terça-feira, 29 de setembro de 2009

É DIFÍCIL SER HONESTA

Não reparem na minha velocidade esses dias. Estou no início de uma TPM daquelas e todos os sentimentos ficam vorazmente mais à flor da pele. A verborragia está correndo solta e se eu não botar pra fora o que está no cabeção sou capaz de pirar.

Se num dia comum eu esbravejaria com alguém que coloca coisa alheia em cima de minha mesa, nesses dias eu entro em erupção. O bom é que, no trabalho, ninguém mais me dá atenção nesses dias e tudo passa. O que fica depois dessa ebulição de progesterona é um silêncio envergonhado de 15 dias até a próxima TPM chegar e transbordar toda lava que há em mim.

Já fui pior. Creiam. Faz alguns meses que optei por descarregar parte dessa tensão em sessões semanais de terapia. Ajudou bastante e me fez aprender a calar em momentos oportunos, compreender a incomunicação alheia, sorrir mais... Mas ainda não resolveu.

Assim como tenho aversão a pessoas lentas, tenho horror, não acredito em pessoas boazinhas. Sabe a Rutinha da novela Mulheres de areia? Sim... Ela mesma. A irmã de Raquel. Não acredito que exista alguém assim e detesto todas as pessoas que tentam se passar pelo anjo bom da humanidade.

Acredito em pessoas boas, que querem fazer o bem, que têm a caridade nas atitudes, o amor no coração. Mas não acredito em bondade gratuita. Ninguém tem água correndo nas veias a ponto de outro lhe sacanear o tempo todo e você sorrir e dar o outro lado da face. Isso, para mim, pode ser sinal de inteligência emocional controladíssima ou insuficiência cerebral mesmo. Vamos aos exemplos práticos.

Durante a faculdade fiz muitos amigos, mas também fiz com que muitas pessoas passassem a me detestar. Estou cagando para elas. Sou assim. Provoco sensações, instigo sentimentos antagônicos. Me ama ou me odeia. Ou os dois.

Tive uma professora de Políticas da Comunicação que tem um gênio muito parecido com o meu e, no início, nos bicamos muito. Mas, com o passar do tempo, conseguimos conversar a mesma língua. Um dia larguei uma pérola na sala. “Eu não acredito no sucesso desses movimentos dos ‘sem-tudo’. Sou de família muito pobre e tive que ralar muito pra conseguir alguma coisa na vida. Essas pessoas lutam por coisas que, depois de conseguidas, vão se desfazer em troca de uma grana e continuar no movimento brigando para ganhar de novo. Vão morrer lutando’. Ela, óbvio, discordou de mim, explicou seus motivos e disse para o resto da turma que, em grande parte, protestou veemente à minha argumentação: “Sabe qual a diferença entre Luciana e vocês? Ela diz o que pensa e não é hipócrita para assumir um discurso politicamente correto só para ser bem vista...”.

Acho que foi a sinceridade da minha declaração que conquistou seu nobre coração, pois, a partir daí, desenvolvemos uma amizade grande, sentimento de admiração e respeito mútuo.

Falta sinceridade no coração das pessoas. Não falo de sair por aí ofendendo todos e dizendo verdades desnecessárias só para ser a porreta. Me refiro a uma honestidade com a vida, com o ser humano. Se eu detesto que mexam nos papéis da minha mesa de trabalho, porque vou sorrir e dizer “não tem nada não” quando algum filho da p#!@ bagunça tudo sem minha autorização? Para fazer a média de boa moça? Não. Essa aí não sou, não serei assim para agradar ninguém e detesto esse tipo de gente. É claro que não preciso matar a pessoa, mas é lógico que preciso lhe dizer que, por favor, quando quiser algo meu me peça emprestado e não bagunce a minha mesa. Mordi?

Mostrei um trecho deste post a um amigo. Sabe o que ele me disse? “Você precisa arrumar um namorado” – estou amenizando as palavras dele. Respondi: “Amigo... ‘brinquei’, nos últimos dias, uma quantidade de vezes o suficientemente eficaz para concluir que minha vida hormonal está operando normalmente. O que anda em baixa é o intelecto das pessoas capacitadas para ‘brincar’ direito. Os homens inteligentes não sabem 'brincar', os que 'bricam' muuito bem não prestam e quando prestam são burros”. Resposta: “Você está muito afiada hoje, amanhã a gente se fala, tá?”. Até.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

MEU DESCOMPASSO RELÓGIO

Sou hiperativa. Não daquelas de conversar com alguém pulando ou dando cambalhotas, mas dessas de estar dirigindo balançando a perna, falando ao telefone e conversando com outra pessoa ao lado e digitando um documento ao mesmo tempo. É estranho, pois quando estou fazendo uma coisa só, me sinto uma desocupada. É como se meu subconsciente dissesse: “Ei, você tem 2 braços, 2 pernas, 2 ouvidos e 2 olhos. Vamos gastar isso?”. O negócio é que a cabeça é só uma – pelo menos nas mulheres - e, às vezes, ela cansa de enviar tantos comandos ao mesmo tempo.

Apesar de os baianos carregarem o apelido de preguiçosos, eu queria conseguir dar vazão a essa preguiça “congênita” que me puxa para o primeiro encosto que avisto. Mas só de pensar em gente assim me dá nos nervos. A vontade que tenho, ao me deparar com alguma lesma disfarçada em forma humana, é puxar pelos braços, sacolejar, dar duas bifas na cara e empurrar ladeira a baixo. Ufa!!! Só de falar me sinto aliviada!!!

Trabalho de 10h a 12h por dia, faço aula de dança, curso de língua estrangeira e tenho algumas sessões médicas semanais (inadiáveis). Vou ao cinema, pelo menos, duas vezes por semana, saio com os amigos, dou atenção a minha filha-sobrinha e ainda encontro tempo para brigar com meus irmãos!!! Nessa rotina, ainda vou incluir uma pós-graduação.

Acho que sou viciada em usar o tempo da forma mais proveitosa possível, só que esse aproveitamento traz conseqüências não muito positivas.

Uma delas é que dirijo com pressa. Muita pressa. Tem horas que sinto vontade de andar com uma mega “pá” acoplada à frente do meu carrinho para levantar todos aqueles veículos, conduzidos por pessoas com síndrome irreversível da lerdeza, e jogá-los para muito, muito, longe – esse desejo é tão latente que estou encomendando um carro de corrida em formato de trator. Eu não consigo entender para que infernos uma pessoa compra um possante 2.0, tracionado, ainda coloca uma porra de um aerofólio e anda a 60km na pista de velocidade, onde o limite é 80. A tremedeira de raiva bate mais “de com força” porque esses seres acham que podem ficar desfilando na pista de velocidade e não dão passagem a quem quer adiantar.

Nessas horas eu queria que meu humilde 1.0 se transformasse no Megatron para eu sair gritando e pisando tudo quanto é gente lerda que eu encontrasse pela frente, lados, costas.

Acho essa pressa péssima, mas faz parte de mim. Como citou a Isa, “tenho síndrome de Gabriela”. Eu nasci assim, vou ser sempre assim...

A outro ponto ruim é que, na hora de dormir, tenho a sensação de que poderia aproveitar aquele momento para fazer outras coisas, como escrever no blog, por exemplo. Enquanto estou acordada o desejo de consumir o tempo manda em mim, me consome. Mas, depois que consigo abstrair o relógio e dormir, uma entidade poderosa toma conta dessa pessoa que vos escreve e não mais me governo. É um santo chamado “sono”. Quando estou de olhos fechados quem manda em mim é ele. Ao acordar, a primeira coisa que penso é derrubar todas as pautas que não sejam o trabalho e voltar para minha cama. É lógico que depois do banho essa sensação passa, a correria começa e minha corrida contra o tempo vira prioridade.

Eis aí o que me consome: correr contra o tempo. A sensação que fica, ao mensurar tudo isso, é que não estou usando o tic-tac dos minutos ao meu favor, pois é o tempo quem me consome, fazendo-me crer que o estou usando da melhor forma. E outra: cada pessoa tem seu tempo para fazer as coisas, o importante é cumprir as obrigações. Não dá para impor minha velocidade aos outros. Tenho essa consciência.

Mas se o mundo não vai andar na minha velocidade, porque não me deixam voar no limite que consigo? Estou matando o tempo para ele não me matar.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

DEBAIXO DOS CARACÓIS...

Analisando minhas fotinhas, senti-me um camaleão de peruca. Cabelo curto, comprido, cacheado, escovado, fio reto, repicado, em “V”, castanho, preto, vermelho sangue. Brancos ainda não – pelo menos!!! A verdade é que as madeixas mudam a cara, o astral e a auto-estima de qualquer mulher. Se os cabelos estão belos 50% de chance de o humor piscar no verde limão.

Nada melhor que alguém te encontrar e dizer: Nossa... Sua voz continua a mesma, mas seus cabelos... Quaaaanta diferença!!!

Agora me diga aí: como posso achar meus cabelitchos lindos assistindo às novelas Globais?

É impossível!!! Tenho pena das meninas que crescem assistindo Malhação e tomam o cabelo das atrizes por padrão a ser esticado. Basta observar como mudaram os fios de Camila Pitanga, Cristiane Torloni, Angélica, Daniela Mercury, dentre outras mil. Não sei que tipo de ácido poderoso a Globo dá para esse povo beber que os cabelos brotam lisinhos lisinhos do cabeção.

Eu moro na Bahia, velho, e 80% das pessoas aqui têm cabelos crespos e cacheados. Mas ninguém mais quer ter cachos! Ditadura das escovas!!! Inventaram mil nomes: progressiva, inteligente, ionizada, japonesa, etc. e tals. Mas não adianta!!! Pau que nasce torto nunca se endireita.

O povo daqui inventa de escovar o cabelo e ir pular atrás do trio. Quando o suor começa a derramar – lógico, não há Xuxa que não derreta atrás do Asa de Águia, em Praia do Forte, num calor de 30 graus – a raiz do arame dá aquela repuxada e mostra todas as farpas. Ôu, mái!!! Se perder o prendedor de cabelo vai ser um pega pra capá - confusão em baianês!

Não ia nem citar as moçoilas que deixam a cabeleira escovada por uma semana. No quinto dia os fios já estão tão tão tão engordurados, do sol e suor, que fica aquele aspecto de macarrão unidos venceremos. Se cair um fio todos caem juntos em solidariedade. O que era para ter ficado belo vira sinônimo de imundície.

Estou na fase de valorizar os meus fios compridos e encaracolados. O negócio é que só lavo cabelo no salão. Não sou rica, longe disso. É que não levo o menor jeito para hidratar com um creme Mega Master Blaster Plus Advanced e dar o brilho que meus tão humilhados cachinhos merecem. Passo por todo um processo para ele cachear.

Fico meia hora apertando, apertando, apertando ele com as mãos até ficar tudo formadinho. Formou? Daí tenho que esperar secar com o pescoço duro – tipo com torcicolo - pois se um cacho cair para a frente ferrou. Uma vez caído o “molho” não fica mais a mesma coisa.

Tenho uma amiga que me disse que já se trancou no carro com o ar condicionado ligado para o cabelo secar mais rápido!!! Não dá, né? Além da grana da cabeleireira, do creme plus ainda tem a gasolina! É mais barato raspar a cabeça e adotar um visual punk!

Para mim, cabelo molhado só de dia, não dá para sair na night com as madeixas molhadas – não o meu que é volumoso e não seca. Ah! E tem as meninas que jogam 1Kg de creme na cabeça e depois fica tudo escorrendo na roupa ou nas costas. É uma meleca!

Vocês já observaram que, até nas propagandas de produtos hair, os cachos não são naturais, são todos feitos de babyliss?

Porra, velho!

Minha sobrinha-filha tem os cachinhos mais lindos do mundo e um dia desses pediu à minha mãe para passar chapinha no cabelo para ir para a escola. Pense numa criança de 4 anos batendo pé para passar a maldita “pranchinha”? Parecia aquele menino que só queria fazer "cocô" na casa do Pedrinho! Achei aquilo o cúmulo do absurdo e dediquei um dia de conversa a fim de lhe convencer, para todo o sempre, que seus cabelos são lindos e que seus cachos são maravilhosos.

Se aprendermos a valorizar, e gostar, do que temos, desde pequenas, com certeza, nos aceitaremos e teremos uma auto-estima mais concreta.

Mas como ela pode acreditar nisso vivendo em uma cultura onde o padrão de beleza capilar exige cabelos lisos, ralos, louros e brilhantes? Não dá... Respeitem os meus cachinhos!!!

domingo, 20 de setembro de 2009

CONFUSÃO ASTRAL

Sempre acreditei em astrologia, a ciência dos astros. Creio porque sinto a resposta em mim, ou, pelo menos, sentia. Não se trata daquele signo que sai no jornal todo dia e que te diz para usar uma roupa vermelha, um batom rosa, um sapato roxo e que seu número de sorte é 696969.

Entendo a astrologia como um efeito borboleta em nossas vidas. Quando você nasce, uma série de coisas está em andamento e, tudo que está acontecendo naquele exato momento, vai influenciar sobre quem você é e vai ser. Não vejo isso como determinismo, mas como uma predisposição para você ser de um jeito. Mas tudo pode mudar.

Sou a ariana mais típica que você pode imaginar. Impaciente, mandona, vingativa, colérica, superprotetora, zelosa, extremamente possessiva, não tolera infidelidade nem a perdoa facilmente, boa companheira, sonhadora, romântica, volúvel. Prazer. Esta sou eu. Os detalhes dos quais me envergonho omiti, afinal quem manda aqui sou eu.

Meu ex-marido, para fazer jus ao signo, me arrumou até um par de chifres enormes – sem ressentimentos – daqueles que dão voltas e voltas e voltas. Não ache que sofro com isso. Pelo contrário, também temos signo lunar, que é mais ou menos a posição da lua quando nascemos, que influencia em quem seremos. Também tem meu ascendente, que é virgem, o que me possibilitou ter características boas o suficiente para deixá-lo vivo e com menos ódio no meu coração. Áries é fogo, virgem é terra. A fogueira pode ser feita em cima da terra, mas jogada em cima do fogo a terra o apaga. Graças a isso meu ex está sorrindo em algum lugar.

Ser de Áries, o primeiro signo do zodíaco, do elemento fogo, que tem a cabeça como o centro do corpo, foi um orgulho! Amo ser ariana. Eu tinha uma amiga leonina que, quando eu cedia a uma crise histérica, daquelas de pular feito uma louca e espumar só porque alguém havia me contrariado, ela ria e dizia: “Olha que ariana! Calma ariana!”. Teve um dia que fiquei toda sorridente, pois uma pessoa altamente linda me disse que os arianos eram os melhores amantes. Daí pensei: “É meu! É meu! É meu!”. A verdade astrológica veio em seguida. “Mas amam num dia e desprezam no outro”. Pôxa, não dava para lembrar disso depois?

Cresci achando que sabia quem eu era, até uma astróloga me informar que, na hora em que eu nasci, o sol já regia o signo de touro. Ou seja: eu sou, segundo ela, uma taurina. O importante é não deixar de ter chifres – tenho que rir da situação para não morrer de ódio, né?!

Fiquei arrasada! Quem sou eu? De onde eu vim? Para onde eu vou? Hã? Quem é você? Eu te conheço? Crise existencial. O que importa onde estava o sol na hora em que nasci? E se tivesse chovendo? Mas, de fato, quem sou eu? Aquela que dizem que sou, aquela que me sinto ou a que me vejo? Queria que passassem uma borracha em mim e me reescrevessem de novo.

Passei dias e dias digerindo a situação, li muito sobre o assunto e relaxei. Eu sou essa que construí me misturando. Que sorri para chorar, odeia para amar, cai para levantar, sonha para viver, se contradiz para se afirmar, enxota para acariciar. Sou simples, não é?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

HIPOCRISIA CIVILIZATÓRIA

Existem certas coisas que são comuns a todos, como as necessidades fisiológicas, que tomo como exemplo, hoje, para postar o selinho que ganhei de Aninha Leme. Minhas palavras sinceras tem tudo a ver com o balão do selinho abaixo.
É extremamente estranho como todos nascemos defecando, urinando, distribuindo flatos pela atmosfera. Isso é até um bom sinal quando chegamos ao mundo, pois significa que o bebê está bem e já pode ir descarregar as necessidades em casa. Ao crescer, essa noção de vida se inverte de tal forma, que todos perdemos o intestino à medida que tomamos conhecimento do que é o mundo esteticamente correto. Ninguém mija, nem caga nem peida. Tem gente aí do outro lado que deve estar me achando “umazinha” por falar publicamente sobre isso. Quem for flagrado portando – ou largando, o que é pior – alguma fisiologia por aí pode perder, para toda a eternidade, o ar de elegância, inteligência e sensualidade conquistado ao longo de uma vida.

Essa aversão a “escatologias fisiológicas” está tão presente em nossa cultura que é sinônimo de imundície para quem os profere abertamente. A hipocrisia ridícula me dominava até hoje. Não mais.

Sabe aquele gato? Moreno, alto, voz sussurrando ao pé de ouvido, músculos bem distribuídos em todos os graus, mãos fortes. Maior pegação, suor - suar pouco, pode, né? Sudorese já entra para a lista de escatologias – e, de repente, um PRRROOOOCCCCC. O moço nem abre o olho enquanto você arregala os seus dois e congela a imagem até decidir se cai na risada, tampa o nariz ou sai correndo. Foi um pum, um peido, um flato, que vem do latim flatus, e que é uma composição de gases altamente variável, expelida pelo ânus. Sim, o que conhecemos popularmente como “cu”. Na hora, leitores, o gato vira rato e eu evaporo.

Isso não aconteceu comigo. Garanto. O que mudou minha opinião conto nos parágrafos que seguem. Mas... Alguém faria diferente? Não se trata de um namorado de anos (se for recente vira ex rapidinho) nem de um marido. É um paquera recente com curriculum bem encaminhado no setor pessoal. Você contrataria esse serviço?

Eu tive uma amiga que foi casada uns 3 anos e o marido dela jurava que a esposa não tinha intestino. O caçador de puns me garantiu que quando ela saía do banho ele entrava correndo para ver se descobria algum gás nobre se dissipando pelo ambiente. Como ela conseguia fazer “isso” só na hora do banho? Ela não ligava para as flatulências, por cima e por baixo, dele, mas ficava vermelha só de ouvir falar nos gases próprios.

O que me aconteceu hoje foi o seguinte: estou eu na casa de uma pessoa que tem a família mais bem dotada de beleza da cidade. O irmão dessa pessoa é a coisa mais graciosa que existe. A lindeza estava tomando banho quando cheguei e já imaginei o corpinho esbelto passeando de toalha na minha frente no caminho do quarto. Antes de ouvir o “nhéééééc” da porta, senti o odor de um gás que parecia ter sido expelido dos confins da Terra, através de um vulcão em estado latente de erupção. Como uma coisinha tão linda pode carregar dentro de si uma granada daquele porte?

Mas daí me veio o questionamento: “O que tem de anormal nisso?”. As pessoas nascem, crescem e morrem. Tudo que entra sái. O cara tem um intestino que funciona bem, né? Pelo menos é saudável... É uma hipocrisia muito grande viver como minha amiga fingindo que não tem quase 9 metros de intestino transportando bosta dentro de si!

Nas aulas de antropologia, aprendi que, um dia, a sociedade passou por um processo civilizatório em que a nobreza distinguia-se da plebe pelos costumes. O hábito de comer de mão, odores do corpo, jeito de comer, de se comportar foi mudando a forma de ser visto por uma necessidade de o homem nobre ter atitude civilizada, que não lembrassem um animal, o que de fato ele era e continua sendo.

Temos tanto nojo dessas comprovações fisiologicamente humanas de vida que somos capazes de deixar de amar um homem que não faz a barba, não arranca os pêlos excedentes do nariz, não está devidamente “depilado”, etc. e tals. O mesmo pode ser dito das mulheres que, geralmente, são mais cobradas ainda que os rapazes no que diz respeito a “educação”.

Enfim... O tema do selo é sobre as palavras sinceras que interessam. Aí vão minhas palavras sinceras: um peido solto não mata, um arroto livre não prejudica o caráter de ninguém e as fezes vão para onde têm que ir. Pior é a hipocrisia que deixa preso dentro o que pode provocar infecção intestinal e colaborar para o apodrecimento de uma massa cinzenta já prejudica pela necessidade do esteticamente correto. Pronto, falei!

Mas, na moral, se puder evitar, vá peidar pra lá!!!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

IMAGINAÇÃO FÉRTIL

Fui intimada a postar um selo, mas gostei. O título me trouxe lembranças engraçadas, que me fizeram gargalhar muito e sentir imensa saudade de um tempo que não volta. Ainda bem que os tive um dia. Quem me indicou foi minha digníssima irmã Sandrinha que vocês insistem chamar de Alê. Dá no mesmo. As benditas regras são:
1 - Listar alguma coisa que, quando criança, achávamos que seria legal, mas que na realidade não era (ou não foi) tão legal assim.
2 - Repassar para pessoas de imaginação fértil.

Vou listar algumas coisas que achei que seriam legais. Mas eu só achei...

Quando eu era criança pequena – é que agora me acho criança grande – achava que poderia fazer experimentos científicos que iriam revolucionar a ciência moderna. Aqui no meu prédio tinha uma planta de folha impermeável, que quando a água batia escorria sem molhar. Eu achava aquela a planta mais diferente do mundo e tinha a convicção que se eu tirasse algum líquido dela e injetasse em outra poderia gerar um novo tipo de planta que me tornaria a criança mais inteligente do mundo. Motivada por uma amiga mais acéfala que eu, fizemos a experiência. Só descobri que caldo de planta fede pra k.r.l.o.

Eu já disse que sou normal. Mas um dia, eu e minhas amigas de infância – inclusive Sandra (entrego logo que não vou ser louca sozinha) – inventamos de construir uma cabana de papelão entre o nosso prédio e o vizinho. Nossos pais nos achavam um rebanho de retardadas, mas permitiam. Criança é criança, pô! Um dia levamos vela, óleo, uma lata de leite vazia e milho de pipoca. O que vocês acham nós tentamos fazer? Acender a vela para esquentar o óleo e fazer pipoca!!! Loucura, loucura, loucura. Pelo menos não pegou fogo e uns dois carocinhos estouraram. Quase saímos nos tapas para decidir quem seria a premiada que poderia comer a pipoca feita na cabaninha - o detalhe era que elas nadavam no óleo.

Quando chovia, tínhamos um trabalho do cão colocando lona para não derreter o papelão. Não adiantava muita coisa, pois a água escorria pelas paredes e nossa cabana virava uma espécie de piscina de lama. Faz uns dois anos que os filhos das minhas amigas de infância pediram à mãe para montar uma cabana para eles e meus sobrinhos (nossas gerações conseguiram reproduzir nossa amizade). Ri muito, pois a mãe deles montou uma barraca de camping em um lugar bem melhor que o da nossa casinha. É uma pena que eu tenha nadado com os ratos e eles não mataram nem uma baratinha para manter a cabana deles em ordem.

Não podia deixar de contar que a imaginação de Alê, uma vez, quase me aleijou de tanto apanhar. Minha mãe costurava e a máquina dela tinha uma cabine de madeira. Toda vez que meu pai queria dar uma coça na gente ele pegava uma tira da madeira e dava uma dúzia de bolos na mão de cada filho. Éramos 3 meninas e 1 menino. O que a irmã mais velha e inteligente faz? É óbvio! Escondeu “o pau da máquina”. O pai virado no cão fez o quê? Na hora da surra diária (todo dia alguém perturbava e todos apanhavam) painho pegou a colher de pau e deu na gente até o maldito do pau da máquina aparecer. Ô ódio!!!

Ahhh!!! Tem uma história que é a segunda melhor de todas! Como nossos pais não deixavam a gente ter nem um bichinho de estimação, sabe o que pegamos para “criar”? Um pneu!!! Não riam. É sério. Essa viagem aí eu nem sei como explicar, mas o borrachudo virou uma espécie de bichano e nós brigávamos para ficar um pouco com ele. No dia que nossa mãe obrigou a gente jogar “aquele lixo” fora choramos rios de lágrimas.

A melhor de todas, acreditem, era colecionar grilos. A gente ficava nos matos em torno do prédio se acotovelando para ver que conseguia pegar mais grilos. Os grandões nós até amarrávamos um cordãozinho para segurar como um cãozinho. Como, é óbvio, que os pais não deixavam a gente entrar em casa com eles, criávamos os monstrinhos em vidros de maionese até eles “morrerem de tristeza” e cederem lugar à próxima vítima.

Como eu tinha mania de querer ser cientista, um dia achei um grilão pretão e achei de abrir a bunda do bicho com uma seringa e enchê-la de graxa. Depois larguei o coitado no chão que nem conseguia pular de tanta graxa no fio-ó-fó.

Não fiz nada disso por maldade nem loucura, gente. Era apenas uma menina de apartamento cheia de imaginação nutrida por uma irmã mais velha com dons visivelmente assassinos – além da surra que me fez tomar (várias) ela quebrou meu queixo duas vezes. Hoje, juro, não tenho mais vontade de matar grilos... Grilos não tem graça... hehehehe...

Não tenho para quem repassar, pois todos os blogueiros que passam por aqui são os mesmos que passam no cantinho de Sandra. Mas quem teve a imaginação irrigada com estrume, assim como eu, sinta-se à vontade e me avise para eu ler.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

INTOLERÂNCIA À BURRICE

Acredito que um grande mal que tem gerado muito conflito no mundo, hoje, é a intolerância religiosa. Essa semana tive uma briga muito feia com alguém que amo muito por causa disso. Não tenho religião, mas sou apaixonada por livros, filmes, palestras, cursos e qualquer coisa que possa me proporcionar conhecimento sobre todas as religiões. Consequentemente, tenho horror a quem descrimina qualquer prática religiosa. Cada um tem a sua e a amizade continua.

Mesmo não seguindo nenhuma prática, defendo todas elas. Não por acaso, uma pessoa especial começou a desfazer dos praticantes do candomblé em minha frente, o que me fez descer do salto, rodar a baiana e o resto vocês podem imaginar. Confusão total. O ser humano é evangélico e acredita que a religião afrobasileira é coisa do demo. Ela tem o direito de achar, cada um acha o que quer. Mas de onde vem essa autoridade para uma pessoa julgar sua crença superior a outra? Se cada um ganha autoridade à medida que pratica uma doutrina, então o mundo vai virar um inferno, pois todos vão tentar provar e impor sua prática aos outros. E quando alguém não aceitar? O pau come! Assim não dá!

É muito complicado falar sobre isso, mas temos um exemplo em casa. O que os europeus fizeram quando chegaram ao Brasil? Catequizaram os índios. E os negros? Foram proibidos de cultuar seus ancestrais. E se os árabes tivessem chegado antes ao Brasil? Seríamos todos muçulmanos e iríamos usar tanta roupa até desidratar nesse calor infernal.

O pior de tudo é que intolerância gera intolerância. Nunca pensei que pudesse discutir feio com alguém defendendo algo que nem me pertence. Mas no momento em que a discussão começou eu não queria impor nada, apenas que a pessoa percebesse que não poderia desfazer da religião alheia, já que aquilo magoaria alguém na mesma proproção em que ficaria magoado se alguém falasse o mesmo de sua crença. Mas o ar de superioridade do ser humano me tirou do sério. Fiquei com vergonha de minha atitude - calma, não bati em ninguém - mas ofendi bastante alguém que amo e jurei nunca discutir religião com ninguém, pricipalmente com as pessoas que não sabem relativizar. O que é bom para mim pode não ser para você e um texto nunca pode ser discutido fora do seu contexto.

Abaixo segue o fruto de algumas pesquisas, que resultaram em matérias para o programa que produzo e edito matérias.

Esse vídeo é sobre o Bembé de Santo Amaro, uma festa dos praticantes do candomblé para os orixás. Ela sempre acontece no dia 13 de maio como forma de agaredecer pela libertação dos escravos.



É um festejo muito bonito, só acho uma pena que o que era tradição religiosa está virando, cada vez mais, uma festa profana e o cunho religioso está ficando muito restrito ao espaço do terreiro.

O vídeo abaixo fiz para mostrar como é o casamento na umbanda, que, diga-se de passagem, é considerada a primeira religião verdadeiramente brasileira. Existem os que discordam, mas eu acredito que seja.



O vídeo abaixo não é bem religioso, mas mostra como a cultura indiana - incluindo a prática religiosa - se reproduz aqui na cidade.



O pessoal do programa já sabe que curto o tema religioso e sempre que temos cobertura de algo relacionado sou eu a escalada para fazer. Já mostramos a festa de Santa Bárbara (Iansã), de Nossa Senhora dos Navegantes (Iemanjá), de São Roque(Omolu), a famosa do Senhor do Bonfim (Oxalá). Enfim... É uma pena que nem todas estão no youtube e que também não possa fazer matéria sobre tudo. Fiz um documentário mostrando como vivem muçulmanos convertidos aqui em Salvador. Um dia mostro para vocês.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

MAS MÃE...

Tenho compartilhado com vocês bons momentos em que extraio graça da desgraça – como presenciar alguém chupando a dentadura – então não posso deixar de contar os bons.

Depois de dois dias estudando “como filmar” uma cena de cinema, senti vontade de ir a uma sala ver algum besteirol. Quem poderia ser melhor companhia que a filha-sobrinha-adotiva-de-coração? Hoje foi a pré-estréia da animação da Disney-Pixar, "Up -Altas Aventuras”. Direto de um mega-congestionamento liguei para casa e avisei para a pequena não dormir, pois a sessão seria às 21hs.

Em casa, cansada, pensei em não ir, mas depois de ver um largo sorriso me esperando na porta desisti de desistir... Mas custava bem pouco tentar fazê-la renunciar ao passeio quase “madrugal”.

- Filha... Mamãe acha que no dia das crianças você vai ganhar roupas e sapatos. A bicicleta grande quem vai te dar é Papai Noel no natal. – Quem sabe ela não se chatearia e iria dormir zangada?

Dois segundos de silêncio se passaram até ela criar coragem de largar a pérola.

- Mas como ele vai trazer minha bicicleta sem quebrar?
- Como assim?
- Ele vai trazer a bicicleta inteira dentro do saco? Ele vai quebrar, mãe!
- Vai não, filha! O saco dele é bem grande e cabe a bicicleta inteira.
- Mas tem outro brinquedos, mãe. Minha bicicleta vai quebrar.
- Ele quebrou seu lap-top, quebrou?
- Então tá – sorriso tímido. Mas no dia das crianças eu quero uma bota. Agora “vumbora”, mãe?

As coisas são simples, né? Quem complica são os adultos... Sem sinal de desistência, tentei apelar para os olhinhos apertadinhos.

- Filha. Seu olho tá vermelhinho de sono. Você vai dormir no cinema. É melhor deixar´para outro dia.
- Não é sono não, mãe. É que eu estou com fome - desculpa esfarrapada para comer comida do meu prato.

Quem mandou prometer? Agora tem que cumprir!! Na metade do caminho ela já estava roncando. Ainda bem que não fui a única tia-mãe-louca que levou uma criança de 4 anos para a sessão das 21hs. Tinham mais uns 5 capetinhas correndo com ela ao redor da fila. Pensei:

- Quando minha baby crescer vai amar cinema. Quem sabe não pode ser uma cineasta?

Ao pisar na sala as pérolas começaram a desabrochar da concha.

- Mãe, tá muito escuro.
- É assim mesmo, filha. É para você ver o filme melhor.
- Mas não é filme, é desenho.
- Mas aí você vê melhor, olhe.
- Mas com luz também dá para ver.
- Chhhh! Já está começando.

Alguns segundos de boca fechada.

- Mãe? Tá muito alto esse cinema. Onde baixa o som?
- Não pode baixar filha. No cinema o som é alto mesmo.
- E quem liga essa televisão?
- Não é televisão, filha. É uma tela de projeção.
- É o quê????

Afff! Como explicar??? Era mais fácil descrever como nascem os bebês!

- Ta vendo ali em cima? – apontei para a sala de projeção – Tem um homem lá que liga o DVD para a gente ver o filme daqui.
- E o homem entrou por onde?
- Láááááá pelo outro lado.

Um olhar começou a buscar o que seria o outro lado.

- Essa televisão é muito grande e faz muito barulho.
- Agora o filme começou, olhe.

Atenção totalmente voltada para a telinha até um casal começar a gargalhar ao nosso lado.

- Manda esse homem calar a boca mãe!
- Olha o filme, filha. A casa está voando...

Muchochos seguidos de mais muchochos olhando de cara muito feia para o casal que estava gargalhando horrores.

- Mãe. Tô com frio.

Tirei meu casaco, enrolei nela como um cobertor e coloquei-a no colo para me esquentar também, caso contrário a ponta dos meus dedos já estariam em estado de putrefação. Um, dois, três, cinco minutos de silêncio. Fiquei preocupada. Alguma coisa estava errada.

- Filha?

Sem resposta. Já estava no quinto sono. Ela pode até não ser uma cinéfila, nem cineasta. Pode até odiar cinema. Não podemos criar uma projeção/expectativa para alguém que vai escolher que caminho seguir. Cada um trilha sua estrada. Somos como instrutores de auto-escola. Ensinamos a ligar o carro, mas quem vai dar a partida é o fututo motorista.

Dentre tantas possibilidades, tenho uma certeza. Minha baby já sabe questionar com inteligência, sem perder a ingenuidade da infância. Só não vou deixá-la aprender a chatice da mãe, o que é quase impossível. Esse, sim, é um caminho sem volta - rsrsrs.

P.S.: Vale conferir "Up -Altas Aventuras”. Caso levem algum pequeno, prefiram uma sessão mais cedo . Essa sexta estará nos cinemas. Boa diversão.