quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PARADA GAY DA BAHIA

"Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei... Pra você correr macio...". Não vou falar mal do tempo de novo. É apenas uma forma de explicar para vocês porque deixei meu cantinho por alguns dias. Se me propus a estar aqui com vocês - e gostei - terei que arrumar um tempinho. Cá estou eu e todos os meus dedilhares, agora, são de vocês.

Domingo teve Parada Gay aqui em Salvador e eu fui gravar uma matéria lá. Desde a sexta anterior à Parada, a previsão do tempo era de um dilúvio e eu não tinha uma Arca de Noé. No sábado fui dormir mega tarde na festinha de aniversário de um grande amigo me confiando na chuva. Só me permiti dormir tarde porque acreditei nos meteorologistas. Quando eram umas 2 da madruga olhei e o vi céu cheio de estrelas. Pensei: "Óhh, ôu!!!! São Pedro, por favor, faça chover já!!!". Acho que falei baixo, pois ele não me escutou. Fui para casa correndo, mas sonhei o resto da noite com eu rezando para chover, pode? Isso já aconteceu com vocês? É muito estranho e ao mesmo tempo engraçado. Você não sabe se o sonho é sonho ou realidade e você acorda meio desesperada para saber o que está acontecendo.

Quando abri os olhos a primeira coisa que fiz foi correr para a janela com as outras pessoas da equipe me ligando desesperadas: "E aí, velho, derruba essa pauta aí, tá com cara de que vai chover!", alegou um. "É lógico que vai cair o maior pé d'água", previu outro. Nem uma gota caía do céu. Abriu um solzão e e fui trabalhar bem zumbi. Não podia dizer ao diretor do programa que a pauta caiu porque eu achei que ia chover. Ele ia me dizer que também "achava que eu ia ter emprego no outro dia". A TV tem que ir ao ar, com ou sem chuva.

É impossível ficar com uma gota de mal humor naquele lugar. É muita cor, muita irreverência, muito glamour e muita, mas muita,vontade de mostrar ao mundo que o amor é lindo.

Segundo os representantes do GGB, a Bahia é o estado em que mais se mata homossexuais no Brasil. Somente este ano, até outubro, foram 19 casos. Achei incrível a informação de que aproximadamente 80% das pessoas que foram à Parada não são gays, mas pessoas simpatizantes ao movimento.

Como entrava em tudo quanto era buraco e subia em todos os trios para fazer imagens, vi de tudo, e mais um pouco, que vocês possam imaginar. Vi homem e mulher se azarando como no carnaval. Eu estava vendo a fita depois da gravação - chama-se decupar - e no meio de uma entrevista vi, no segundo plano - atrás da cena principal - um rapaz segurando uma moça pelo braço. Ela olhou, gostou e beijou. A lambança demorou uns 50". Cada um foi para o se lado e tchau I have to go now. Vi várias cenas dessas ao longo da Parada, que, diga-se de passagem, acontece no trajeto do carnaval oficial, a Avenida Sete de Setembro.

Da mesma forma que vi coisas legais, vi muita coisa que julgo ser feia, como a pornografia a céu aberto. Entendo que a cirurgia de mudança de sexo seja um troféu para alguns homossexuais. "Eu tenho e vocês - os outros gays - não têm!". O problema é que ele ganha um orgão sexual feminino e quer mostrar para todos. Teve uma criatura em cima de um trio que o fio dental começava no umbigo e ia até as costas. Exatamente. Um fio dental na "perereca". Outros transsexuais, quando viam a câmera, tiravam o sutiã e balançavam tudo, como se eu quisesse ver. Fora alguns gays que pareciam me odiar por eu ser mulher, heterossexual, e estar ali.

Enfim... Muitos realmente estão ali para protestar contra o preconceito, a homofobia e a violência a que os homossexuais estão submetidos na vida machista em sociedade, mas também existem os que estão estão ali apenas pela gandaia. Esses últimos não estão preocupados com a imagem que se constrói no imaginário popular do que é uma Parada Gay e de sua importância. Mas, como em qualquer lugar, não devemos julgar um todo pelo caso particular de alguns. Os peitos delas eram lindos, mas eu preferia ficar olhando os gogoboys dançando...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O BESOURO MANGANGÁ

Acho que já falei sobre o filme Besouro algumas vezes aqui no blog. É que sou apaixonada por cinema e o lançamento de bons filmes, principalmente os brasileiros, me deixa eufórica. Quando digo que sou cinéfila não é apenas porque gosto de me arrumar e ir comer pipoca no escurinho. Amo o fazer cinema. Observar como a cena foi filmada, os planos selecionados na edição, o tipo de lente que foi usado, a produção do cenário, a trilha sonora, o texto, a interpretação dos atores, a montagem, o roteiro. O cinema é arte não apenas pela história final, mas por um todo que compõe a obra.

Para os curiosos, posso adiantar que Besouro, no conjunto, é um filme bom e vale a pena ser visto. Vi a pré-estréia na última quarta-feira, dia 21/10. A estréia será dia 30/10, próxima sexta-feira. Em uma hora e meia, ele traz ao grande público a história de um personagem, de uma luta, a mitologia e um cenário tipicamente brasileiros. Isso, por si só, já é um mérito.

Para quem não conhece a história farei um brevíssimo resumo. Besouro foi um capoeirista que era um misto de vingador e desordeiro. Lutando pelos interesses dos negros, e seus, ele tocava o terror com os donos do poder econômico e político. Depois da libertação dos escravos, algumas vezes os coronéis se recusavam a pagar pelos trabalhos nas usinas de cana-de-açúcar. Certa feita, reza a lenda, ele segurou o coronel pela camisa e o obrigou a efetuar-lhe o pagamento. Era avesso a policiais, que não conseguiam pegá-lo, e lutava capoeira com a proteção dos orixás. Tinha o corpo fechado. Essas, e várias outras histórias, são contadas nas rodas de capoeira através dos cânticos.

Para mim, o primeiro problema do filme acontece devido à mistura de cenários. A história, real, de Besouro se passa em Santo Amaro da Purificação e o filme foi, em grande parte, filmado na Chapada Diamantina, região completamente diferente e densamente povoada por exploradores de ouro e diamante, e não escravos. Em busca de uma fotografia mais atraente, a locação real foi substituída. O filme é ruim por isso? Não. Continua sendo bom.

O diretor do filme optou por preparar um não-ator, que joga capoeira muito bem, para representar o Besouro. O menino é um excelente capoeirista, mas está longe de ser ator. Sua voz, ao que me pareceu, foi dublada, e algumas cenas ficaram sem a expressão corporal necessária para imprimir a emoção vivida pela lenda da capoeira. Em compensação, a expressão facial dele favoreceu às cenas mudas.

Estudamos, desde a escola, a mitologia grega, mas desconhecemos totalmente a história dos Deuses africanos que foram trazidos para o Brasil, os orixás. O problema, para muitos, é que tudo que é tipicamente afro-brasileiro (nossa origem) não presta e, o pior, é endemonizado. Enfim... Não estou aqui para falar de religião, mas um dos méritos do filme, para mim, seria esse. Digo seria porque não acredito que a obra conseguiu passar a importância do candomblé para os ex-escravos, que inclusive agradecem aos orixás pela sua libertação. Mas, não há como negar, as cenas em que Besouro recebe a proteção dos orixás são lindas. A fotografia é perfeita, a luz foi usada a favor das filmagens e o cenário (embora não represente o ambiente real) foi muito bem montado.

O que me incomodou muito em Besouro foi o roteiro sem amarração e o texto do filme. Esperei, com ansiedade, uma luta ápice e não achei. Busquei entender porque aquele capoeirista foi o escolhido e, no filme, não tive resposta. Tentou-se falar de muita coisa ao mesmo tempo – capoeira, candomblé e escravidão – e o produto final não foi denso o suficiente para validar a obra. Fora o texto dos atores que não representam o linguajar dos recém libertos escravos. Teve até escravo com sotaque carioca! Para equilibrar, o capataz, Noca, tem uma atuação exuberante e suga toda a atenção quando aparece. Você acredita no ódio que ele sente por Besouro, mas não coloca fé no sentimento dos escravos.

Depois disso vocês devem achar que eu não gostei do filme. Não creiam. Besouro é um longa bom e, creio, vai cair no gosto popular. Quem sabe em breve não poderemos conhecer outra lenda da história brasileira através da tela dos cinemas? Só espero que orçamento do filme seja menos gasto em efeitos visuais – a verba foi de leis de incentivo fiscal - e a atenção esteja mais voltada para o conteúdo da obra.

Esta é a minha opinião, que também não é unânime, mas é minha. Espero que vejam e depois voltem para comentar.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

TODAS AS MULHERES PRECISAM LER...

Mais historinha de e-mail...

Belinha acordou às seis, arrumou as crianças, levou-as para o colégio e voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático em Artur, o marido, e de trocarem cheques, afazeres e reclamações.

Fez um supermercado rápido, brigou com a empregada que manchou seu vestido de seda, saiu como sempre apressada, levou uma multa por estar dirigindo com o celular no ouvido e uma advertência por estacionar em lugar proibido, enquanto ia, por um minuto, ao caixa automático tirar dinheiro.

No caminho do trabalho batucava ansiedade no volante, num congestionamento monstro, e pensava quando teria tempo de fazer a unha e pintar o cabelo antes que se transformasse numa mulher grisalha.

Chegando ao escritório, foi quase atropelada por uma gata escultural que, segundo soube, era a nova contratada da empresa para o cargo que ela, Belinha, fez de tudo para pegar, mas que, apesar do currículo excelente e de seus anos de experiência e dedicação, não conseguiu.

Pensou se abdômen definido contaria ponto, mas logo esqueceu a gata, porque no meio de uma reunião ligaram do colégio de Clarinha, sua filha mais nova, dizendo que ela estava com dor de ouvido e febre.

Tentou em vão achar o marido e, como não conseguiu, resolveu ela mesma ir até o colégio, depois do encontro com o novo cliente, que se revelou um chato, neurótico, desconfiado e com quem teria que lidar nos próximos meses.

Saiu esbaforida e encontrou seu carro com pneu furado.
Pensou em tudo que ainda ia ter que fazer antes de fechar os olhos e sonhar com um mundo melhor.

Abandonou a droga do carro avariado, pegou um táxi e as crianças.

Quando chegou em casa, descobriu que tinha deixado a porra da pasta com o relatório que precisava ler para o dia seguinte no escritório!

Telefonou para o celular do marido com a esperança que ele pudesse pegar os malditos papéis na empresa, mas a bosta continuava fora de área.

Conseguiu, depois de vários telefonemas, que um motoboy lhe trouxesse a porra dos documentos.

Tomou uma merda de banho, deu a droga do jantar para as crianças, fez a porcaria dos deveres com os dispersos e botou os monstros para dormir.

Artur chegou puto de uma reunião em São Paulo, reclamando de tudo.
Jantaram em silêncio.

Na cama ela leu metade do relatório e começou a cabecear de sono. Artur a acordou com tesão, a fim de jogo. Como aqueles momentos estavam cada vez mais raros no casamento deles, ela resolveu fazer um último esforço de reportagem e transar.

Deram uma meio rápida, meio mais ou menos, e, quando estava quase pegando no sono de novo, sentiu uma apalpadinha no seu traseiro com o seguinte comentário:

-Tá ficando com a bundinha mole, Belinha... deixa de preguiça e começa a se cuidar..

Belinha olhou para o abajur de metal e se imaginou martelando a cabeça de Artur até ver seus miolos espalhados pelo travesseiro!

Depois se viu pulando sobre o tórax dele até quebrar todas as costelas! Com um alicate de unha arrancou um a um todos os seus dentes depois deu-lhe um chute tão brutal no saco, que voou espermatozóide para todos os lados!

Em seguida usou a técnica que aprendeu num livro de auto-ajuda: como controlar as emoções negativas.

Respirou três vezes profundamente, mentalizando a cor azul, e ponderou.
Não ia valer a pena, não estamos nos EUA, não conseguiria uma advogada feminista caríssima que fizesse sua defesa alegando que assassinou o marido cega de tensão pré-menstrual...

Resolveu agir com sabedoria.

No dia seguinte, não levou as crianças ao colégio, não fez um supermercado rápido, nem brigou com a empregada.
Foi para uma academia e malhou duas horas..
De lá foi para o cabeleireiro pintar os cabelos de acaju e as unhas de vermelho.
Ligou para o cliente novo insuportável e disse tudo que achava dele, da mulher dele e do projeto dele.

E aguardou os resultados da sua péssima conduta, fazendo uma massagem estética que jura eliminar, em dez sessões, a gordura localizada.

Enquanto se hospedava num spa, ouviu o marido desesperado tentar localiza-lá pelo celular e descobrir por que ela havia sumido.
Pacientemente não atendeu.
E, como vingança é um prato que se come frio, mandou um recado lacônico para a caixa postal dele.

- A bunda ainda está mole. Só volto quando estiver dura.

Um beijo da preguiçosa...

(Extraído do livro: Este sexo é feminino /Patrícia Travassos)

A PORRA BAIANA

Gente... Não sou fã de publicar textos alheios. Mas recebi esse e-mail e achei minha cara. Quem me lê com alguma periodicidade já me viu escrever mil PORRAS. Agora achei uma explicação gramatical no dicionário baianês da Internet. Não se assuste, tá? Isso é real...

PORRA - A palavra mais rica do dicionário baiano. Esta versátil palavra pode mesmo ser considerada um curinga da língua portuguesa, principalmente, em Salvador/BA.

Veja os exemplos a seguir:

1)PORRA pode ser utilizada para várias situações cotidianas:
- Se você toma um susto: POOORRA!
- Se você vê um amigo: legal te ver, PORRA ou Você sumiu PORRA!
- Se você adimira algo: POOOORRA!
- Se você está indignado: Que PORRA!
- Como adjetivo: Você é uma PORRA!
- Pra mandar alguém se acalmar: Queta PORRA!
- No diminutivo, pode ser elogio: Gosto muito de você, seu PORRINHA!

2) Como indicação geográfica:
- Onde fica essa PORRA?
- Vá pra PORRA!
- 18:00h - vou embora dessa PORRA!

3)Sentido de quantidade:
- Trabalho pra caramba e não ganho PORRA nenhuma!
- Isso é caro pra PORRA!
- Ela mora longe pra PORRA!
- Ela é bonita pra PORRA!

4)Substitui qualquer objeto:
- Não se enxerga PORRA nenhuma!
- Não ganhei PORRA nenhuma de presente!
- Vou "picar" a PORRA!(sinônimo de jogar)
- Deixa essa PORRA aí!

5)Para qualificar determinada ação:
- O Bahia e o Vitória não estão jogando PORRA nenhuma!!!
- O governo Lula está uma PORRA!

- Para você ter lido até aqui, é sinal que não está fazendo PORRA nenhuma...

Não me mande ir para a PORRA, tá? Pois ainda não descobri onde fica.

sábado, 17 de outubro de 2009

MEUS TRÊS ESTADOS

Semana passada, avisei que estaria pegando a estrada e retornando com algumas fotinhas. Eis aí o motivo de minha euforia.


Estava super ansiosa para conhecer esse lugar. Acreditem: sentir o peso da água batendo na cabeça, numa cachoeira, recarrega todas as energias.

Eram 6h da manhã do sábado. Minha amiga que estava indo se encontrar comigo sofreu um acidente na estrada. O carro capotou e ela teve duas fraturas na coluna. Desesperei. Comecei a ligar para o plano de saúde para ver hospitais na região, ambulância, etc. Primeira dica: se puder, evite viajar à noite. O dia facilita muita coisa numa hora dessas. Não haviam hospitais capacitados para atendê-la na região e um amigo conseguiu sua remoção até a capital. Fez uma cirurgia na coluna e está bem. Graças a Deus.

Não consegui dormir mais e tinha que estar pronta para começar a trilha às 8h. Sem fome, fui para o desejum. Como tinha uma caminhada longa, e mastigar logo cedo não é fácil para mim, optei por comer frutas, iogurte e leite. Tinha uma fruta meio verde meio madura. Provei e gostei. Comi muito e com gosto. Pensei: “Geração saúde. Êaaaaa!!!”. Segunda dica: não mude radicalmente seus hábitos alimentares, pois o corpo sente e, o pior, reage.

Pegamos o asfalto. 44 km de estrada de barro, até chegarmos em uma fazenda, e mais 3,5 km caminhando até chegar à Cachoeira do Mosquito. A casa seria nosso ponto de apoio no retorno para banho e almoço. Chegando lá, uma senhorinha muito fofa tinha preparado um suco de maracujá do mato. Achei a cor verde extrato de folha linda e tomei, pelo menos, meio litro. Era bom demais!

Câmera a postos, demos início à caminhada. Paramos algumas vezes para fazer algumas imagens, pegar algumas entrevistas com o guia e, nesse meio tempo, meu estômago começou a revirar. Eram gases. Ao ar livre não tem problemas, pensei. Seguimos com meu estado gasoso.

No meio do mato descobrimos uma prainha de água cor avermelhada. Paramos para outra gravação. O guia explicou que a areia era branca porque um dia ali já tinha sido mar e a água era daquela cor devido a uma substância da raiz das plantas que tinha efeito laxante. Nem passei perto da água. Vai que ela entranha na minha pele e provoca uma situação. Mas só de ouvir a palavra L A X A N T E, meu intestino deu um nó de marinheiro.

Percebi que a fase gaseificada da brincadeira tinha acabado e que a qualquer momento o estado das coisas poderiam se tornar mais sólidos. Comentei que estava com dor de barriga e me mandaram fazer uma parada rapidinha no mato. Me recusei. “Uma lady não vai ao mato. Posso esperar”. A galera ainda me abusou dizendo que eu tinha bebido água da prainha econdido. Dica número 3: ouça os mais experientes.

Ainda faltava pouco mais de 1km para chegar ao destino. Para minha sorte, era uma descida. Para baixo, todo santo ajuda. O caminho foi ficando apertadinho e mais íngreme. Chegou uma hora que só conseguíamos descer segurando nas árvores. Com equipamento o trabalho dobra, mas já estávamos ouvindo o barulho da queda d’água. O eco dos nossos gritos mais pareciam alguém respondendo. Alguém, dentro de mim, também queria gritar.

Minha fase empolgação já tinha mudado para preocupação. A fisionomia estava visivelmente alterada. A vontade estava virando dor e... Chegamos! Esqueci tudo, gravei a parte final da matéria e passei uns 15 minutos tomando banho de cachoeira. Como disse, é revigorante. Nos faz até esquecer os problemas, alivia as dores, viver vale mais a pena. O mundo é lindo. A Chapada Diamantina é linda. Hora de voltar.

Se para baixo todo santo ajuda, para cima o diabo cutuca. Quando comecei o caminho de volta meus metrinhos de intestino me lembraram que eles existiam e tinham vontade própria. Sozinhos, eles deram mais um nó e eu me agachei de dor. Ficar agachada não dava, era muito propenso a um resultado óbvio. Levantei com a mesma rapidez e comecei a gritar. “Ai, ai, ai, ai”. O pessoal ficou super preocupado e insistiu para eu usar o mato. “Não, não, não, vamos nessa, eu agüento”. Franzi a testa – ninguém contesta alguém com cara carrancuda –, liguei um motorzinho nas pernas e fui.

Na volta, o sol tinha esquentado e eu suava um suor frio, pegajoso. Sentia cólicas abdominais que iam e viam como contrações de um parto. Quase foi. Eu concentrei na dor, fiz respirações contadas, me distanciei do grupo e andei com uma vontade que nunca tinha tido na vida. Vez ou outra as contrações vinham e eu tinha que parar, meus olhos enchiam de lágrimas, eu respirava e continuava.

Quando cheguei à fazenda, o guia – que tinha chegado antes de mim – veio cheio de dentes brincar, perguntar como eu estava, se tinha gostado da caminhada. Meu olhar foi tão, mais tão, fulminante que ele apenas segurou minha mão e me guiou até a porta do banheiro. Ele devia ter mandado a galera evacuar a área. Era meu estado sólido se concretizando.

Fiquei, pelo menos, dois quilos mais leve. Agora eu já não transpirava, meu suor saia dos poros como se eu fosse um chuveiro ambulante. Era minha fase líquida. Eu estava me tremendo. Liguei o chuveiro e fiquei uns 5 minutos me recuperando. A água batia na cabeça e eu lembrava da cachoeira. Aquela vozinha aqui dentro perguntava: se o homem inventou a fotografia e eu já tinha visto a cachoeira, que inferno eu fui fazer lá?

Refeita, me arrumei e agora meu dilema era outro: o pessoal almoçava lá fora enquanto eu derrubava o muro de Berlim ali dentro. A poeira, com certeza tinha subido. E a vergonha? Como havia dito, nenhum ser humano normal será capaz de dizer nada a alguém com cara carrancuda. Saí do banheiro com fisionomia de monstro e fui tomar um ar.

Dica número 4: nem sempre vale a pena ser uma lady. Leve papel higiênco para o mato e seja muito mais feliz. Ninguém comentou nada, mas eu ri horrores quando descobri que a fruta meio esverdeada do café-da-manhã era mamão.

Mais algumas fotos da viagem. Pela fisionomia, sem dores de barriga.
Morro do Pai Inácio. Subi, sem guia, às 17h. Não teve sol no dia, então não perdi o espetáculo. Em baixo as crinaças do grupo de capoeira de Ailton Carmo, o ator do filme Besouro.
Depois da entrevista tirei uma fotinha com o rapaz. Descobri que ele nunca tinha sonhado em ser ator e que joga capoeira desde criancinha, quando também aprendeu a guiar os turistas pelos pontos turísticos da região para ajudar na renda da família. Quando digo guiar não é levar até ali. É entrar no mato e caminhar horas ou dias sem que a pessoa se perca ou entre em frias. Foi morar na Bélgica e, quando voltou, empurraram ele para o teste. Passou e agora será a lenda da capoeira brasileira, o Besouro. Vê-lo jogar é de arrepiar e me contou que espera que, com o filme, seus alunos - que são quase 300 na região - se interessem mais pela capoeira.

Abaixo é a prova, para mim, de que seres de outros planetas já visitaram nossa Terra. Este é um paredão que foi recetemente descoberto na Serra da Paridas, em Lençóis, Bahia. É uma pintura rupestre verdadeira comprovada pela Faculdade de Arquelogia da UFBa. Os testes de referência de data ainda não saíram, mas mostra (pelo círculo acima da cabeça do ser e formas do corpo) que os nômades dos tempos das cavernas tiveram experiências ufológicas.

Acho que foi história demais para uma viagem só e hoje foi meu primeiro dia de não trabalho desde o dia 05/10. Depois dizem que baiano é preguiçoso...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?

Que eu sou uma pessoa extremamente mal humorada todos já sabem. Não há novidades em reafirmar isso. Mas hoje não estou assim. Meus sentimentos vão além. Bem além. Logo escreverei sobre as novidades de uma viagem muito legal, mas, neste momento, um sentimento estranho paira sobre mim. É que alguém próximo, mas ao mesmo tempo distante, se foi.

Não tenho referência de heróis, pois não acredito nas peripécias deles. Mas algumas pessoas se destacam na vida e estas merecem ser lembradas.

Quando era criança, tinha um menino da mesma idade que eu que “apareceu” aqui na rua. Ele era tão criança quanto eu, mas não brincava muito. Trabalhava enquanto eu me divertia. Era muito negro, muito jovem e apaixonado por bicicletas. Para ganhar a vida, lavava carros. Domingo à tarde, quando todos voltavam da praia com os carros sujos e cheios de areia seu sorriso ficava largo. Ao contrário de muitos, sua cor e sua procedência não o incomodavam, era motivo de orgulho.

Cresci vendo aquele menino lavar carros. Nunca foi uma pessoa com quem eu tive uma relação de proximidade, mas sempre foi alguém que me serviu de referência de obstinação, de boa conduta. Se eu tivesse nascido na mesma condição que ele não sei se teria trilhado o mesmo caminho que o seu.

A família morava no “lixão” da cidade. Em busca de uma vida diferente, abandonou a família e se dedicou a outra atividade. O que teria sido mais fácil? Entrar para a vida do crime ou trabalhar em busca de uma melhoria de vida? Ele optou por trabalhar... Cresceu lavando carros, começou a fazer faxina nos prédios da rua, comprou uma pequena casa e teve uma vida digna. Foi uma das poucas pessoas para quem confiei entregar a chave do meu carro sem medo de perder qualquer coisa que havia ali dentro. Não que meu carro tenha muito valor. Longe disso. A confiança que tinha nele tinha sido conquistada ao longo de anos.

Ele era um rapaz honesto. Digo ERA por que ele se foi hoje. Foi atropelado sabe-se Deus por quem. O motorista da van fugiu e o deixou com várias fraturas expostas ao chão.

De família pobre, foi levado a um hospital público. Sem condições, o hospital não tinha vaga em uma UTI, o que também não lhe garantiria recuperação. Ele não resistiu aos ferimentos e se foi.

Estou infinitamente triste. Um dia, quando eu ainda era estudante, uma professora pediu que escrevêssemos o perfil de uma pessoa com história de vida e resolvi entrevistá-lo, para conhecer mais aquela pessoa que sempre vi, mas nunca soube a real procedência. Daí descobri muitas coisas sobre aquele rapaz, que na verdade era bem mais velho que eu e já tinha conquistado muito mais coisas do que eu teria sido capaz...

Descobri que tinha muitos planos, um brilho nos olhos que eu não era capaz de ter. Ele se sentia um vencedor. Não por ter ficado rico – até porque não ficou - mas porque sobreviveu a um mundo cruel sem caminhar pelo caminho mais fácil: o da criminalidade.

Hoje olho para mim e pergunto: porque lutamos tanto por coisas que não nos levarão a lugar algum? Temos tanto orgulho de quê? Para que queremos ser os melhores? Para que perdemos tanto tempo tentando impressionar pessoas que não nos merecem? Porque dedicamos tão pouco tempo a coisas e pessoas que nos farão mais felizes de verdade? Para quem esse rapaz vai fazer falta?

Estou derramando lágrimas pela sua vida. Não são lágrimas de tristeza. Uma pessoa me mostrou que é possível mudar do quase nada para algum lugar. Um lugar que nunca esperou chegar.

Não tenho respostas para meus questionamentos. Apenas estou muito triste. Muito triste... Não tenho heróis, mas posso dizer que conheci pessoas que venceram na vida.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

VIDA DE NÊGO É DIFÍCIL

Feriadão na porta, quinta-feira de tarde nem dá mais vontade de trabalhar. O real desejo é quebrar as correntes e sair correndo em busca da carta de alforria que Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, nos concedeu. Ao contrário de muitos de vocês, vou trabalhar o final de semana inteiro. Mas... Não fiquem tristes por mim. Quando a gente ama o que faz – mesmo ganhando pouco – o trabalho vira diversão e a vida fica mais bela.

Eu não ia contar, pois acho que vocês vão dizer que essa vida de trabalhar em televisão é mamata. Mas não é. Acreditem. Estou de malas prontas para a cidade de Lençóis, na Chapada Diamantina. É o 11º Festival de Lençóis. Não tem nenhuma mega atração musical, mas o lugar, por si só, já é a atração.
Mas, como disse, vida de produtora de televisão não á fácil. Você ficaria com a TV ligada para ver a mesma coisa que viu há um ano no mesmo canal? Agora, imagine que outras equipes de televisão já foram lá centenas de vezes! O que eu posso mostrar sem ser repetitiva? É a arte de reinventar o já inventado e ainda conseguir segurar a audiência. Como sabiamente percebeu o francês Antoine Lavoisier, na natureza – e em televisão - nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Somos um tipo de comunicação em eterna mutação.

Passei a semana pesquisando pautas, conversando com pessoas – via telefone - no interior para descobrir novas coisas, novos olhares e como mostrar essas coisas que outras pessoas já olharam. Mas, quem conhece a Chapada nunca vai se cansar de ver novamente e quem nunca foi lá morre de curiosidade ver tudo.
Viajo na sexta às 8h. Serão 409km de poeira que devemos fazer em 6h. Vou levar os livros de inglês para estudar no carro, o lap top para ver “Os Normais” – a série – até chegar ao destino final.

Assim que pisar meus pezinhos naquele paraíso, minha primeira parada prevista será em um dos lugares mais belos que já visitei. Chama-se Morro do Pai Inácio. São 1.120 metros de altitude e 250 metros de altura. É de lá que se tem a visão mais completa e bonita da Chapada.

O Morro leva esse nome em homenagem a Inácio, que, segundo conta a lenda, era um escravo que namorava a filha do seu senhor. Perseguido pelos capangas do coronel Horácio de Matos, Inácio teria subido o morro e, sem ter para onde fugir, teria pulado com um guarda-chuvas aberto. Segundo a tradição popular, o escravo conseguiu sobreviver e escapou pelo vale.

Lá no Morro, vamos entrevistar o ator de um filme brasileiro que vai estrear no próximo dia 30 de outubro. Besouro. Um dos filmes brasileiros que estará concorrendo à vaga para concorrer ao próximo Oscar de melhor filme estrangeiro. Vocês já devem ter visto o trailer e é lógico que não vi o filme ainda, mas, confiram abaixo, acredito que é um forte candidato a estatueta.



Bem... Não vou contar, agora, minha previsão para a viagem toda. Assim perde a graça. Mas vou fazer o possível para postar de lá. Na pousada já me avisaram que a Internet só funciona na área da piscina e eu acredito que, nesse lugar, não vou ficar tomando sol de cloro, né?

domingo, 4 de outubro de 2009

BAGUNÇA ORGANIZADA

Tem certas coisas que precisamos passar na vida para adquirirmos experiência e não passarmos pela mesma situação uma segunda vez. Como, por exemplo, estacionar o carro em um lugar, espertamente olhar para conferir a localização e, quando voltar, descobrir que existem mais cinco lugares igualzinhos. Explico.

Domingo à noite, a caminho de um restaurante, resolvi fazer uma parada emergencial num shopping para matar a saudade de um amigo. Ao travar a porta, olhei para a coluna ao lado: G1-D. Não demorei nem 20 minutos. Foi só o tempo de contar duas fofocas, dar dois beijos e tchau, pois tinha um casal de amigos esperando para uma comidinha mexicana. Desço eu cantarolando “vou passear na floresta, enquanto seu lobo não vem...” e começo a procurar o bendito do carro.

De início fui passando o olho despretensiosamente, meio que caminhando com a certeza de que já já chegaria, pois tinha marcado o lugar. Quando olhei atenciosamente ao redor me dei conta da merda em que estava metida.

O estacionamento foi organizado em alas marcadas por cores e letras. Eram 5 cores: azul, verde, amarelo lilás e vermelho. Cada cor vinha acompanhada por uma letra: A, B, C, D, E e F. Ou seja: meu carro tinha 5 possibilidades de lugar para estar, pois eu tinha certeza que estava no G1-D. Mas que cor???

Falando assim até parece simples. Era só caminhar e procurar. Não era. A distância de uma letra para a outra era monstruosa, ainda tinha que mudar de cor até começar tudo de novo e eu já estava passando mal de calor.

Revoltada, comecei a me perguntar por que infernos o demente que projetou aquilo tinha 23 letras para explorar e resolveu complicar a vida de meio mundo de gente usando apenas 6.

Caminhei de um lado para o outro feito uma barata correndo de pizão, olhei o G1-E e no G1-C, que eram os mais próximos do D. Quem sabe eu podia ter me confundido de letra, né? Não custava tentar. Mas nada. Eu andava, andava, andava e quando via já estava na letra A e B. Eram mais de mil carros. Só no G1 e eu vi uns 10 irmãos do meu. Nisso já tinha se passado uns 20 minutos de peregrinação e meus amigos me esperando no restaurante.

Quando meu olho encheu de água, senti vontade de sentar no chão e chorar. Não era só chorar. Eu queria bater o pé, jogar a bolsa no chão, xingar o retardado que pensou que aquela idéia pudesse ser boa e também o acéfalo que aprovou aquela putaria organizada. E se tivessem roubado meu carro? Resolvi pedir ajuda.

Procurei um segurança e, antes de eu abrir a boca, notei que tinham mais 2 pessoas na mesma situação que eu. Passei a placa do carro, cor e provável localização para os rapazes de moto darem uma olhada. Nisso já tinha se passado meia hora e eu morrendo de vergonha de ligar para o casal e avisar: “Olha, me atrasei porque perdi meu carro no estacionamento do shopping!”. Atestado de insuficiência mental. Não dava. Segurei mais um pouco.

Tinham uns 3 motociclistas por “G” para ajudar os clientes. Eles rodaram, rodaram e nada de meu carrinho. Como eu não ia conseguir ficar parada olhando, fui procurando também. Mais 15 minutos e nada do carro brotar. Daí um dos rapazes da moto veio falar comigo. “Ô moça... A senhora tem certeza que estacionou no G1?”. Juro que fiquei receosa de dizer que tinha. Mas eu tinha!!! E se eu tivesse me confundido??? “Moço... Eu não certeza mais de nada. Só sei que entrei nesse inferno desse shopping”.

Via rádio, pediram reforços aos seguranças e motociclistas do G2. Eu já estava morrendo de vergonha, imaginando que iam achar meu carro no outro estacionamento e que ririam horrores da cara da “mulher retardada que nem sabia onde havia largado o carro”. Nada do veículo no G2. Ferrou. “Meus Deus! O que eu fiz com esse carro?”.

Já com cara de impaciente, um deles, que parecia o exterminador do futuro feito de metal líquido (lembram?), me perguntou por onde eu tinha entrado. Disse que, desde o início, já havia explicado para o segurança que tinha entrado pelo acesso 3. “A senhora lembra qual loja viu primeiro quando entrou no shopping?”. Me senti mais anta ainda. “Não moço, eu olhei e gravei a identificação da localização. Achei que fosse suficiente, mas não é.”. Expliquei, mais ou menos, meu percurso até achar uma vaga no que ele exclamou um ar de sabe-tudo da estrela: “Ahhh... Seu carro deve estar lá no setor lilás... Se a senhora tivesse me falado antes... Espera aqui que eu vou lá ver”.

Depois de uma hora, o dito estava certo. Meu humilde possante estava no setor lilás, na área D, como eu havia observado. O motociclista me passou uma olhada de maníaco do parque nas pernas e sugeriu: “Da próxima vez, moça, procure a pessoa certa pra lhe ajudar, pode ser tudo mais prático, viu?”. Só faltou piscar o olho.

Eu mereço?

Resumo da missa: o casal me ligou no meio do bafafá, eu estava mega estressada, contei o que estava acontecendo e eles me chamaram de lerda, disseram para eu parar de beber e, quando cheguei lá, tive que aturar eles me olharem com cara de “admita que você é lerda, vá”.

Não sei o que me deu mais ódio: a putaria organizada do estacionamento, a olhada do homem da moto ou a cara de idiota de meus amigos.