ato de sabedoria. Estou começando a acreditar. Sabe aquele dia em que você podia passar sem? O meu teria sido hoje não fosse meu sarcasmo.

Primeiro ato: acordei atrasada porque não sabia onde tinha deixado o celular no dia anterior (meu fone é meu despertador). Mesmo quando ouvi a hora no rádio, sorri e me desejei um bom dia. “Mais tarde eu tento ligar no meu número para ver se alguma alma caridosa me devolve aquele aparelho de quinta”, confortei-me. Quando abri a porta para sair de casa, cadê minha chave? Bobagem... Minha cunhada levou junto com a dela... Que mal há em bater na porta do vizinho, às 8 da manhã, para ele abrir o portão do prédio? Sorria. O dia está apenas começando.

No trabalho, liguei umas cem mil vezes para o bar que tinha ido na noite anterior até uma voz do outro lado atender. A alma que encontrou meu celular “encosto de porta” não era caridosa. Não houve registro no livro de achados e perdidos. Eu nem gostava daquele modelo mesmo e os contatos eu devo conseguir recuperar nos próximos anos. No stress. Final do dia, a caminho de casa, convenci uma amiga a ir ver um filme no cinema. Quando vi um espaço vazio no estacionamento fiquei até com medo de ser uma área com goteira ou risco de desabamento. Sei lá... Implicância minha, né? O dia tinha tudo para terminar bem.

No guichê, pedi a próxima sessão do filme “Killshot” – tinha certeza que ver a cara esticada de Mickey Rourke ia me fazer sentir melhor ao olhar o espelho. A atendente prontamente destacou e me entregou os ingressos. Despretensiosamente, olhei o ticket para conferir a sessão. Faltavam 20 min. para... “Donkey xote”?????. Sorri um sorriso amarelo (me f...!), voltei e expliquei que ela tinha entendido o nome do filme errado. A coitada me olhou com cara de raiva, pois tinha que esperar o gerente descer para digitar uma senha etc. Resolvi ir lanchar para não perder o horário do filme. Qual o lanche mais rápido? Mc Donald’s!!!

Posso não ter tido sorte ao longo do dia, brinque com tudo, xingue minha mãe, mas não “bula” com minha comida não, na moral!!!! Estava em uma fila que deu problema no pedido da pessoa da frente. Passei para o caixa ao lado e o que aconteceu? Não precisa falar. Quando, enfim, fui atendida, fiz meu pedido: “Promoção do Big Mac, com kuat zero SEM GELO”. O que vem para mim? Coca-cola normal COM GELO! Refiz o pedido. A batata frita veio pela metade. Pedi outra. Quando o refrigerante chegou estava COM GELO. Implorei o certo DE NOVO e, entre mortos de feridos, chegou tudo ok.

Comi soltando fogo pelas ventas!!! Comi não, engoli. Já era a hora do filme e eu ainda tinha que ir buscar o ingresso no caixa. O gerente chegou, não viu a cliente (eu) e não liberou a troca do ticket. Ainda bem que minha amiga explodiu antes de mim. Se eu começasse a falar alto nessa altura do campeonato... O pior é que sempre fico com uma sensação de culpa depois, mas, dessa vez, me contive. Fiquei orgulhosa de mim.

No escurinho do cinema, haja trailer. Dublado de “O Exterminador do futuro” (odeio filme dublado, pior ainda trailer), “A mulher invisível”, “Duplicity'”, “Minhas adoráveis ex-namoradas”, e mais uns 2 ou 3. Quando o filme começou vi uma imagem que parecia familiar... Era “Wolverine”. “Será que entrei na sala errada?”, imaginei. Todo mundo pensou igual a mim e fomos, simultaneamente, reclamar. Estávamos na sala certa e o problema foi na projeção. Pensa que pude analisar logo as cirurgias de Mickey Rourke? Nada... Fui obrigada a ver todos os trailers de novo antes do longa interminável começar.

Apesar de o dia não ter sido dos melhores, joguei o jogo do contente, contei até 10, ri de meu momento infeliz, dei 3 pulinhos e fiz tudo para não deixar a paciência sair correndo. Resisti. Acho que venci minha TPM. Ou será que me rendi a ela? Enfim... A caminho de casa, tive todo cuidado no trânsito, afinal, rir da própria desgraça poderia começar a perder a graça. Nesta noite de sexta-feira, com chuva intensa - em que irei trabalhar no sábado bem cedo - com medo do teto desabar, me pergunto o que mais pode acontecer. Antes de descobrir a resposta, achei mais prudente fechar o computador e dormir.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

FÊMEA BRUTALIDADE

Algumas pessoas arriscam afirmar que meus textos são feministas. Discordo totalmente. Aqui, nessa caixola, cintila uma mente deveras machista em maior parte das decisões. No fundo, eu invejo os homens. Se, um dia, puder nascer de novo, acho que vou entrar na fila da testosterona.

Há coisa melhor que fazer xixi em pé? Nada de sentar em vaso respingado, basta mirar num canto, levantar o rosto, assoviar, dar uma esticadinha no bichano e... Ô alívio!!! Nem vem com essa história de não ter onde lavar a mão, pois isso é coisa de mulher. E o que me diz de coçar o saco? Concordo que é muito feio - e provoca asco - ver, mas, observando a cara de satisfação que eles fazem, duvido que seja ruim. Sentar de pernas abertas sem ter vergonha de alguém estar te olhando não tem preço. Manter um diálogo saudável com uma pessoa do sexo oposto sem ela encarar seus peitos, e achar normal, deve ser confortante. Não se importar com pintar as unhas, fazer sobrancelhas, depilar as pernas, axilas, buço, decote, passar chapinha no cabelo, retocar maquiagem, acordar mais cedo e ir correndo ao banheiro se arrumar para fingir que acordou igual a atriz da Globo. Ufa! Ainda bem que não me lembro de todas as desvantagens, pois, se essa lista crescer mais, vou morrer logo para ver se volto menino. Ahhhh!!! Já ia me esquecendo da melhor parte: não ser taxado de inútil por se recusar a fazer serviços domésticos.

Ser homem deve ser muuuuuuito bom. O que me irrita é a suposta superioridade masculina que impera intrínseca em nossa sociedade. É como se essa verdade fosse tão absoluta que ninguém ousasse contestar. Nem quero entrar no mérito dos séculos que foram perdidos cuidando apenas do lar. Em poucos anos de emancipação feminina, já estamos bem colocadas em setores que antes nos eram proibidos. Daí vem minha revolta, pois os benditos, nem de longe, são superiores. Na verdade, sinto que ser eles supera, em vantagens, ser elas. Se existisse uma balança em que pudéssemos pesar...

Quando, nós mulheres, ganhamos os primeiros brinquedos estes reproduzem como a sociedade espera que nós sejamos. Nos dão miniaturas (cada vez maiores para garantir melhores resultados) de utensílios domésticos, bonecas (que agora tomam mingau e defecam), maquiagem (que depois vão ficando mais caras), sapatos altos (que ajudam a provocar varizes) e nos adestram para sermos dóceis, limpinhas, delicadas e difíceis. Os meninos (esses, sim, aprendem a se divertir), em contrapartida, são estimulados a, quando cair, levantar e continuar correndo, não chegar em casa apanhado, beijar a coleguinha da escola quando ela estiver distraída, quebrar e consertar o carrinho novo e, nunca, por hipótese alguma, usar qualquer coisa rosa. A eles a liberdade. A nós a castração total.

O que fazemos com nossas crianças? Eu tenho uma menininha e nunca tive coragem de dar um carrinho de presente, mas o fogãozinho não fui eu quem dei... O que fazer para sair dessas amarras? Parece que está estabelecido que mulher tem que ser de um jeito – caso contrário não serve pra casar e, neste caso, não prestará para nada aos olhos da maioria – e homem de um determinado modo – senão vira gay e vai ser deserdado. Admiro tanto o desapego masculino em relação a algumas coisas que quase todos os meus amigos são rapazes. Poucas moças conseguem desfrutar de meus sinceros sentimentos.

Apesar de toda admiração pelo universo dos brutos, cá entre nós, ser mulher tem um gostinho especial que só sendo para saber. Basta aproveitar... Qual rapariga não gosta de fazer um docinho quando está morrendo de vontade? Qual mocinha nunca fez um drama com um machucado que nem estava doendo? Ter TPM é muito, ultra, hiper, megamaster ruim, mas, ser mãe é divino. A verdade é que acho que as melhores mulheres que conheço tem uma postura masculina – longe de conotações sexuais. Elas conseguem reunir qualidades de uma feminilidade exuberante e abraçar as coisas boas da masculinidade para se impor e vencer na vida. Grandes homens também precisam da sensibilidade feminina. E olhe que este não é um discurso feminista, tampouco machista, apenas equilibrista.

terça-feira, 19 de maio de 2009

UM DIA DE MIM

Hoje eu queria muito escrever. Mas a mente está tão cansada que deixei sair aleatoriamente o que me vinha à cabeça. Saiu isso. Um dia descubro o por quê...

UM DIA DE MIM
Posso virar-me ao avesso e ainda te sentir aqui de dentro
Quero esgueirar-me pelo muro e ver-te passar correndo
Vou olhar-te escondido sempre que estiver distraído
Sinto teu cheiro suado toda vez que respiro intenso
Ando com o sono virado por não estar ao meu lado
Abraço quem não existe
Beijo meu pesadelo
Durmo como um anjo
Acordo delirando
Você está aqui
Onde só eu posso sentir
Um dia ainda descubro porque te escondi de mim...

domingo, 17 de maio de 2009

HOLOFOTE PARA A DOR

Engraçado como valorizamos as coisas passadas e não reconhecemos como importantes as que estamos vivendo agora. Sentimos saudade de quem foi, mas, na época em que estavam conosco, não pareciam tão importantes. Interessante como preferimos a “homenagem póstuma” à “homenagem em vida”. Acabei de ver o filme "Um ato de liberdade" (Defiance). O longa é uma adaptação poética da resistência de um grupo de judeus ao ataque nazista, nas florestas da Polônia. Daniel Craig, no papel de Tuvia Bielski, interpretou, belissimamente, um hebreu que acreditava no senso de humanidade, mesmo estando em desfavor na guerra e vendo seus refugiados sendo dizimados pelas doenças, fome e conflitos internos. Tuvia foi pintado um “Moisés”. Exageros cinematográficos à parte, lamentei ver aquela história toda e saber que um dia ela, de fato, aconteceu. Não daquele jeito, mas o massacre aconteceu. Lógico que o cinema não reproduz EXATAMENTE a história. Cinema é arte, ficção. Quando tenta, pode reproduzir um reflexo deformado da realidade, mas nunca ela em si. Quem pesquisar um pouquinho mais vai descobrir que o grupo dos Bielskis, em alguns momentos, se uniu ao exército russo, que também oprimiu o povo polonês. Era guerra. Mas uma dúvida não me sai da mente: porque as potências não impediram o massacre de Hitler? Os judeus foram exterminados como ratos. A sociedade de proteção aos animais consegue mais resultados para os bichos que as nações oprimidas conseguiram para seus cidadãos. Quem teve oportunidade de ver o filme "O menino do pijama listrado" (The Boy in the Striped Pyjamas) viu cenas que, acredito, chocaram. O ser humano no estado mais irracional que já vi. Antes de pertencerem a uma religião, eram pessoas que estavam sendo levadas para a câmara de gás, torturadas até a morte, queimadas vivas, sendo usadas em experiências científicas ridículas. Os judeus sofreram muito. Não há como mensurar o que passaram. Mas, me pergunto todos os dias: se sabem o quanto sofreram, porque será que fazem com o povo palestino o que fizeram com eles? Durante a Segunda Guerra Mundial, existiam forças capazes de conter o holocausto. Ninguém interviu, para mim, porque o Estado de Israel precisava de condições propícias para ser criado. Mas, e hoje? Porque o mundo não vê o povo palestino? Será que meus netos vão assistir filmes mostrando o que acontece no Oriente Médio atualmente? Será que Bin Laden vai ser um herói? Quem sabe? Porque não mostrar a verdade AGORA?????? Mesmo antes da Primeira Guerra Mundial, os judeus já estavam sendo levados pra a região onde foi criado o Estado de Israel, em 1948, mais de 30 anos depois. Coincidência, não? O agravante, que não é mero detalhe, é que o povo muçulmano já vivia em Jerusalém desde 1244 d.C. A partir de 1917, com apoio britânico, judeus de todas as partes do mundo migraram para o território do atual Estado de Israel. Eles começaram a comprar terrenos, entrar ilegalmente no país e invadir fazendas em busca de ganhar espaço que justificasse, no futuro, a criação de Israel. Se um dia você chegasse em sua casa e a pessoa descendente dos que viveram lá, 700 anos atrás, tivesse tocado fogo no seu lar, matado seu pai, estuprado sua mãe e sua irmã e ainda te dissesse: “Vá embora! Esse lugar agora é nosso!”, o que você faria? O que você teria a perder? O que vemos, pessoas, nada mais é que o grito desesperado dos que não têm voz, não têm quem os escute, não tem quem os respeite. Eles dizem: “Ei! Prestem atenção na nossa dor!” e nós vemos e nos contentamos apenas o que querem nos mostrar. Essa satanização do islã não é real. Assim como os judeus dizimados no holocausto, os palestinos querem voltar para suas casas, querem paz. Como aqui no Brasil existe o crime organizado, lá existem os grupos extremistas, na Espanha existe o ETA, na Colômbia as Farc e assim por diante. Violência gera violência. Quem elegeu representantes do Hamas? As pessoas que querem ser ouvidas! Quem atirou a primeira pedra? Quem sente dor grita mais alto e o eco pode assustar os que não entendem essa voz. Onde morrem mais pessoas? Em Israel ou na Palestina? A pesquisa, meus caros, fica por conta de quem quiser saber a verdade...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

TEMPESTADE NASAL

Um dia desses, produzi uma matéria sobre etiqueta. Como sentar-se à mesa, qual a melhor forma de comer macarrão, folhas, etc. e tals. Uma curiosidade pessoal não pude deixar de tirar com o especialista: o que fazer para avisar a alguém que suas narinas estão, digamos, com secreções à vista?. Sim. As famosas “melecas” não passam de sujeira acumulada nas narinas misturadas ao suor local. Bonita e simples essa explicação para o não tão belo acúmulo. Nada sutil é avisar: “Olha, tem uma secreção nasal exposta aí em você!”. Não sei se faria assim. O conselho que recebi foi passar a mão, de leve, no nariz, para a pessoa perceber, ou avisar discretamente: “Seu nariz está com uma nuvenzinha”. Se fizer isso comigo nunca mais vou te olhar na cara de tanta vergonha. Bobagem, não é? Também acho. Mas é algo infinitamente mais forte que eu. Todos sabemos que as melecas existem, mas ninguém quer ver a dos outros nem mostrar a sua. Tenho mania de limpeza, quem me conhece, sabe. E asseio no nariz é uma psicose que, às vezes, me irrita, pois gasto mais tempo limpando as ventas que tomando banho. Calma. Não sou uma fábrica de meleca ambulante e por isso demoro horas lustrando minhas narinas. É que uma vez perdi um “namorado” por causa desse inconveniente muco. Eu, adolescente, paquerando o rapazinho dos meus sonhos, roqueiro até a alma e com uma cabeleira preta lisérrima. Na época, tudo que eu queria. “Vamos ao clube com amigos?”, convidei. “Vou tomar banho e desço num minuto”, aceitou. Limpo, lindo... Mas, melequento. Quando a criatura chegou à minha frente eu não enxergava nada além da secreção molhada (pós-banho) saltando do nariz de meu futuro quase ex-amado. Gente. Vocês não têm noção! Tamanho o constrangimento, optei por não falar nada, mas também não encostei nele a tarde toda. O que eu diria? “Olha, tem uma tempestade acontecendo aí no seu nariz” – e ainda podia terminar a frase com um sorriso. O que acha? Que eu devia limpar? Você não sugeriu isso, não é? Vai que ele espirra e aquele negócio goguento voa em cima de mim? Achei melhor não arriscar. Jogamos basquete, sinuca, vôlei, baleado (eu era bem moleque-macho mesmo!!!!), enfim, uma porção de coisas e a nojeira firme lá. Expira sai, inspira entra. Não sei como não sentiu, pois nunca vi uma meleca tão grande em toda minha vida. Pelo tamanho, devia estar pesada. Ele era um fofo. Mas quando olhava para meu cabeludinho, só vislumbrava a meleca verde-escuro (é que depois de um tempo ela secou). Tadinho. Fui horrenda. O que aconteceu? Num determinado momento, ele foi ao banheiro e deve ter visto, ou engolido, se tiver inspirado com muita força, pois, quando saiu, estava com “a barra” limpa. Não adiantou. Nosso relacionamento nunca mais foi o mesmo. Na verdade, acho que o bendito muco nos separou. Anos mais tarde, entendi que uma meleca é só uma meleca. Depois disso, já avisei, com todo cuidado, aos melequentos de plantão que suas mucosas precisavam de novos ares. De fato, fui uma boba. Um verdadeiro amor resistiria a isso – tive outros que resistiram a muito mais -, mas é que eu nem gostava taaaanto dele assim. Hoje, ando com espelhinho na bolsa. Quando sinto alguma mudança climática, aplico logo minhas habilidades meteorológicas adquiridas com a experiência para pressentir temporais nasais. Nesses casos, é melhor não arriscar. O indicado é usar dedo como guarda-chuva.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

THUNDERCATS DO ASFALTO

Cheguei a duvidar que tivesse capacidade de aprender a dirigir. Só de pensar em um carro me fechando em um congestionamento na ladeira da Federação (bairro mais alto de Salvador) eu tinha calafrios. Acreditava que fosse fechar os olhos com as mãos, como faço quando vejo filmes de terror. Tirei a carteira em 3 meses – iam ser 2 e meio, mas uma pessoa mais anta que eu derrubou o protótipo de carro atrás de mim e eu fiz tudo errado. Na segunda vez, suei mais que cuscuz, mas passei. Êêêita orgulho!!! Aposentei o RG e passei a apresentar a CNH. No início, era uma forma indireta de mostrar a todos que eu era habilitada, mas... Na verdade, só andava de buzão e nem tinha perspectiva de poder comprar um carro. Toda vez que saía com meus amigos não bebia só para voltar dirigindo, porque, sem álcool no juízo, eles não me davam o volante e, quando o faziam, eu não podia mudar de faixa, ultrapassar nenhuma lesma, passar de 60Km, olhar para o lado e tinha que frear assim que visse o sinal vermelho. Mesmo assim, tinha prazer em dirigir. No fundo, acho que queria ganhar prática, confiança, experiência de rua, que, só o dia a dia permite. Era medrosa, mas ousada. Com todo senso crítico, me acho uma boa motorista, mas, hoje, ambiciono o teletransporte. Será a perfeição. No stress. Quando comprei meu carro, descobri o primeiro arranhão ainda na concessionária, mas a vontade de entrar no meu possante, com cheirinho de novo, era tanta que eu nem me importei. Um arranhão bobo... Infelizmente, confirmei isso quando outros começaram a aparecer. Apesar de ser ultra, hiper, megadesastrada, desde que tirei a carteira não cometi nenhuma infração de trânsito, não bati e nunca encostei no carro de ninguém. Mas, o primeiro arranhão não se esquece. Você vê o carro a 10m de distância e só consegue enxergar o maldito arranhão de 1cm embaixo do retrovisor. Na minha cabeça, ele atravessava o carro. Pura ilusão de neurótica. Fui colocar placa e, na entrada do DETRAN, creiam, um caminhão (isso mesmo, um CAMINHÃO!!!) quase passou por cima de mim. Pelo menos foi essa sensação que tive quando ouvi o barulho daquela caçamba enorme encostando ao meu fundo. Saí do carro parecendo uma louca: “M-e-u c-a-r-r-o n-o-v-o P-O-R-R-A-A-A-A-A-A-A-A-A-A-A!!!!!!!!”. Quando vi o arranhão, fiquei puta da vida. Esse, sim, tinha uns 30cm. Um engraçado passou gritando: “Já batizou, foi?”. Só dei o dedo como resposta. Enfim, o caminhoneiro disse que entrei na frente dele e eu disse que ele queria me atropelar e ficou por isso mesmo. Já sabe como é... Mulher dirigindo carro sem placa não tem credibilidade – e olhe que ninguém sabia que minha carteira ainda era permissão. Entrei para colocar a placa e agradeci a Deus por não ter sido algo pior. O arranhão da concessionária começou a ficar pequeno. Aos poucos, fui entendendo que o veículo é um bem material – de grande valor – mas, não dá para ter apego, pois ele vai acabar se rodar ou se ficar parado. Só para vocês terem ideia de como sou cuidadosa, ainda tenho bonecas, em bom estado, de quando eu era bebê. Ou seja, as bonequinhas também estão balzaquianas. No início, desapegar desses arranhões foi difícil. Mas estou conseguindo. O segundo grande risco aconteceu por excesso de prudência. Fui ao teatro e, para não estacionar na rua, deixei num local pago, porém, com um manobrista que tratou de esculpir uma mancha branca nele. Dessa vez arrancou até a tinta (foi escultura mesmo!). Estou processando a rede de estacionamento, pois - creiam - eles alegam que o arranhão não foi lá e que eu devia ter preenchido uma ficha de check list do veículo. Alguma vez alguém te ofereceu essa ficha quando você estacionou? A mim, não... Hoje de manhã, para começar o dia e a semana bem, ao sair do prédio vi uma obra de arte amarela no meu para-choque dianteiro. Ô ódio!!!! Graças a Deus ele não durou 5 min. Mesmo tendo carteira há pouco tempo e com mínima experiência de trânsito, aprendi que não posso manobrar além de onde enxergo. Mas, devido à visão além do alcance de muitos condutores thundercats, meu carrinho parece mais um alvo de dardos. Dia desses, uma vaca louca abriu a porta com tanta força e... Mais um arranhão!!! O que eu posso fazer? Matar? Morrer? Me estressar? Nada. Meu único trauma, juro, é não estar “destruindo” meu bem. É saber que os outros o estão fazendo por mim. Com essa chuva que caiu em Salvador, tem uns 20 dias que não consigo lavar o carro. Ou seja, não vejo os arranhões. TPM vai ser quando a sujeira sair e eu perceber minha pintura metálica virando porta de banheiro público.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

COROA, CARA?

Sou viciada em e-mails de trabalho. A primeira coisa que faço ao chegar em casa é conferir se alguém me mandou nova mensagem, pois o prazer de abrir um link novo me faz colar os dedos neste teclado. Quando fazemos o que gostamos fica difícil separar divertimento de obrigação. As coisas se confundem e as pessoas começam a achar que somos loucos. E, na verdade, somos! Esse tipo de confissão não se faz, a menos que realmente não se importe mais com o que os outros pensam de você. Ganhei um ponto comigo quando deixei de me importar.
Dia desses, às vésperas de entrar para a lista das balzaquianas neurastênicas, recebi um texto quase provocativo: “Mulher brasileira não sabe envelhecer”. Me recusei a ler. Achei que aquele não era o momento adequado para tomar conhecimento de uma realidade irrefutável. Estou en-ve-lhe-cen-do-o-o-o-o-o! Mas, depois de uns dias pensando friamente, quando não estive? Em algum momento o tempo parou para você? Se sim, me avisa que vou procurar, agora, com quem reclamar! Não nasci, e tenho certeza de que você também não, como o personagem de Brad Pitt, Benjamin Button, enrugada e rejuvenesci com o tempo. Desde que demos o primeiro suspiro, ligamos um cronômetro, que não sentimos nem vemos, mas também não podemos parar, nem ele tem botão de pausa para tomarmos decisões. Se o tempo não pára a ponto de ficarmos eternamente com 20 anos, ele também não breca diante das possibilidades que surgem a cada momento. E apenas a experiência, ou a inovação, permite-nos desfrutar de cada situação como ela merece.
Hoje, menos trêmula com a responsabilidade de ser um motor 3.0 e tracionado nas 4 rodas (sim, o tempo nos traz potência!), abri o e-mail. Nenhuma meganovidade no corpo do texto, mas me chamou a atenção o resultado da pesquisa: entrevistas feitas com mulheres brasileiras e alemãs concluem que essas últimas é que sabem envelhecer. Elas, segundo a autora, se preocupam mais com aspectos “intelectuais” e dão menos importância ao estereótipo, que faz com que nós, brasileiras, tenhamos pânico do envelhecimento. De acordo com o mail, somos aficionadas por esconder gordura, flacidez, decadência do corpo, medo, solidão, rejeição, dentre outras qualidades citadas. Pode ser que a pesquisa tenha validade do ponto de vista quantitativo, mas seu resultado não pode ser absoluto, pois a opinião das mulheres entrevistadas representa apenas um estado brasileiro, o Rio de Janeiro. Você participou da entrevista? Conhece alguém que respondeu às perguntas? Eu não.
Até concordo que as mulheres têm medo de ficar velhas, mas não consigo acreditar que as de outro país não tenham. É a cultura brasileira? Para mim, é apenas mais uma pesquisa que tenta provar como os brasileiros são atrasados em relação aos europeus. Mania de civilização perfeita. Deletado o e-mail, me pergunto: desde quando ser jovem é sinônimo de beleza? Onde está a juventude? Nas atitudes, na mente ou no corpo? Para mim, em tudo. Conheço inúmeras pessoas bem mais novas – leia-se, com menos idade – que esta que vos escreve e que parecem ter sido esculpidas há séculos e em molde de cupido. O oposto também acontece.
O problema, para mim, não está em envelhecer, mas sim na forma como as pessoas encaram isso, no peso que conotamos ao que é velho. Apesar da angústia, nos primeiros dias de Balzac na minha vida, acho que nunca vou me sentir velha, pois o tempo me traz, a cada dia, mais e mais, qualidades, sensações e sentimentos que pessoas de menos idade vão ter que esperar para ter, sentir e conseguir aproveitar. Não existe comportamento esperado para uma mulher em nenhuma faixa etária. Quero mesmo é nunca deixar de me sentir garota. Rir alto ao telefone, sentir friozinho na barriga quando se está apaixonada, ficar vermelha ao ser pega fazendo algo de errado e inventar a desculpa mais esfarrapada do mundo, brigar com a mãe e se sentir na razão, ter vergonha de falar em público e a ousadia de perguntar: E DAÍ? A diferença é que agora sei valorizar e viver cada uma dessas situações. Coroa? Vou buscar a minha, pois, de princesa, virei rainha e acabei de dar um xeque-mate.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

DEMÊNCIA DE DOER

Meu sonho de “não consumo” é me tornar uma pessoa ecologicamente correta e, dentre outras coisas, vegetariana. Já consigo recusar certas embalagens. Se o invólucro engana muita gente, no presente só serve para rechear o lixo. Mas meu grande mal ainda é a carne. Nem posso ir a exposições de bovinos, pois tenho vontade de dar uma abocanhada no bichinho ali mesmo. De barriga cheia, penso no sofrimento do animal... blá-blá-blá etc. e tal... Mas, aí, não tem mais o que fazer... O jeito é continuar tentando. Na verdade, tenho medo é de um dia os seres irracionais, esses que transformamos saborosamente em sanduíche, nos transmitirem doenças realmente pandêmicas, pois o mal da vaca louca (atualmente com um caso suspeito em BH), a gripe aviária (cujos novos casos estão sendo avaliados no Egito) e a suína (que está tocando o terror sem ter chegado ao Brasil) foram, e estão sendo, mais estardalhaço e conjecturas de sensacionalistas em busca de audiência. Fiquei realmente surpresa agora, ao abrir o site de um jornal que considero de grande relevância, e ver um link falando sobre a meningite do filho de Cláudia Leitte. Normal. Se tem gente sem ter o que fazer, que precisa saber como está o filho dela, tem que existir alguém para escrever sobre isso. O que isso muda na minha vida? Absolutamente nada. É a maldita da audiência que nos persegue. Só para ter ideia do retardamento mental de determinadas pessoas, a morte do ex-marido de Suzana Vieira me rendeu grandes discussões. Faz um tempo que alguém comentou comigo algo sobre a morte do rapaz. Mostrando meu interesse pelo assunto, perguntei quem era ele. A pessoa me olhou com uma cara de “QUE JORNALISTA DESINFORMADA!!!”. Putz!!!! Aquele ar de doutoranda em assuntos medíocres me deixou furiosa. Por que todo mundo acha que jornalista TEM que saber de tudo? Não temos que saber de nada além do que nosso trabalho exige. Se vou fazer uma matéria sobre um assunto, fico expert nele. Pesquiso tudo e mais um pouco. E, como não cubro bastidores do mundo das drogas, jamais saberia quem era o ex-marido de Suzana Vieira. Vamos combinar, tenho muito mais o que fazer a ficar lendo esse tipo de coisa. Armar minha cachola me custou caro para eu me gastar com isso. Achei até normal a nota sobre a meningite do filho da cantora baiana. O que não engoli, sem dar muitas gargalhadas, foi a sugestão para o leitor deixar um recado de apoio à mamãe, hábito popularizado pela mídia on-line norte-americana, claro. Como não bastasse o link, os leitores deixaram muuuitas pérolas. É uma pena eu achar que não é ético citar o jornal. Mas vou comentar dois posts que achei o máximo. A isso eu não quis resistir. Logo um dos primeiros comentários diz que “é uma pena saber que uma doença que mata mais que a Aids e a dengue ainda não tem vacina liberada... São 16 pessoas que morrem todo dia no país...” (esse é um dado do leitor, pois minha megaeditora me avisou que esse número chegou a 23, somente na Bahia, em 2009). Velhooooooo... Pense numa mãe que está com o filho na UTI. Isso é tudo que ela precisa saber!!! Que o baby dela pode somar mais um na estatística, falsa, ainda por cima. Enfim... O bom senso mandou lembranças ao leitor. Outra mensagem diz: “Bom, Claudia Leitte, neste momento, você mais do que ninguém, precisa de apoio, embora deva saber que você também é um ser humano passível de enfermidades e algumas, dinheiro nenhum pode recuperar. Pense nisso”. Ribanceira abaixo, os internautas disseram de tudo: das mensagens de ódio (acusando-a de imitadora e mãe desleixada) às do mais tenro amor de fãs, que desejam a melhora do bebê. Eu desejo, assim como desejo também que muitas outras pessoas que estão em leitos de hospitais públicos, sem a menor assistência, melhorem e vão para casa... Deus é quem sabe se a cantora vai ler esses comentários. Liberdade de expressão? Concordo totalmente com bônus extra – que só a redundância me permite. Mas não é do seu filho nem de você que estão falando lá. Com a cidade alagada e tantas doenças à solta, me tranquei nesse meu mundinho para tossir sozinha. Não é gripe suína, garanto. É engasgo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

CONTABILIZANDO MONOSSÍLABOS

Apesar de passar o dia inteiro falando no trabalho – acho até que já tenho calo nas cordas vocais –, quando chego em casa ainda tenho necessidade de falar. Se não conversar, enlouqueço! Quando não tem ninguém em casa, entro no MSN só para tornar verbo o que não diz respeito ao meio profissional, divagar, gastar minha cota de palavras do dia. Li num livro que uma mulher pode falar até 20 mil palavras por dia, enquanto um homem consegue, com muito sacrifício, falar umas 7 mil. Como se não bastasse falar mais, fazemos isso duas vezes mais rápido. Vivo isso no meu dia a dia e descobri a importância desse conhecimento para um bom relacionamento com os produtores da testosterona. Único homem da família, meu irmão chega em casa cansado justamente por ser obrigado a falar em serviço. Ele precisa se comunicar. Minha cunhada passa o dia vendendo carros e fala tanto, ou mais, que eu. Em época de crise, vender carro 0Km exige uma certa persuasão e, por conseqüência, muita conversa. Depois de chegar com uma cara de surdo-mudo, de tanto ouvir a esposa tagarelar no caminho e não retribuir nem com um reles monossílabo, o diálogo da noite ao abrir a porta:
- Cunhaaaaa! Você não tem noção da cliente chata que eu atendi hoje... etc. etc. etc. – começa ela.
- Rapaz, você viu que o Governo da Bahia vai abrir os documentos da ditadura militar no estado? – pergunto, sem resposta, ao meu irmão.
- Cunha, por que a mãe de Maya (da novela “Caminho das Índias”) levou o bebê dela? – indagou, já vendo novela enquanto prepara um lanche.
- Aff!!! Amanhã tenho que produzir uma matéria sobre o bairro dos Barris, etc. etc. etc. – lembrei, durante o comercial.
Nesse meio tempo, eu e ela já falamos do carro batido da vizinha, do vestido novo que comprei... Enfim, nos empenhamos em gastar nossa cota não utilizada. Meu irmão, ao contrário de nós, precisa apenas do barulho do click do mouse. Ele não responde a nossas interpelações nem com um leve aceno de cabeça. Ignora nossa presença. É homem. Só consigo ser assim quando estou no auge de minha TPM, mas aí o mal é infinitamente pior, pois acumulo uma quantidade elevada de palavras para usar nos dias posteriores e ninguém suporta ficar ao meu lado. Até meu consciente pede aos neurônios, por favor, para darem um tempo. O que acontece em minha casa é reflexo de muitos lares, homens calados e mulheres tagarelas. Fui casada, confesso. Experiência que não indico nem ao pior dos inimigos. Agora, sou capaz de compreender boa parte das brigas que perdi. Em vez de minha cunhada, meu ex era quem morava conosco. Dois homens e uma mulher dividindo o mesmo teto. Eu chegava em casa e nem as paredes me ouviam, isso quando não tinha uma tropa de peludos, fedendo a suor e muita cerveja, que me ignorava até eu começar a gritar e expulsá-los. Aviso às meninas: quando os homens se reúnem, parecem entrar numa aposta de quem é mais nojento, detonando flatulências tão explosivas quanto fétidas; arrotam, um tentando fazê-lo mais alto do que o outro; zoam, um da performance sexual do outro colega e, quando lembram, falam de mulheres, geralmente das que nunca vão conseguir ter. Palavra de quem ouve o papo deles há anos. Sim... Quando não eram os ogros reunidos, era algum filme com explosões, pouco diálogo e muito sangue. Eu consigo ver um filme e conversar tranquilamente, sem deixar nenhuma das duas atividades a desejar. Se duvidar, ainda escrevo um post ao mesmo tempo. Os rapazes – sem ofensas, é apenas uma constatação – têm dificuldades em fazer várias coisas ao mesmo tempo. No livro que li, explica que esse comportamento é fruto da evolução deles, de falar pouco e se concentrar para não afastar a caça. Meu irmão acabou de acordar. Se eu não conversar logo sobre as contas da casa e aproveitar sua cota de palavras no início, vou me ferrar. É melhor eu procurar uma calculadora, daquelas que conte palavras.

domingo, 3 de maio de 2009

MEU NOME É NARCISO

Tenho tentado ser diferente para melhor agradar, mas não consigo. Só sei ser eu, não outra. No máximo, metade outra e metade essa que penso ser eu. A outra é aquela que eu queria ser sempre. A do altar, aquela que só sou de vez em quando – e isso com muito esforço. A garota – ainda não digeri a ideia de não ser mais garota!!! – domada, sorridente, legal, precisa nas intenções, delicada, contida, calma, carinhosa, leve como a brisa. Quando sou essa, me sinto nos braços da paz, porém, engarrafada, entalada, cozinhando em uma panela de pressão, quase um gênio da lâmpada histérico, ansiando o menor roçar para sair. Ou, melhor e ao meu estilo, explodir e, de brisa, virar um tufão, uma tempestade. Sendo eu, sou o oposto de tudo isso. Calma é a química prometida no tarja preta que tomo diariamente para conseguir viver em sociedade, principalmente quando tenho que lidar com os “eus” alheios, com pessoas que acham – acham não, acreditam – ser o centro do universo. Tipo uma estrela maior que ilumina a tudo e a todos e tem absoluta convicção de que a vida depende do seu brilho. Nesses momentos, meu vulcão entra em erupção, a lava borbulha e... a outra entra em ação e me trancafia num compartimento de análise até a chuva passar. É incrível como conheço pessoas sem noção ao ponto de tornar um favor uma obrigação. Certa vez uma colega disse: “Não gosto desse seu sapato”. Minha resposta foi no automático: “Como ele é meu, quem tem que gostar sou eu e você não me perguntou o que eu achava do seu antes de calçar”. Grossa? Fui até delicada. Minha resposta foi à altura da falta de bom senso dela. A outra, que fica aqui dentro, nem precisou se achegar. Diga-se de passagem, tratava-se de um sapato Maria Bonita. Há quem não goste e não compre, mas se eu gosto, compro e uso, por que tenho que ouvir, sem ter pedido, uma opinião que não me interessa, de alguém sem importância que acredita ser balizadora de ideias? Depois de ter meu espaço invadido, não posso dizer o que penso para não ser malvista? Por quê??? Para não ofender? A pessoa não percebe quando está abrindo os braços em excesso e invadindo o quadrado alheio? Ou será que eu é quem deveria explodir e fazê-la perceber que não é o astro-rei? Falo no singular, mas se trata de um plural. Um plural infinito elevado ao cubo. O sangue ferve, queima, evapora, escorre e volta ao seu curso normal. Nessas horas, aflora a outra, que se esconde aqui dentro e finge ser eu. É o equilíbrio natural das coisas. Acho que, na verdade, ela é minha salvação. Porque se eu fosse eu o tempo todo, não viveria. Mas o que é viver? É ser eu, a outra, ou essa mistura indissociável que somos? Não tenho dupla personalidade. Relaxe. São apenas questões freudianas de uma mente feminina em período de TPM. Minha editora (sim, sou chique, tenho uma editora “voluntária”), comentou sobre um livro que afirma que as pessoas que alimentam blogs não noticiosos são narcisistas, precisam de atenção, desse espaço para chamar de seu, dessa atenção que você dá, nesse exato momento, a mim. Não me importo. No momento em que penso na resposta a essa provocação, a outra vem chegando devagarzinho, toma conta dos meus dedos e me manda embora.